Atualmente em 12,75%%, a taxa de juros brasileira acima dos dois dígitos é a maior preocupação da construção civil para investir em novos empreendimentos. O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Claudio Teitelbaum, afirma que a Selic alta afeta tanto as empresas do setor quanto os consumidores que desejam adquirir imóveis.
Teitelbaum explica os benefícios que uma queda na taxa de juros pode trazer para o mercado imobiliário. "Isso vai ajudar o setor por dois motivos. Primeiro pelo aumento funding de poupança: quando a taxa sobe acima dos dois dígitos, se tem uma queda muito grande de recursos da poupança, que é o principal financiador da habitação. Por outro lado, a taxa de juros alta quer dizer também que a inflação está alta, e isso acaba diminuindo o poder aquisitivo do consumidor", explica.
Empresários do setor compartilham opinião semelhante à do presidente do Sinduscon-RS quando o assunto é taxa de juros. O diretor-presidente da construtora Tedesco, Pedro Silber, afirma que a construção é sensível a esta Selic elevada, pois ela impacta diretamente nos processos de financiamentos a longo prazo.
O CEO da incorporadora Cyrela Goldsztein, Rodrigo Putinato, argumenta na mesma linha. "O crédito é o grande impulsionador do mercado imobiliário. Temos crédito, mas a taxa de juros é muito alta, então, você acaba sendo muito seletivo nos negócios", avalia. Putinato ainda acrescenta: "Para impulsionar o mercado imobiliário, a queda dos juros é muito importante. Acreditamos que estes produtos voltados para o mercado tradicional dependem muito disso, então, para o ano que vem, já pensamos que esta melhora vai acontecer".
Juliano Melnick, CFO da incorporadora Melnick, afirma: "Uma taxa de juros elevada acaba aumentando muito o valor do saldo devedor. Isso é uma questão vital, porque normalmente o saldo se expande muito quando a taxa de juros está baixa, e se retrai um pouco quando está alta".
Outro mercado impactado pela Selic elevada é o de vidros, justamente porque a construção civil é o setor que mais adquire este tipo de materiais. O diretor da Vidrobox, Gilberto Ribeiro, explica que as vendas das empresas vidreiras à construção são realizadas a prazo, algo que encarece o valor final do produto comercializado, diminuindo, portanto, o poder de compra das empresas construtoras.
Os empresários citam, ainda, outros aspectos atuais que acabam desafiando o desenvolvimento da economia da construção civil no Rio Grande do Sul e no Brasil.
Eles falam do alto estoque de imóveis prontos - que prejudicam novos investimentos -, a dificuldade para contratar mão de obra e a inflação no custo das commodities. Nenhum desses pontos, no entanto, é tão relevante para o setor quanto a taxa de juros elevada.
A boa notícia para a construção civil gaúcha e brasileira é que as estimativas apontam para redução da Selic ainda no ano que vem, algo que empolga os investidores.