Ana Esteves, especial para o JC
A enchente que parou Porto Alegre e boa parte do Estado no mês de maio teve reflexos importantes no setor da construção civil: obras precisaram ser suspensas por falta de mão-de-obra, de insumos e, em alguns casos, por terem sido alagadas. Mas em pouco tempo o período de estagnação e de incertezas foi superado pelo mercado que viu desde os contratos mais econômicos, via Minha Casa, Minha Vida, até os de alto luxo, com projetos de arquitetos de fama mundial, como Pininfarina e Perkins & Will, se multiplicarem e chegarem a patamares superiores aos de períodos normais.
E a comprovação de que a recuperação foi rápida veio através dos números de uma pesquisa encomendada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio grande do Sul (Sinduscon/RS) que apontam que, dos R$ 357 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV) vendidos em abril, houve uma queda para R$ 241 milhões, em maio. No entanto, em junho, esse valor subiu de novo para R$ 306 milhões, julho R$ 391 milhões, agosto R$ 523 milhões e R$ 428 milhões, em setembro.
Veja a seguir alguns lançamentos recentes divulgados no Rio Grande do Sul e análises de executivos.
Enchentes fizeram habitação ganhar mais força no Estado no segundo semestre
Ítalo Pita viu números acelerarem na MRV com programa do governo
MRV/Divulgação/JCO diretor comercial da MRV Engenharia, Ítalo Pita, afirma que a tragédia climática que se abateu sobre o Estado entre abril e maio deste ano fez com que a habitação ganhasse mais força, tanto que para 2025 a expectativa de crescimento em termos de comercialização é de 15%. "Quando acontece esse tipo de coisa, assim como foi durante a pandemia de Covid-19, as pessoas, mais do que nunca, veem o lar como um lugar seguro de estar e toda a tragédia, por pior que seja, sempre será seguida pelo momento de reconstruir: a dignidade ganha força com relação à habitação, o emprego que fica mais forte." Essa tendência fez com que, a partir do mês de junho, houvesse uma maior propensão à compra de imóveis, principalmente apartamentos. "A tragédia levou muita habitação horizontal, muita casa foi destruída. Os nossos empreendimentos justamente têm, via de regra, o apelo da verticalização, que te dá mais segurança para as pessoas numa situação de enchente."
Segundo Pita, com esse apelo, o ano começou a ganhar um ritmo diferente, as vendas da empresa aceleraram desde junho, se intensificando no último trimestre, em função do programa Porta de Entrada, lançado pelo Governo do Estado, que subsidia a entrada do cliente com R$ 20 mil, na aquisição de seu primeiro imóvel, auxiliando famílias com renda de até cinco salários mínimos. "Quando você coloca um subsídio de R$ 20 mil, basicamente aniquila a entrada que o cliente teria que dar. Ele fica muito perto de ter só o financiamento com o banco, com uma parcela muito baixa", diz Pita.
O programa garantiu um encaixe maior dos clientes que até então não tinha condições de compra. Até abril, a MRV vinha fazendo em torno de 160 vendas no Estado, o mês de maio foi atípico, não teve números computados. A partir de junho, as vendas saltaram para 220 e, em outubro, com o programa estadual, foram mais de 350 clientes assinando com as entidades bancárias. "Quase duas vezes o que a gente vinha fazendo no primeiro trimestre do ano, mostrando a força que os incentivos governamentais têm na condição que o cliente passa a ter para adquirir um imóvel. São 120 unidades vendidas, num comparativo entre novembro desse ano e do ano passado, por conta da adesão das pessoas ao programa."
O executivo diz que é possível dividir o ano do Rio Grande do Sul em três partes: o primeiro trimestre até abril vinha sendo um ano mais difícil do ponto de vista de liquidez, pois ano passado teve alguns desafios com relação à inflação, subida de preço, desencaixe de cliente, e dificuldade de conseguir encaixar financiamento.
"Num segundo momento, a tragédia no Estado que afetou muita gente: nossos corretores, pessoas que perderam suas moradias, afetou a indústria de modo geral também, porque querendo ou não, vem mais uma onda inflacionária com tudo isso. E depois essa fase que estamos agora de retomada."
Volume geral de vendas supera R$ 1 bilhão, mesmo com retração
Incorporadora classifica Teená como empreendimento de mais alto padrão
Melnick/Divulgação/JCA enchente afetou de modo bastante representativo o setor da construção civil como um todo no Estado: muitas obras precisaram parar por falta de mão-de-obra, pois colaboradores foram atingidos, a produtividade caiu por impactos severos na cadeia logística e de abastecimento, além da falta de acesso aos fornecedores, alguns fortemente atingidos. Mas apesar do cenário caótico e de ter um trimestre do ano totalmente perdido, a Melnick bateu recorde e chegou a R$ 1 bilhão de volume geral de vendas (VGV), em 2024. "Esse montante foi maior do que o observado em anos normais, sem perda de um trimestre inteiro, como ocorreu neste ano", afirma o vice-presidente de operações da Melnick, Marcelo Guedes. O executivo afirma que o impacto imediato nos negócios foi muito forte, durante o mês de maio praticamente a empresa não conseguiu abrir espaços de vendas, e com isso a comercialização reduziu significativamente, ficou muito restrita a alguns negócios no modo de contrato virtual, ou até em algumas negociações que já estavam encaminhadas. Já nos meses de setembro e outubro ocorreu um aumento de produtividade e avanço físico das obras, alcançando um ritmo muito próximo do que era antes da enchente. A Melnick teve três obras diretamente impactadas no Menino Deus, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, e em Canoas. "Mas, para o volume de canteiros que temos de 18 obras, é um percentual baixo. Pelo estágio de execução das obras, em fase de estrutura, elas acabaram não tendo perdas físicas e materiais expressivas, e já deram sequência na sua execução. O que ocorreu foi impacto de prazo em relação às datas que se previa anteriormente executar", avalia Guedes. Ele diz que o calendário de obras foi sendo postergado: as obras que pretendiam fazer no segundo trimestre, foram feitas no terceiro, o que faria no terceiro, foi para o quarto e alguns negócios previstos para este ano foram remarcados para 2025. "É uma consequência natural, acaba faltando calendário para poder fazer tudo. Mas a resposta, de qualquer forma, foi positiva, mesmo que os empreendimentos tenham tido alguma defasagem."
Em 2024, a Melnick lançou seis empreendimentos, dois deles concentrados no primeiro trimestre. No segundo trimestre não houve lançamento, em função da enchente. "A pujança de retomada do mercado é que voltamos a fazer lançamentos no terceiro trimestre, com mais quatro empreendimentos, com desempenho realmente positivos." Uma média de performance de vendas desses projetos demonstra que foram comercializados mais de 50% das unidades. Sobre o aquecimento das vendas e aumento da demanda por imóveis no pós-enchente, Guedes afirma que têm ocorrido, especialmente no segmento de moradia econômica uma velocidade de absorção bastante elevada. "Até porque esses empreendimentos estavam prontos em estoque, e quase a totalidade acabou sendo rapidamente consumida por programas de incentivo governamentais." O executivo acrescenta que os empreendimentos de alto e altíssimo padrão também têm tido um bom volume de consumo.
Para 2025, a empresa aposta em um ano de estabilidade, baseado na perspectiva de que os projetos sigam tendo absorção comercial igual à do terceiro trimestre de 2024. "A esperança é de um bom ano, mas vamos precisar medir os impactos que vamos ter em termos de inflação, se estará mais controlada, em termos de taxa de juros e, naturalmente, a gente vai adaptando a característica dos projetos que a gente vai lançando", diz Guedes. O executivo afirma que, em momentos macroeconômicos um pouco mais turbulentos, os segmentos de alto padrão se mostram mais resilientes. E aí, por vezes, a empresa acaba concentrando o lançamento nesse segmento. "De qualquer forma, o segmento de moradias econômicas nos parece que vai seguir tendo uma demanda alta, aquecido no próximo ano", acrescenta. O executivo diz que a empresa está atenta ao cenário macroeconômico, principalmente a questões relacionadas à taxa de juros, pois a expectativa de encerrar 2024 com uma Selic de um dígito não se concretizou. "Vivenciamos os últimos lançamentos neste cenário e o mercado segue respondendo bem. Estamos em etapa de pré-lançamento de empreendimentos nesse quarto trimestre no que a gente chama de eixo da 24 de Outubro." Entre os lançamentos estão o Go Moinhos, o pré-lançamento do Jazz Nova York e do projeto Gama 1375, que fica na Marcelo Gama, 200. "Um dos pré-lançamentos de outubro foi o Zayt, um projeto da mesma linha do Teená, com 540m² de área privativa, dos quais 140m² são uma varanda, com pé direito triplo, num conceito de coberturas horizontais. O alto e altíssimo padrões estão no DNA da Melnick, foi onde a empresa iniciou a sua atuação", finaliza Guedes.
Construtora conquista tricampeonato inédito no prêmio Master Imobiliário
Milton Melnick recebe prêmio Master Imobiliário
Melnick/Divulgação/JCO empreendimento Teená, da Melnick, foi grande premiado da categoria residencial, durante a 30ª edição do Prêmio Master Imobiliário, principal premiação brasileira do segmento. Com o reconhecimento, a incorporadora se tornou a única da região Sul a ganhar o prêmio por três vezes.
Segundo o vice-presidente de operações da incorporadora, Marcelo Guedes, o propósito da Melnick é verdadeiro e tangível.
"Receber o prêmio pela terceira vez nos deixa bastante satisfeitos, pois está muito associado ao nosso propósito de poder promover transformação", afirma o vice-presidente da Melnick.
Em 2023, a empresa ganhou o prêmio com o Nilo square e em 2022 com o projeto do Pontal, na categoria soluções urbanísticas. O empreendimento premiado foi construído numa área com mais de mais de 7 mil m² no bairro Três Figueiras e é considerado o de mais alto padrão da história da capital gaúcha.
O nome Teená foi inspirado no fruto sagrado dos hebreus, o figo, símbolo de fertilidade, por ser repleto de sementes. O projeto de interiores e fachada foi desenvolvido pelo Studio Arthur Casas.
Já o projeto arquitetônico foi desenvolvido pelo escritório Roseli Melnick Arquitetura e Interiores. Com 19 pavimentos com uma ou duas unidades por andar, os amplos apartamentos contam com área privativa de 387 m² a 850 m² com coberturas que podem chegar a 1.200 m².
Localizado em região nobre da de Porto ALegre, no bairro Três Figueiras, o Teená teve 70% do terreno dedicado às áreas de convivência, amplas e finamente decoradas com mobiliários assinados por artistas como o designer brasileiro Geraldo de Barros e o arquiteto e designer polonês naturalizado brasileiro de Jorge Zalszupin.
Na área externa, o grande destaque é o bosque com natureza preservada formando um pulmão verde dentro do condomínio, além de áreas de lazer como piscinas e a quadra de tênis em saibro com medidas oficiais, além de área para crianças e pets.
Também há wellness center, algo muito valorizado hoje em dia devido aos cuidados com a saúde mental e física. Ainda nessa área, a empresa aposta em espaço fitness e um lounge para convivência.
Construtora projeta meta de crescer 30% em faturamento
Julio Lamb percebe que Estado não está atrativo para investimentos
Lamb/Divulgação/JCA Lamb Engenharia e Construção, especializada em empreendimentos corporativos e comerciais, para indústria e empresas de grande porte, prevê um crescimento de até 30% em faturamento para o próximo ano. A declaração é do diretor executivo e engenheiro Julio Cesar Bratz Lamb. "Ainda não temos os números consolidados, pois não fechou o ano, mas seguramente vai ficar nesse percentual", afirma.
A empresa, que tem no seu portfólio clientes como General Motors, Coca-Cola, Unimed, Laghetto Hotéis e CMPC, não foi diretamente impactada pela enchente, apesar de a sede ser em Canoas e ficar exatamente na rua onde se dividiu a água. "Do lado de lá tinha água e do nosso lado não chegou, foi muita sorte", diz. Ele conta que na sede da construtora foi montado um abrigo provisório, onde ficaram 35 pessoas por um período de 40 dias, muitas delas funcionários, parentes deles e vizinhos de funcionários. As obras em andamento também não foram atingidas, mas o executivo conta que duas empresas que foram impactadas, cujas sedes foram construídas pela Lamb, solicitaram ajuda. "Fechamos dois contratos de reconstrução de fábricas que tiveram boa parte da obra civil danificada, em Canoas e em Porto Alegre."
Lamb diz que a empresa, que tem quase 40 anos de mercado, vem fazendo alguns investimentos para se tornar mais produtiva, tecnológica e eficiente. O investimento nesses quesitos fez com que, nos últimos anos, a Lamb aumentasse a receita sempre em torno de 30%. "Em 2024, em função da enchente, algumas demandas foram reprimidas, mas foram compensadas pelas obras de recuperação de estruturas danificadas pela água. No balanço geral ficou um bom ano", afirma Lamb.
O ano de 2025 ainda é visto por ele como uma grande incógnita, apesar de negócios já contratados e que vão iniciar no ano que vem. "Trabalhamos sempre por demanda contratadas para algum projeto de empresas que estão vindo investir no Estado. O problema é que, depois da enchente, o Rio Grande do Sul não vem sendo um estado muito atrativo para investimentos, comparativamente com outros da Federação e ainda não identificamos demandas concretas para 2025", diz Lamb. Além disso, das empresas que estão aqui, algumas já estão encerrando seus ciclos de investimento e não há indicativo de quais serão as próximas demandas das indústrias já instaladas. Lamb cita o caso da General Motors, que estava fazendo novo investimento em razão da fabricação de um novo carro. "Mas esse investimento vai ser finalizado ainda em 2024, então 2025 não tem previsão de novos aportes por parte deles." Além de atuar em Porto Alegre e na Região Metropolitana, a Lamb desenvolve projetos em outros municípios. "Acabamos de entregar um hospital da Unimed em Rio Grande, no final de outubro, e fizemos várias obras aquele município. Vamos lançar um empreendimento em Pelotas também", cita.
Entre as preocupações da empresa, a questão ambiental tem conquistado cada vez mais espaço, especialmente diante das tragédias climáticas. "Essa demanda está ficando cada vez mais latente, mais incorporada dentro das empresas de uma forma genuína." Recentemente, a Lamb projetou uma portaria de madeira engenheirada, que é processada industrialmente a fim de otimizar o seu desempenho para uso na construção civil na CMPC. "É a maior obra de madeira engenheirada do Rio Grande do Sul, bem diferente, arquitetonicamente, inovadora, com um material que pode ser replantado, então é possível ter um processo totalmente sustentável, pois o eucalipto é replantado e vai produzindo mais materiais estruturais com esse replantio", justifica. Segundo ele, toda a cadeia da construção civil e indústrias que são fornecedoras estão ficando mais sustentáveis e com práticas mais inteligentes.
Construtora comercializou 80% dos imóveis que lançou
CEO da Cyrela, Rodrigo Putinato relata que perspectiva para 2024 era de um ano histórico, com recorde de vendas
Cyrela/Divulgação/JCO ano de 2024 tinha tudo para ser catastrófico para as construtoras das cidades atingidas pela enchente. O sentimento das empresas era de que ele estaria perdido, diante do cenário desolador imposto pela tragédia. Com a Cyrela não foi diferente: a expectativa de ter um ciclo com alto nível de volume geral de vendas (VGV), que começou com comercializações recordes nos primeiros meses, parecia não ser mais possível de se concretizar. "A catástrofe foi uma coisa gigantesca. No começo do ano, criamos um logo chamado de Ano Histórico, pois a perspectiva era de fazer um período maravilhoso de lançamentos. Em seguida, no segundo lançamento, veio a enchente e foi desespero total", afirma o CEO da Cyrela, Rodrigo Putinato. Mas, mesmo diante das dificuldades impostas pela tragédia climática que se abateu sobre o Estado, a construtora conseguiu dar a volta por cima e comercializou 80% dos imóveis que lançou.
Até o empreendimento que foi parcialmente atingido pelas águas, o Vista Praia de Belas, vendeu 430 apartamentos em 14 dias. Para o executivo, o Menino Deus encheu por um erro, pela falha nas bombas, então na teoria não é mais para acontecer. "Mesmo assim, elevamos o térreo do Vista Praia de Belas para que a cota de onde encheu não se repita. Acho muito difícil que aconteça de novo, porque é diferente de outros lugares. Canoas, por exemplo, se acontecer de novo, tende a alagar, mas Porto Alegre, na teoria, se os diques e se as bombas funcionarem, é mais difícil", avalia Putinato. Além da situação no Menino Deus, o evento da enchente obrigou a Cyrela a distratar um terreno em Eldorado do Sul. "Não vamos lançar mais o loteamento, pois não tem cabimento, não tem como convencer as pessoas de irem para lá porque ali foi muito afetado com a enchente."
Putinato relembra que o impacto nas obras foi muito grande, porque o efetivo não ia trabalhar, pois 43 funcionários perderam tudo. Foram três meses em que empreiteiros quebraram, empresas não conseguiram suprir os prazos combinados, empresas de vidro que foram arrastadas e não puderam atender às demandas dos empreendimentos. "Comecei a receber muitas ligações de prefeitos, de ministros e as ajudas começaram. Tínhamos comprado um terreno grande onde era o IPA. Tem um ginásio que liberamos para abrigar as pessoas, compramos colchões, providenciamos gerador, banheiro químico, comida, roupa, um grande movimento de assistência humanitária."
Foi só a partir de agosto que a empresa fez o segundo lançamento do ano, que era para ter sido antes de maio, antes da enchente, e também teve 100% de vendas. Depois foi lançado outro produto de alto luxo, o Ereditá: com unidades de até 780 m², com arquitetura Perkins & Will, primeiro empreendimento deles em Porto Alegre, no valor de até R$ 22 milhões. "Não quis abrir a porta e começar a vender assim que acabou a enchente, porque eu me senti mal em ofertar. Mantive o plantão fechado e fui trazendo os clientes individualmente para serem atendidos por mim. Estamos com 11 unidades assinadas, de um total de 23."
Entre os lançamentos do ano, Putinato destaca ainda o Vista Menino Deus, 100% vendido em 23 dias, o Vista Nova Carlos Gomes, com 327 unidades, das quais 187 vendidas (no fechamento desta edição) em uma semana. "Mas a verdade é que a gente conseguiu um excelente ano com todas as circunstâncias que aconteceram. Não é normal lançar e vender 100% de um apartamento em 23 dias."
As expectativas para 2025 são reservadas, em função do cenário econômico que, na opinião de Putinato, não melhorou. "Teve piora em Porto Alegre. Não sei se isso que está acontecendo é uma reacomodação devido à enchente, porque a gente sabe que a economia não melhorou. Os juros estão altos e o que faz o mercado imobiliário girar são os juros baixos, e estão altos. Além disso, o crédito está difícil", avalia.
Segundo ele, a Caixa Econômica Federal está demorando para liberar dinheiro e fica difícil para repassar, então o sentimento ainda é de muito receio para o próximo ano. O executivo não pode revelar quais serão os lançamentos de 2025, mas adianta que está com uma série de projetos em terrenos muito bons. "Somos uma empresa de negócios: se o mercado estiver indo bem, lançamos e vendemos mais. Se estiver indo mal, nós seguramos. Mas eu estou indo com o pé no acelerador", antecipa. Mesmo fazendo mistério, ele garante que o primeiro lançamento está previsto para março: um empreendimento no Moinhos de Vento com unidades de 170m² a 195m². "Em abril já temos outro, em maio mais um. Mas não tenho obrigação de lançar. Eu tenho obrigação de fazer bons negócios. Se lanço um e foi bem, vamos sentir o mercado. Se a gente vir que começou a dar uma piorada, a gente dá uma segurada."
Sobre as tendências do mercado da moradia, Putinato diz que as pessoas têm duas grandes demandas: em relação à vida, ao dia-a-dia, e em relação a alto luxo. No primeiro quesito, elas querem mais praticidade, com apartamentos mais compactos de 20m² a 25m² e perto dos grandes centros.
"As pessoas preferem estar próximo de tudo que é gostoso, comprar um apartamento menor, mais fácil de comprar, mais barato do que um apartamento maior, lógico. E esse viver gostoso. Morar gostoso, descer e tomar um café, sair, andar na rua, pegar, ir ao supermercado, fazer essas praticidades da vida."
A segunda tendência é a grande procura por imóveis de alto luxo que, em alguns casos, proporciona a aquisição de um imóvel exclusivo. "As pessoas não querem ter um apartamento igual ao de todo mundo, querem um mega exclusivo." Em Porto Alegre, esse conceito está presente no empreendimento Cyrela by Pininfarina, localizado no bairro Bela Vista. "Todos os móveis das áreas comuns foram trazidos da Itália, pois o projeto é do escritório do Paolo Pininfarina. Foram cinco containers de Milão. É o empreendimento mais caro da cidade."
A exclusividade está na possibilidade de as pessoas poderem modular o apartamento da maneira que quiserem, pois o imóvel é entregue sem o acabamento interno para que possa ser dividido do jeito que o comprador preferir. "Ele define na planta como quer que sejam os espaços internos, para que depois não tenha que quebrar."