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Resultados positivos demonstram força do cooperativismo em solo gaúcho
Enquanto o mundo espreita crise e recessão no período de guerra e pós-pandemia, as cooperativas crescem e distribuem renda e bem-estar social
Patrícia Lima, especial para o JC
Cooperar é pop. É o que demonstram os números divulgados nessa semana pelo sistema Ocergs/Sescoop no relatório Expressão do Cooperativismo Gaúcho 2022 - Ano-base 2021. O documento revela que cresceu 4,2% o número de pessoas que faziam parte de uma das 423 cooperativas existentes no Estado no ano passado, gerando 8,5% a mais de empregos - ao todo, foram 74,1 mil postos de trabalho em 2021.
Os percentuais e resultados comprovam que quem coopera está mais protegido contra as turbulências na economia e no cenário mundial. As comunidades em que existem cooperativas são mais prósperas e gozam de maior desenvolvimento social.
Prova disso é o volume das chamadas sobras apontado pelo relatório: foram R$ 3,6 bilhões distribuídos entre cooperados e cooperativas de todos os setores, usados para reinvestimentos nos negócios ou simplesmente como renda para os cooperados. O montante representa um crescimento de 20,7% em relação a 2020.
Esse desempenho positivo é impulsionado pela maior força do cooperativismo gaúcho, o setor agropecuário, cujo faturamento representou 71,6% do total dos seis ramos no Rio Grande do Sul. As sobras, que em 2021 foram de pouco mais de R$ 1 bilhão, equivalem a 28,5% do total de recursos sobrantes de todas as cooperativas gaúchas. O resultado animador, segundo o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Paulo Pires, vem na esteira da safra anterior, que bateu recordes de produtividade, associado à valorização dos produtos agrícolas durante a pandemia.
"O Brasil assumiu o protagonismo na produção de alimentos para o mundo e as cooperativas estão totalmente inseridas nesse processo. O setor teve muito reconhecimento na pandemia e respondeu com tecnologia e produtividade para competir no mercado global", ressalta Pires. De acordo com o levantamento da Ocergs, 121 cooperativas das 423 existentes no Estado estão ligadas ao setor agropecuário, que possui 336 mil associados e 40 mil funcionários.
Algumas estão entre as maiores do País e do mundo - caso da Cotrijal, que recentemente celebrou a incorporação da Coagrisol, o que deve totalizar um faturamento de mais de R$ 5,6 bilhões e 22 mil lavouras de soja, milho, trigo e cevada. Pequenas cooperativas também fazem parte desse mosaico do campo, congregando 80% de toda a agricultura familiar.
A maior presença entre as cooperativas locais são as de grãos (61), seguidas pelas de leite (46). Entre as agrícolas que empregam maior tecnologia de industrialização e beneficiamento estão as que produzem carne de suínos e frangos e as de vinho, responsáveis por algumas das mais prestigiadas bebidas elaboradas no Brasil. Ao todo, mais de 1,3 mil técnicos, principalmente agrônomos e veterinários, atuam nas propriedades cooperadas.
As cooperativas ligadas ao campo foram responsáveis por um faturamento de R$ 51 bilhões em 2021, 45,9% a mais do que o resultado do ano anterior. "O agro é um fator originador, pois desencadeia cooperativas em vários outros setores, como crédito, saúde, infraestrutura, transporte e educação. Em função dessa tradição, o cooperativismo é forte e pujante, capaz de construir saídas para reestruturar a atividade econômica em momentos de crise", comenta o presidente do Sistema Ocergs/Sescoop RS, Darci Hartmann.
Para o presidente da Fecoagro, Paulo Pires, o maior desafio das cooperativas agrícolas será manter o crescimento em 2022, já que o cenário é bastante distinto do que se observou no ano passado. O principal entrave é a seca histórica que ocorreu no Rio Grande do Sul, o que deve provocar quebras de 70% na safra de milho e 60% na de soja, afetando em cheio os próximos resultados das cooperativas e no desempenho econômico do Rio Grande do Sul. A guerra entre Rússia e Ucrânia também deverá causar impactos - nem todos negativos, é bom ressaltar.
Ao mesmo tempo em que escasseia a oferta de insumos, como os fertilizantes, o conflito tem potencial para fazer subir os preços dos alimentos, o que favorece o setor. Apesar da onipresença do agro nas estatísticas, não é só de campo que é feito o cooperativismo gaúcho. Outros setores também apresentaram resultados significativos e começam a despontar como promissores.
Proximidade que se revela na crise
Com um crescimento em todos os indicadores, destaque para o número de associados, que pulou de 2,1 milhões para 2,3 milhões, e montante de sobras, que saltou impressionantes 44,4%, de R$ 1,4 bilhão para R$ 2,2 bilhões de um ano para o outro, o cooperativismo de crédito é a expressão máxima da reinvenção do sistema, sua adaptação para a vida urbana, sem que se perca a essência. Fazendo um movimento contrário ao dos bancos convencionais, que fecham agências e operam digitalmente para cortar despesas, as cooperativas financeiras arrebanham associados em busca de proximidade e humanização. E, é claro, taxas mais competitivas, crédito mais facilitado e serviços mais eficientes.
Com 27 anos de história, a Cresol nasceu no interior do Paraná e hoje está presente em 17 estados, com produtos destinados a públicos variados, de microempresas a pessoas físicas. Com forte atuação no Rio Grande do Sul, tem entre 55% e 60% de sua carteira de crédito aplicada no agro.
Como em todos os outros setores, a chegada da pandemia chacoalhou a operação, especialmente nas agências. Mas o que era desafio se tornou oportunidade. Por um lado, o plano de acelerar as operações nos canais digitais foi antecipado: as transações online, que representavam cerca de 5% do total da instituição, passaram a representar 30% nos últimos dois anos. Por outro, enquanto os bancos convencionais limitavam os canais de atendimento, a Cresol passou a investir tempo e inteligência para compreender as necessidades dos cooperados, prestando o atendimento mais humanizado possível.
O resultado foi um crescimento de 45% em 2020 e algo próximo disso também em 2021. Nos momentos de crise, o sistema financeiro convencional se protege, aumentando as taxas de juros e reduzindo os prazos das operações. Nas cooperativas, a lógica é inversa. "O desafio do cooperativismo é dar as respostas de que o associado precisa, de modo que ele não sinta todo o impacto das crises. Essa dimensão humana é a maior força do cooperativismo", afirma o presidente do Sistema Cresol, Cledir Magri.
Com potencial para oferecer aos associados todos os serviços de um banco tradicional, as cooperativas financeiras têm compromissos que vão além do lucro - lucro, aliás, não é um conceito que caiba no modelo cooperativista, que, ao contrário, tem resultados, divididos entre os cooperados ao final de cada exercício. Um desses compromissos é trabalhar pela educação financeira das pessoas, para que elas planejem melhor seus gastos e investimentos e, dessa forma, a inadimplência caia, beneficiando a própria cooperativa. É o que tem feito a Cecresul, central fundada em 1999 para reunir 10 cooperativas de crédito do Rio Grande do Sul. Para o presidente, Leonel Cerutti, a aposta no relacionamento com os cooperados vai além das questões pontuais. "Queremos que as comunidades vejam a sua cooperativa como mola propulsora do desenvolvimento coletivo e pessoal, pois de nada vale a cooperativa crescer sem fazer crescer também as pessoas", salienta Cerutti.
Com as bases fincadas nos princípios do cooperativismo, a Cecresul se consolidou nos mercados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná - o próximo passo será o estabelecimento em Rondônia. Em 2021, teve um crescimento de 18,37% no patrimônio líquido, 10% no número de cooperados e impressionantes 80% nos resultados.
Com 27 anos de história, a Cresol nasceu no interior do Paraná e hoje está presente em 17 estados, com produtos destinados a públicos variados, de microempresas a pessoas físicas. Com forte atuação no Rio Grande do Sul, tem entre 55% e 60% de sua carteira de crédito aplicada no agro.
Como em todos os outros setores, a chegada da pandemia chacoalhou a operação, especialmente nas agências. Mas o que era desafio se tornou oportunidade. Por um lado, o plano de acelerar as operações nos canais digitais foi antecipado: as transações online, que representavam cerca de 5% do total da instituição, passaram a representar 30% nos últimos dois anos. Por outro, enquanto os bancos convencionais limitavam os canais de atendimento, a Cresol passou a investir tempo e inteligência para compreender as necessidades dos cooperados, prestando o atendimento mais humanizado possível.
O resultado foi um crescimento de 45% em 2020 e algo próximo disso também em 2021. Nos momentos de crise, o sistema financeiro convencional se protege, aumentando as taxas de juros e reduzindo os prazos das operações. Nas cooperativas, a lógica é inversa. "O desafio do cooperativismo é dar as respostas de que o associado precisa, de modo que ele não sinta todo o impacto das crises. Essa dimensão humana é a maior força do cooperativismo", afirma o presidente do Sistema Cresol, Cledir Magri.
Com potencial para oferecer aos associados todos os serviços de um banco tradicional, as cooperativas financeiras têm compromissos que vão além do lucro - lucro, aliás, não é um conceito que caiba no modelo cooperativista, que, ao contrário, tem resultados, divididos entre os cooperados ao final de cada exercício. Um desses compromissos é trabalhar pela educação financeira das pessoas, para que elas planejem melhor seus gastos e investimentos e, dessa forma, a inadimplência caia, beneficiando a própria cooperativa. É o que tem feito a Cecresul, central fundada em 1999 para reunir 10 cooperativas de crédito do Rio Grande do Sul. Para o presidente, Leonel Cerutti, a aposta no relacionamento com os cooperados vai além das questões pontuais. "Queremos que as comunidades vejam a sua cooperativa como mola propulsora do desenvolvimento coletivo e pessoal, pois de nada vale a cooperativa crescer sem fazer crescer também as pessoas", salienta Cerutti.
Com as bases fincadas nos princípios do cooperativismo, a Cecresul se consolidou nos mercados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná - o próximo passo será o estabelecimento em Rondônia. Em 2021, teve um crescimento de 18,37% no patrimônio líquido, 10% no número de cooperados e impressionantes 80% nos resultados.
O sonho de um mundo mais cooperativo
"Cooperativas constroem um mundo melhor." Esse é o lema do Dia Internacional das Cooperativas, que há 100 anos se celebra no primeiro sábado de julho. Comemorado desde 1923 ao redor do mundo, o Dia Internacional foi oficialmente proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1995. Com a hashtag #CoopsDay sendo impulsionada no mundo todo, o objetivo da celebração é divulgar as cooperativas e promover as ideias de solidariedade internacional, eficiência econômica, igualdade e paz mundial. Em seu site, a ONU convida todas as cooperativas a celebrarem a data, disseminando os ideais que, segundo o secretário-geral, António Guterres, abrem caminho para um futuro inclusivo e equitativo.
Há mais de 2,6 milhões de cooperativas espalhadas pelo globo, que geram 250 milhões de empregos e envolvem mais de 1 bilhão de pessoas em mais de 100 países. O Brasil tem 6,7 mil cooperativas, que empregam 372 mil pessoas e congregam 13,2 milhões de associados. Dados estatísticos revelam que quase 25% da população brasileira é ligada à iniciativa - você, enquanto lê esta reportagem, já pensou quem do seu convívio está de alguma forma ligado a uma cooperativa?
No Rio Grande do Sul, esse percentual é de impressionantes 74,5%, de acordo com informações do Sistema Ocergs/Sescoop. Quase oito em cada 10 gaúchos é cooperado ou está ligado de alguma forma a entidades como essas. Por definição, o cooperativismo é um modelo econômico-social que gera e distribui riqueza de forma proporcional ao trabalho de cada associado. As atividades econômicas visam a distribuição das riquezas, promovendo o desenvolvimento social.
Na pauta do cooperativismo estão valores humanos como solidariedade, responsabilidade, democracia e igualdade. Segundo o presidente do Sistema Ocergs/Sescoop, Darci Hartmann, mais de 300 iniciativas pelo Rio Grande do Sul irão celebrar o Dia Internacional, com 8 mil voluntários envolvidos em cooperativas de todas as áreas. "É um dia para lembrarmos a importância do cooperativismo e para pensarmos sobre formas de crescer em conjunto. Assim poderemos competir com as grandes empresas mundiais sem perder nossa essência", completa.
Há mais de 2,6 milhões de cooperativas espalhadas pelo globo, que geram 250 milhões de empregos e envolvem mais de 1 bilhão de pessoas em mais de 100 países. O Brasil tem 6,7 mil cooperativas, que empregam 372 mil pessoas e congregam 13,2 milhões de associados. Dados estatísticos revelam que quase 25% da população brasileira é ligada à iniciativa - você, enquanto lê esta reportagem, já pensou quem do seu convívio está de alguma forma ligado a uma cooperativa?
No Rio Grande do Sul, esse percentual é de impressionantes 74,5%, de acordo com informações do Sistema Ocergs/Sescoop. Quase oito em cada 10 gaúchos é cooperado ou está ligado de alguma forma a entidades como essas. Por definição, o cooperativismo é um modelo econômico-social que gera e distribui riqueza de forma proporcional ao trabalho de cada associado. As atividades econômicas visam a distribuição das riquezas, promovendo o desenvolvimento social.
Na pauta do cooperativismo estão valores humanos como solidariedade, responsabilidade, democracia e igualdade. Segundo o presidente do Sistema Ocergs/Sescoop, Darci Hartmann, mais de 300 iniciativas pelo Rio Grande do Sul irão celebrar o Dia Internacional, com 8 mil voluntários envolvidos em cooperativas de todas as áreas. "É um dia para lembrarmos a importância do cooperativismo e para pensarmos sobre formas de crescer em conjunto. Assim poderemos competir com as grandes empresas mundiais sem perder nossa essência", completa.