Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, calcula que as perdas do setor durante e no pós-enchente ultrapassará os R$ 10 bilhões inicialmente calculados pela entidade. O motivo é o impacto na área de turismo e eventos, pela questão aeroportuária e das rodovias. "Ainda teremos meses difíceis pela frente", alerta ele.
O dirigente está à frente da Federação Varejista, que atua em mais de 135 municípios gaúchos, contabilizando mais de 35 mil CNPJs. Confira abaixo outras análises feitas por Pioner para o especial Dia do Comércio.
Jornal do Comércio - Qual avaliação a federação faz em relação aos setores associados depois da maior tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul?
Ivonei Pioner - As consequências variam de região para região, de cidade para cidade, tudo de acordo com o nível do desastre em cada local. Em nível estadual, todos perderam, pois a economia é uma máquina com várias engrenagens. Em algum momento, alguns ganham e outros perdem, mas ao longo de um tempo maior, todos ganham ou perdem juntos. A história nos ensina isso. Neste momento, a sociedade como um todo está sendo impactada.
JC - Qual o impacto financeiro do setor?
Pioner - Inicialmente, havia um estudo que fizemos em que, entre perdas de estruturas físicas nas áreas de comércio e serviços, mais o faturamento de maio, chegamos a uma soma de R$ 10 bilhões. Mas o fato de a logística ter sido afetada e impactada em toda a cadeia produtiva, e na normalidade do dia a dia do Rio Grande do Sul, esse número será superado em muito. A área de turismo e eventos, pela questão aeroportuária e das rodovias, está sendo impactada sobremaneira. Ainda teremos meses difíceis pela frente.
JC - O senhor tem uma estimativa de tempo para recuperação do setor?
Pioner - Isso depende muito da atitude do poder público, em especial do governo federal. A estrutura logística, os recursos novos a fundo perdido para reestruturação de quem perdeu tudo, as políticas para além dos seis meses de auxílio na área trabalhista, as legislações que flexibilizem e reativem a economia imediatamente, são algumas das necessidades que imperam neste momento. E para isso acontecer é necessário um grande diálogo com a iniciativa privada com o objetivo de construirmos, unidos, esse ambiente robusto e favorável para a retomada.
JC - Como avalia as iniciativas do governo federal e estadual para socorrer o setor?
Pioner - A burocracia da máquina pública vem como um grande empecilho. Mas o mais duro é ver, principalmente o governo federal, colocar à frente os vieses políticos em detrimento ao povo do Rio Grande do Sul. São muitas narrativas e pouquíssimas entregas. O momento pré-eleições municipais no Brasil também acentua essa realidade. Não é hora para esse tipo de situação, pois gera um descaso com a realidade vivida pelo Estado.
JC - A federação percebe mudanças na forma de consumo das pessoas?
Pioner - Sim. O consumo diminuiu. Falta renda, insegurança no trabalho e nos empreendimentos, dificuldades para acesso a crédito e endividamento das famílias. Tudo isso é um pacote nefasto para o setor e para a economia.
JC - Como compara a situação com outros desafios passados?
Pioner - Este, certamente, é o pior desafio vivido pelo setor em todos os tempos. Não foi uma região do Estado. Não foi uma área da economia ou do setor. Praticamente todo o Estado foi impactado, e as repercussões apenas começaram a surgir. Na dificuldade vivida na pandemia, por exemplo, a economia parou por um tempo, mas ao retornar as estruturas físicas, os estoques e tudo mais estavam intactos. Agora, estamos saindo do zero e, ainda, dependendo da região onde está o negócio, cidades continuam sem ligações viárias ou com ligações precárias. Temos um cenário muito desafiador, com aumentos absurdos em muitos custos versus falta de capacidade financeira para o consumo.
JC - Quais as expectativas para o segundo semestre?
Pioner - As perspectivas mudam de região para região, de cidade para cidade, conforme o ocorrido em cada localidade. Mas, em nível estadual, a retração já está posta. A própria receita de tributos no Estado caiu mais de 20%, e isso mostra que a atividade econômica foi duramente afetada. Mais uma vez salientamos: os governos, federal e estadual, devem agir rapidamente, caso contrário, eles também pagarão um custo muito alto pela falta de agilidade e foco na reconstrução do Estado.