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COOPERATIVISMO

- Publicada em 30 de Junho de 2023 às 00:10

RS tem 1/3 da população associada ao cooperativismo

Hartmann observa que, apesar do bom desempenho, segmento agro foi muito afetado pela estiagem no RS

Hartmann observa que, apesar do bom desempenho, segmento agro foi muito afetado pela estiagem no RS


/TÂNIA MEINERZ/JC
Não é pouca coisa: cerca de 1/3 da população do Rio Grande do Sul é associada ao cooperativismo, seja através de um serviço de crédito, saúde, agropecuária ou outro. Com uma população de aproximadamente 12 milhões de pessoas, 3,5 milhões dos moradores do Estado se relacionam com o segmento.
Não é pouca coisa: cerca de 1/3 da população do Rio Grande do Sul é associada ao cooperativismo, seja através de um serviço de crédito, saúde, agropecuária ou outro. Com uma população de aproximadamente 12 milhões de pessoas, 3,5 milhões dos moradores do Estado se relacionam com o segmento.
Para Darci Hartmann, presidente do Ocergs-Sescoop até 2026, sistema que representa a categoria, 50% de toda atividade agropecuária gaúcha integra o cooperativismo. “Estamos mostrando nossa pujança mesmo com a atividade econômica do Estado regredindo, com avanço de 14,9% de faturamento no ano passado”, mensura.
Ele admite, no entanto, que há uma série de desafios a serem superados. Entre eles, mais um ano de seca. “Isso gerou uma dificuldade muito grande ao produtor, pois, para muitas regiões, é o terceiro ano de estiagem. Essa dificuldade impacta nas cooperativas agropecuárias, então, precisamos buscar repactuação desses débitos”, avalia.
O assunto, segundo Hartmann, avança em reuniões em Brasília. A intenção é que, com a questão financeira resolvida, o produtor cooperado tenha tranquilidade para plantar.
O cooperativismo, para o executivo, tem diversas pontas: a de envolvimento com a comunidade e valorização dos associados, além do comprometimento em sobreviver como empresa e competir com concorrentes nacionais e internacionais.
Nesta entrevista, Hartmann, 70 anos, fala mais sobre o cenário atual do setor no Rio Grande do Sul. Ele trabalha no ramo há mais de 50 anos e é, também, vice-presidente da CCGL. Aos 17 anos, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade de Selbach, onde se criou e iniciou sua relação com o modelo econômico.
Jornal do Comércio – Como funciona o modelo do cooperativismo?
Darci Hartmann – É o sistema mais inclusivo que existe. Se você analisar, todos os resultados são distribuídos entre os associados proporcionalmente a sua participação. Então, todos os associados têm direito a participar das discussões, das decisões que acontecem dentro dos processos. Somos organizações para gerar sobras, e essas sobras são distribuídas entre todos os associados. Na reforma tributária, temos que ter uma atenção muito grande para que não se percam as condições da atividade.
JC – Esse é o seu segundo ano à frente do Ocergs-Sescoop, quais os desafios do setor neste período?
Hartmann - No primeiro meio ano, buscamos uma reestruturação interna no sentido de criar foco, buscar profissionais realmente adequados para que a organização realmente pudesse ser uma alternativa política, social e de representação de todas as cooperativas do Rio Grande do Sul. A partir disso, começamos a fazer um trabalho muito intenso de representação da organização a nível nacional, pois estava muito ausente.
JC – Como foi o ano de 2022 para o cooperativismo?
Hartmann - Cresceu dois dígitos por mais um ano, com investimentos de R$ 1,4 bilhão, faturamento de R$ 80 bilhões e empregando 75 mil pessoas. Este ano tem um desafio maior porque nós estamos vindo de uma seca, gerando uma safra com preço caro. Por exemplo, uma tonelada de adubo no ano passado custava R$ 6 mil. Esse ano, custa R$ 3,2 mil. Plantamos com custo alto e colhemos com uma cotação baixa. Então, essa conta não fecha. E é isso que levamos ao Governo Federal. O Brasil tem uma superoferta de soja, é a menor exportação de todos os tempos. Pelo preço baixo, o produtor não colhe e estoca.
JC – A que se deve esse crescimento recorrente de dois dígitos?
Hartmann - O cooperativismo cresceu muito no primeiro ano da pandemia pela necessidade de a população estocar alimentos. Mas o preço de alimentos sobe na crise e baixa na normalidade da atividade econômica. A sensação de insegurança alimentar faz as pessoas buscarem produtos e os estocarem em casa.
JC – Quais os investimentos em capacitação dos profissionais?
Hartmann - Estamos trabalhando muito forte no projeto RSCOOP150. Prevemos R$ 150 bilhões de faturamento em cinco anos e R$ 300 milhões de investimentos para formação, profissionalização, gestão, capacitação de diretores, conselheiros e gestores das cooperativas. Ele funciona no sentido de olhar menos o social e olhar muito mais o profissional. A gente entende que se você tem o econômico resolvido, você tem condições de fazer o social.
JC – Como é o apoio do governo do RS ao cooperativismo?
Hartmann - Estamos vencendo as dificuldades gradativamente, mostrando a nossa importância. O governo não nos olhava porque nós também não buscávamos essa interação. Temos trabalhado muito forte com a Secretaria da Agricultura, Secretaria de Desenvolvimento, Casa Civil e com o vice-governador. Na Assembleia Legislativa, também é feito um trabalho e hoje a visão do governo já está mudando em relação ao sistema cooperativo.
JC - Em termos de tecnologia, como está o trabalho das cooperativas?
Hartmann - Se olharmos hoje, as maiores feiras agropecuárias do Rio Grande são de cooperativas (Expodireto e Expoagro Cotricampo), com exceção da Expointer, que é do Estado. Outro exemplo é a Rede Técnica Cooperativa (RTC), que oferece informações para o agro com uma assertividade muito grande, com mais agilidade do que a própria Emater. E isso não tem um centavo do Estado.
JC – Que outras demandas precisam ser trabalhadas?
Hartmann - A industrialização. Temos que, cada vez mais, reduzir a venda de matéria-prima para vender produtos industrializados.
JC – As crises na Languiru e Piá são pontuais? Que desfecho enxerga?
Hartmann - Temos 371 cooperativas associadas, apenas duas em crise. É consequência da crise da proteína animal. No RS se acentuou, pois tivemos dois anos de seca e colhemos metade do milho. Tivemos um custo acessório de trazer o milho de mais longe. Essas marcas fizeram alguns investimentos que aceleraram ou impactaram mais a crise, mas acredito que tem como recuperar as duas.
JC – Como quer encerrar seu mandato?
Hartmann - Como organização, mostrando a todas as cooperativas a importância que elas têm e comunicando à sociedade a importância deste modelo. E, acima de tudo, passar para todos os dirigentes que a saída é uma gestão profissional.