Uma cooperativa surgida a partir das demandas da comunidade e da necessidade de ajuda mútua. Assim começou o Sicoob, Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, que atua de forma semelhante a um banco. Segundo Maria Luisa Lasarim, diretora Operacional do Sicoob, atualmente são mais de 6,2 milhões de cooperados em todo o Brasil, dos quais 1,2 milhão fazem parte do sistema regional em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
No Estado, a presença é maior na Região Metropolitana de Porto Alegre, mas há um olhar especial para as pequenas cidades, onde o agronegócio é um dos principais motores da economia. O Sicoob está presente em 103 municípios gaúchos e a projeção é abrir 45 unidades até o final do ano, ultrapassando a marca de 100.
Jornal do Comércio - Como é a atuação do Sicoob?
Maria Luisa Lasarim - A atuação é semelhante a um banco. A grande diferença é que cada cooperado é dono e, assim, participa das decisões da cooperativa através das assembleias e dos conselhos de administração que são formados pelos integrantes. As condições de taxas de juros do crédito e de remuneração nas aplicações financeiras são mais atrativas que um banco, já que, no fim das contas, as sobras, que são o nosso "lucro", são devolvidas aos cooperados. Então, não faz sentido "ganhar" cobrando preços altos se, no fim, a cooperativa devolve as sobras para os cooperados.
JC - Por ser uma cooperativa do setor financeiro, de que forma o Sicoob difere dos serviços ofertados por um banco?
Maria Luisa - Pelo modelo de negócio. Outra grande diferença é o que chamamos de ganho social. Significa o que o cooperado deixou de pagar, por trabalhar com a sua cooperativa, e se tivesse operado com um banco. É a diferença de preço nas taxas e tarifas que no Sicoob são mais baixas. No ano passado, a média do ganho social foi de R$ 2,7 mil. Cada cooperado do Sicoob economizou este valor devido à nossa política de precificação, sem contar a devolução das sobras que são a devolução em dinheiro aos cooperados, ou o reinvestimento destas sobras com o aumento do Capital Social.
JC - Quais os produtos oferecidos pela cooperativa e quais podem ser destacados como diferenciais?
Maria Luisa - O Sicoob tem um portfólio completo. Eu destacaria o fato de não cobrar mais que o mercado pois nossas sobras são devolvidas aos cooperados. Nossos juros no crédito são menores, nossa remuneração ao aplicador é mais atrativa que o mercado, nossos juros no cartão de crédito e cheque especial são muito menores que os bancos tradicionais. O produto consórcio tem as menores taxas de administração, assim como nosso plano de Previdência Complementar, o Sicoob Previ, que é exclusivo aos cooperados. Temos uma seguradora própria e uma Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), que nos permitem levar um portfólio completo aos nossos cooperados, no padrão de excelência do Sicoob.
JC - Quais destes produtos tiveram maior procura?
Maria Luisa - Historicamente, o Sicoob surgiu como uma instituição mais dedicada a captar recursos e emprestá-los. Com o fortalecimento do modelo cooperativista, temos o desafio de ser uma instituição completa, ou seja, atender de forma plena todos que desejarem participar da cooperativa, seja assalariado, empresário, autônomo, produtor rural, aposentado, jovens e crianças. No ano passado, sem dúvida, a grande procura foi para créditos e financiamentos. Tivemos uma demanda enorme e conseguimos atender a grande maioria dos negócios prospectados. Nossa expansão física, principalmente para o Rio Grande do Sul, também irá nos demandar como carro-chefe o crédito.
JC - Como foi o desempenho do Sicoob durante os dois anos de pandemia?
Maria Luisa - De forma geral e histórica, o cooperativismo se fortalece nos momentos difíceis. No sistema Sicoob, crescemos de R$ 117 bilhões de ativos totais (dezembro de 2019) para R$ 190 bilhões (dezembro de 2021), representando 62% de expansão. Podemos destacar que a liberação de crédito, no sistema Sicoob, ficou numa proporção bem acima dos bancos tradicionais que "frearam" os recursos. O Sicoob, na contramão do mercado, teve nos dois anos de pandemia 60% a mais de aprovações de propostas de crédito que a média. Fizemos esforços, também, na área de tecnologia para proporcionar o acesso ao SicoobNet e App Sicoob, sem a necessidade do cooperado se deslocar até uma agência para ser atendido.
JC - E como tem sido os resultados agora em 2022, a perspectiva é de melhora nos negócios?
Maria Luisa - Tem sido ainda melhor do que em 2021. Continuamos no nosso ritmo forte de crescimento no número de cooperados, número de agências físicas, depósitos, crédito e negócios de forma geral. Cabe destacar que o Sicoob é uma IF completa, com soluções como previdência complementar própria, consórcios, câmbio, cartões, aeguro, soluções de recebimento e pagamento para os cooperados, além de um portfólio completo de opções de investimentos, poupança e de crédito, incluindo o acesso às linhas de crédito do BNDES. Nossa expectativa é que nossos resultados cresçam minimamente 30%, que tem sido a nossa média nos últimos anos.
JC - De que forma a retração econômica surgida a partir da pandemia contribuiu ou prejudicou os negócios do Sicoob?
Maria Luisa - Com o início da pandemia, tivemos um crescimento muito grande dos investimentos financeiros, assim como o mercado de forma geral. As pessoas, diante das incertezas econômicas, optaram em não fazer investimentos produtivos e então o investimento financeiro de renda fixa ganhou protagonismo. Além do crescimento dos depósitos, no Sicoob, conseguimos aumentar o volume de créditos liberados. Em 2020, o Banco Central permitiu que alongássemos os créditos dos cooperados, criou programas de combate aos efeitos econômicos ocasionados pela Pandemia e o Sicoob é parceiro do governo federal. Temos acesso ao Pronampe, Fampe (Sebrae), além dos demais programas criados ou intensificados nos últimos 2 anos.
JC - Como a melhora na nota de avaliação de risco pela Fitch Ratings contribui para o trabalho?
Maria Luisa - A agência Fitch elevou o Rating do Sicoob no relatório mais recente, publicado em maio de 2022. Em junho de 2021, foi de AA- e agora em maio de 2022 passou para AA. A elevação da nota reflete a melhora do perfil de negócios e de risco do Sicoob, dos controles de governança. Além disso, o aumento do fundo de proteção Sicoob reflete os bons indicadores de qualidade de crédito, rentabilidade, capitalização, liquidez e bons controles dos níveis de risco. A elevação do rating traz maior credibilidade à marca.
Sicoob SC/RS
- Fundação e sede: O Sicoob Central SC/RS nasceu no dia 8 de novembro de 1985. A sede é em Florianópolis (SC)
- Receita: R$ 30,4 bilhões
- Sobras: R$ 828 milhões
- Associados: 1,2 milhão (2021)