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Publicada em 15 de Julho de 2024 às 12:37

Depois de mais uma crise, resistir é preciso para o varejo

Segundo especialistas, o cliente está solidário, aberto a promoções; comprou a ideia do consumo local, o que ajuda a criar e manter empregos, gerar renda e impostos

Segundo especialistas, o cliente está solidário, aberto a promoções; comprou a ideia do consumo local, o que ajuda a criar e manter empregos, gerar renda e impostos

EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Karen Viscardi
As empresas de varejo do Rio Grande do Sul responderam com agilidade à catástrofe climática ocorrida em maio. Mas o desempenho é desigual, de acordo com as particularidades das empresas e dos setores de atividade. Ao mesmo tempo em que muitos lojistas fecharam as portas em definitivo por dificuldades financeiras, grande parte do comércio voltou a trabalhar antes mesmo de somar os prejuízos.
As empresas de varejo do Rio Grande do Sul responderam com agilidade à catástrofe climática ocorrida em maio. Mas o desempenho é desigual, de acordo com as particularidades das empresas e dos setores de atividade. Ao mesmo tempo em que muitos lojistas fecharam as portas em definitivo por dificuldades financeiras, grande parte do comércio voltou a trabalhar antes mesmo de somar os prejuízos.
A tempestade foi implacável, perderam-se vidas, casas, empresas. No varejo, muitos espaços físicos, estoques e equipamentos sucumbiram. O mesmo ocorreu com muitos fornecedores, indústrias e prestadores de serviços. Os acessos ao Estado ficaram fechados, o que ainda ocorre com o aeroporto. Mas lições que se aprenderam na época da pandemia perduram, como a necessidade de união de empresas e entidades empresariais e a busca por alternativas para manter o negócio e os empregos.
"A resiliência está mais amadurecida e mais forte. A lição que fica é de um ajudar o outro. E o consumidor está solidário, aberto a promoções. Comprou a ideia do consumo local, o que ajuda a criar e manter empregos, gerar rendar e impostos para os municípios e o Estado", afirma o presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo (Federação AGV), Vilson Noer.
O presidente da CDL Canoas, Éverton Netto, é enfático. "Não é mais campanha de marketing, é uma responsabilidade. Somente deixando o dinheiro dentro da cidade, vamos manter emprego e gerar renda." Apesar da catástrofe, com dois terços dos CNPJs do município atingidos pela água, as vendas fecharam o semestre 15% acima do mesmo período do ano passado. O desempenho traz uma expectativa positiva para o segundo semestre.
A maior parte dos pequenos negócios conseguiu se restabelecer de alguma forma, segundo o especialista em Varejo do Sebrae RS Fabiano Zortéa. O momento é de estudar o comportamento do consumidor. "É preciso olhar o seu segmento de atuação para entender se houve mudança na dinâmica do consumo", diz. Se houver desinteresse por determinado produto ou serviço, o empreendedor deve considerar a troca de segmento ou de mercado, se estabelecendo ou fazendo parcerias em outros locais.

Resultados positivos comprovam superação das Lojas Rabusch após cheias

Renovação do guarda roupa de pessoas que fizeram doações ajuda a fomentar vendas

Renovação do guarda roupa de pessoas que fizeram doações ajuda a fomentar vendas

EVANDRO OLIVEIRA/JC
Das 18 lojas próprias da Rabusch, nove ficaram fechadas por determinado período durante a enchente. Unidades do Shopping Praia de Belas e do Centro de Porto Alegre que não foram afetadas pela água também ficaram semanas sem operar. Outras duas lojas foram atingidas diretamente, uma em Canoas, que não reabriu, e outra no Centro Histórico da Capital. A unidade da rua Washington Luís foi reformada e está com vendas superiores ao ano passado.
Para atravessar o período de enchente, foram tomadas medidas na área de gestão. "Conseguimos negociar com fornecedores e parceiros e protelamos contratos com consultorias, mantivemos os 130 funcionários e estamos com a folha em dia", conta o empresário Alcides Debus. Apesar de atingir apenas 32% da meta de vendas em maio, segundo principal mês em vendas, Debus se mantém otimista. Isso porque em junho o resultado ficou 6,2% acima da meta, crescimento real de 2,3% sobre o mesmo mês de 2023. E, na primeira semana de julho, o desempenho ficou 8% superior ao mesmo período do ano passado.
"No ano, devemos recuperar o mês de maio. Ainda que a memória das enchentes ainda impacte o e-commerce e as vendas no atacado, as perspectivas são boas, estamos bem planejados. Percebemos que os colaboradores estão engajados, acertamos muito bem a coleção, retomamos produtos icônicos, que clientes pediam", explica o proprietário da marca criada em 1986.
A renovação do guarda roupa de pessoas que fizeram doações vêm ajudando a fomentar as vendas, além do auto presente. "Não repassamos aumento de preços, pelo contrário, tivemos ótimas negociações. E realizamos muitos treinamentos com nossa equipe. É um conjunto de medidas que faz uma entrega de valor para o cliente."

Remodelação de lojas acompanha análise dos prejuízos

Livraria Cameron aumentou o número de feiras enquanto lojas estavam fechadas

Livraria Cameron aumentou o número de feiras enquanto lojas estavam fechadas

Rafael Silveira Gloria/Especial/JC
A celeridade na reposição de estoques e na definição de uma remodelação para operações foram essenciais para a Livraria Cameron voltar a atender seus consumidores. "Tivemos de agir muito rapidamente, tínhamos 10 lojas e ficamos com apenas sete funcionando. A maioria dos editores começou a repor estoques perdidos e começamos a renascer novamente", conta o sócio-diretor Delamor d'Avila Filho. Também foram ampliadas as feiras no mês de julho: de média de quatro, entraram em funcionamento sete feiras, com remanejamento de funcionários das lojas fechadas. Assim, nenhum colaborador foi demitido.

O maior impacto foi nos três depósitos, que sustentam as 10 lojas e as feiras do livro, onde 70% são livros infantis, com objetivo de formar novos leitores. A sede e outros dois depósitos perderam cerca de 80% dos livros, já o depósito do Sarandi, onde fica armazenada a marcenaria, os danos atingiram 100%. "Ainda estamos contabilizando perdas e fazendo levantamentos", diz o empresário. A estimativa inicial é de prejuízo de R$ 2,2 milhões em livros e R$ 700 mil em marcenaria: mesas, balcões e prateleiras. "O problema é que o prédio do Centro de Distribuição localizado na avenida Pernambuco e os dois depósitos do Humaitá e do Sarandi ficaram muito alagados."

As três lojas atingidas diretamente estão localizadas no Aeroporto Salgado Filho, que retomou as operações de embarque e desembarque no dia 15 de julho. Apenas uma das unidades foi inundada, a localizada no primeiro piso, com danos em 90% dos itens. As outras duas estão sem operar. Indiretamente, a proximidade com as zonas alagadas influenciou o resultado das lojas do Shopping Total e do Bourbon Assis Brasil. Durante uma semana diminuiu bastante o movimento até a água começar a baixar. E depois começou dia após dia a voltar ao normal.

A situação estimulou a Cameron a intensificar a mudança no seu modelo de operação. Foi aberta em maio uma unidade no Shopping Iguatemi, um híbrido de loja com quiosque, em um espaço de 60 m². Tem todos os itens de uma loja convencional: são 10 mil livros, papelaria e bomboniere, e com reposição muito rápida e já está trazendo resultados positivos.

"No meio do pandemônio, da situação mais terrível, tinha algo de bom acontecendo", conta o diretor da Cameron. Com custo operacional menor do que as lojas, o modelo de ajudar a garantir a sustentabilidade financeira da empresa. O mesmo formato será instalado no andar superior do aeroporto, com previsão de abertura no começo de agosto. A operação do térreo não voltará a operar. Uma nova loja será inaugurada no final do próximo mês, em local não revelado.

Se por um lado, a livraria teve prejuízos milionários, de outro o consumidor respondeu de forma surpreendente. Mesmo no mês de maio, operações registraram aumento de 30%. Com o fechamento do Praia de Belas, as pessoas queriam frequentar shopping e migraram ao Bourbon Ipiranga, ampliando as vendas, comemora d'Avila Filho.

Na receita total, houve um decréscimo em razão das lojas do aeroporto, que representam 29% do total de faturamento da rede. Mas considerando apenas as lojas abertas, houve um aumento de 22% no faturamento em junho na comparação ao mesmo mês do ano passado.

Manutenção de plano de expansão mostra confiança no Estado

Junho teve acréscimo importante nas vendas na Casa Maria

Junho teve acréscimo importante nas vendas na Casa Maria

EVANDRO OLIVEIRA/JC
A rede de lojas Casa Maria mantém o planejamento de expansão, apesar do impacto das enchentes em oito das 60 lojas. Presente em praticamente todo o Estado, com Centro de Distribuição e sede em Cachoeirinha, tem unidades espalhadas nas regiões Litoral, Sul, Centro, Serra, Fronteira Oeste, Vale dos Sinos, Vale do Taquari e Região Metropolitana. A 61ª abrirá no Shopping Total em agosto.

Das oito operações afetadas diretamente pelas cheias no Centro de Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo, apenas a localizada na rua José Montaury não reabriu ainda. "A demora é por toda demanda por energia e investimento nas outras sete e por estarmos em acerto com o proprietário", conta o fundador da rede, Wagner Amorim. Outras quatro ficaram fechadas por falta de energia ou acesso. Na maior parte, os proprietários foram sensíveis e concederam isenção de aluguel do período fechado e carência para recuperar imóvel.

A empresa também ficou 12 dias sem acesso para levar mercadorias para as regiões Central, Serra e Sul do Estado, em razão das estradas danificadas. Amorim detalha que a perda de estoques não foi significativa, mas impactou. Os estragos atingiram mercadorias, mobiliário e PDVs. "Levantamos o que pudemos, mas não o suficiente", explica o empresário.

Apesar dos estragos, Amorim informa que a rede manteve os 560 trabalhadores. A tragédia trouxe como resposta positiva a solidariedade das pessoas e a compreensão dos fornecedores. "Fiquei surpreso com a ajuda dos outros Estados, onde inclusive estão a maioria dos nossos fornecedores."

As vendas da Casa Maria, que tem como carro chefe itens para casa, estão acima do normal. Junho teve acréscimo importante. Julho começou em alta e está retornando à normalidade. Com essa retomada, a estimativa é fechar o primeiro semestre próximo da meta de crescimento de 8%, mesmo índice que havia sido projetado para o ano.

Maio caótico é seguido de junho com recordes

Juliana, diretora da Kia Sun Motors, diz que unidade de área alagada será substituída por loja itinerante

Juliana, diretora da Kia Sun Motors, diz que unidade de área alagada será substituída por loja itinerante

TÂNIA MEINERZ/JC
O polo automotivo da avenida Ceará deve sofrer impacto com o fechamento de revendas. Um dos exemplos é a Sun Motors, que saiu da região. Os esforços agora irão se concentrar na unidade da avenida Ipiranga e em lojas itinerantes.

No final de semana de 12 a 14 de julho, a Sun Motors realizou um evento no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves e, de 9 a 17 de agosto, a concessionária fará exposição de carros Kia no Festival de Cinema de Gramado. "Nossa segunda unidade será uma unidade móvel", conta a diretora Juliana Furstenau. Também a concessionária de motos da Suzuki entrará em um ponto móvel, na Zona Sul.

"Essa estratégia vai se intensificar a partir desse momento", explica Juliana. O objetivo é manter o quadro de 65 colaboradores. Hoje, a equipe da área de vendas, administrativo e pós-venda está na loja física da zona Leste. A Sun Motors mantém uma oficina móvel, que se desloca no Estado conforme a necessidade dos consumidores.

No mês de maio, as vendas de veículos e motos no Rio Grande do Sul despencaram em razão dos estragos nas estradas que inviabilizaram as entregas no Estado e do fechamento do Detran, que só retornou no dia 27 de maio. "Maio não existiu. Parte do Estado estava alagado, havia dificuldade de acesso e o Detran ficou inoperante por quase todo o mês", detalha o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Rio Grande do Sul (Sincodiv), Jefferson Furstenau. O represamento e a necessidade de reposição de veículos perdidos nas enchentes turbinaram as vendas de junho, que foi o melhor mês dos últimos seis anos, segundo dados do Sincodiv-RS. No mês, foram emplacados 18,5 mil no Rio Grande do Sul, de uma média de 14 mil a 15,5 mil ao mês.

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