Desde sua origem, a cooperativa Sicredi tem atuado lado a lado do agronegócio e da agricultura familiar do Rio Grande do Sul. No ano passado, foi responsável por 44% de todos os contratos de crédito rural do Estado. Fundado em Nova Petrópolis, na serra gaúcha, o sistema tem ampliado cada vez mais as suas fronteiras. Em 2021, inaugurou 220 agências, com destaque para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Pará. Neste ano, a expectativa é de 250 inaugurações. Nesta entrevista, o presidente da Central Sicredi Sul Sudeste, Márcio Port, destaca os resultados recentes da cooperativa, os desafios enfrentados de 2021 para cá e avalia por quais caminhos o cooperativismo deve percorrer para seguir em pleno desenvolvimento.
Jornal do Comércio - Como foram os resultados do Sicredi em 2021 e o que mais impactou o desempenho da cooperativa?
Márcio Port - O Sicredi teve um resultado líquido de R$ 4,7 bilhões e crescimento de 43,6% a nível nacional. Hoje, estamos em 26 estados e no Distrito Federal, com agências em mais de 1,6 mil municípios. Atualmente, somamos cerca de 6 milhões de associados no Brasil. Esse ótimo crescimento do último ano reflete, principalmente, a alta que tivemos na carteira de crédito, que foi de 31%, sendo que no crédito rural, onde somos o segundo maior financiador do País, tivemos uma alta de 41%. Além disso, o índice de inadimplência se manteve baixo em 2021, registrando 0,9%, o que mostra que crescemos em carteira de crédito e mantivemos a qualidade na concessão. Em 2021, também apresentamos um aumento de 14% no número de associados - saindo de 4,9 milhões para 5,6 milhões - e em 15% no número de agências, de 1990 para 2.281. Passamos a atuar em locais em que até então não estávamos, levando o cooperativismo para um número ainda maior de pessoas.
JC - O que pode ser destacado de resultados no primeiro semestre? A perspectiva é de mais um período de crescimento?
Port - O aumento da Taxa Selic, que saiu de 2% para 13,25% ao ano, fará com que o resultado de 2022 seja superior ao de 2021, isto por conta de uma parcela da carteira de crédito ser impactada pela taxa básica de juros, aumentando o faturamento das cooperativas, e pelo fato de as despesas operacionais e administrativas terem aumentado apenas 8% nos últimos 12 meses. Como aspecto positivo, apesar do aumento do resultado, por ser uma instituição financeira cooperativa, no final do ano, uma parcela dos resultados retorna para os associados, compensando em parte o aumento das taxas de juros que o País está enfrentando. Em 2021, em nível nacional, os associados receberam uma devolução de R$ 1,191 bilhão, o que representou 35% do resultado de 2020. Esta tem sido uma média percentual de distribuição de resultados do Sicredi nos últimos anos e é um dos diferenciais do cooperativismo. Também temos visto a continuidade do crescimento nos volumes administrados. No Rio Grande do Sul, crescemos 20% no volume de depósitos e também na carteira de crédito nos últimos 12 meses, o que é um ótimo desempenho neste momento.
JC - As perdas no campo devido à estiagem no Estado acabam tendo algum impacto nas carteiras do Sicredi?
Port - O impacto se deu muito mais no bolso dos produtores rurais do que na carteira de crédito do Sicredi. Nas operações de custeio rural, é normal existir a cobertura de seguro agrícola. Nesses casos, o seguro quita a operação de crédito do associado, desobrigando-o do pagamento. Apenas via Proagro, que é o seguro subsidiado do governo federal, tivemos neste ano, só no Rio Grande do Sul, 40 mil operações indenizadas, totalizando R$ 1,5 bilhão. Existem ainda os seguros privados, dos quais não temos os valores consolidados no momento. Já nas operações de investimentos não existe seguro com cobertura para estiagem, mas o governo federal concedeu rebate de 35,2% para os produtores rurais que quitassem suas operações em dia, permitindo o refinanciamento com a própria instituição financeira, o que deu um ânimo para o setor. Com isso, o valor das prorrogações que foram realizadas não chegou a 1% do valor da carteira de crédito rural do Sicredi. Outra coisa importante de falar é a necessidade de pensarmos imediatamente em aumentar a quantidade de propriedades rurais no Estado com sistema de irrigação. Falamos sobre isso nos anos de estiagem e depois o assunto fica esquecido.
JC - Como se deu a expansão do Sicredi no ano passado e de que forma ocorre agora?
Port - Há expansão tanto na rede de atendimento como no número de associados. Em 2021, crescemos 145 mil associados no Estado e temos verificado um ótimo ingresso de novos associados nos cinco primeiros meses de 2022, o dobro do que no igual período de 2021. Já na rede de atendimento, inauguramos 13 novas agências no RS em 2021 e, para 2022, temos previstas 30 novas, das quais 11 são em municípios em que ainda não estávamos presentes. Hoje, estamos presentes em 95% dos municípios do Estado, sendo a instituição financeira com maior presença física nos municípios. No País, em 2021, foram inauguradas 220 agências, sendo que os estados que mais concentraram inaugurações foram São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Pará. Para 2022, a previsão é de 250 novas agências no País.
JC - Quais produtos têm sido mais requisitados pelos associados de 2021 para cá?
Port - Possuímos uma diversificação muito grande de produtos, adequados a todas as realidades regionais e também aos diferentes perfis das pessoas. Atuamos desde nossa origem de forma muito forte com o agronegócio e com a agricultura familiar. O Sicredi é hoje o maior financiador do agronegócio do Rio Grande do Sul em quantidade de contratos firmados com os produtores. Fomos responsáveis por 44% de todos os contratos de crédito rural no ano passado no Estado. Também possuímos grande protagonismo entre as micro e pequenas empresas do Rio Grande do Sul. Além disso, somos muito atuantes na energia solar. Em 2021, financiamos R$ 1 bilhão em novas instalações apenas no Estado, com crescimento de 60% em relação a 2020. Pelo terceiro ano seguido financiamos 40% de todas as instalações de energia solar do Rio Grande do Sul, dado que nos deixa muito orgulhosos.
JC - Como avalia a concessão de crédito?
Port - Em 2022, atuamos de forma intensa na linha de crédito emergencial criada pelo governo do Rio Grande do Sul, chamada de Juro Zero. Além disso, continuamos muito ativos no sentido de fazer girar a economia local e regional e a concessão de crédito é a maior alavanca para ativar a economia. O crescimento da concessão de crédito nos últimos 12 meses, no RS, está em 23%, sendo que, hoje, contamos com uma carteira de R$ 45 bilhões, dos quais 42% são alocados em crédito rural e créditos direcionados.
Sicredi
- Total de associados: 6 milhões
- Resultado distribuído aos associados em 2021: R$ 1,191 bilhão
- Crédito rural em 2021: R$ 47,2 bilhões