Prestes a completar 95 anos de atividades em defesa do empreendedorismo gaúcho, a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul) consolida seu papel em apoio ao desenvolvimento econômico e social do Estado. Com uma gestão focada na inovação, vê como fundamental a recuperação econômica pós-pandemia calcada na transformação digital. Representando mais de 80 mil empresas de todos os setores, do agronegócio à indústria, passando por comércio, serviços e tecnologia, a entidade tem a meta de encerrar 2022 com 200 filiadas, e aposta no debate de temas alinhados à livre iniciativa, à economia de mercado e ao desenvolvimento. Nesta entrevista, o presidente da Federasul, Anderson Trautman Cardoso, avalia a conjuntura e projeta os próximos passos da entidade.
Jornal do Comércio - O ano de 2022 marcou a retomada. Qual sua avaliação do atual momento?
Anderson Trautman Cardoso - Depois de tempos difíceis, 2022 iniciou, de fato, com muita expectativa, em decorrência do avanço da vacinação e da retomada das atividades econômicas. Porém, já no início do ano, o Rio Grande do Sul deparou-se com uma grave seca, impactando severamente o agronegócio gaúcho, que representa cerca de 40% da sua economia. Chegamos a ter mais de 80% dos municípios gaúchos em situação de emergência, o que contribuiu para a queda do PIB estadual, que já registra recuo de 3,8% em comparação com os últimos três meses de 2021. Mas sou otimista. Com a aprovação de reformas importantes e a gradual recuperação das finanças públicas, o Estado começa a viver um novo momento, inclusive com a retomada da capacidade de investimentos. Se este ano for de queda do PIB em decorrência da seca, mantidos os avanços que conquistamos, temos condições de voltar a crescer em 2023.
JC - E como o senhor avalia a atuação da Federasul nesse período e em apoio aos diversos segmentos econômicos?
Cardoso - Ao longo do primeiro semestre de 2022, após uma intensa atuação durante a pandemia, a Federasul seguiu trabalhando para auxiliar o empreendedor gaúcho, por meio do associativismo. Elegemos o tema inovação como central na atual gestão e estamos realizando diversas ações na área, pois vemos como a recuperação econômica pós-pandemia tem passado pela transformação digital e pela inovação. Além disso, seguimos contribuindo com o debate de temas importantes para o Estado, como foi o caso, entre outros, do Teto de Gastos Públicos, que possibilitou a adesão do RS ao Regime de Recuperação Fiscal. Também retomamos, em junho, depois de 16 anos, o evento Encontro de Embaixadores, buscando analisar a nova conjuntura internacional e contribuir para que os empreendedores do Estado possam se posicionar diante dos novos cenários, identificando oportunidades. Além de trazer a inovação no discurso, procuramos aplicá-la na prática, o que também contribuiu para ampliarmos nossas filiadas de 150, no início de 2021, para mais de 170 no início de 2022. E nossa meta é encerrar o ano com mais de 200 filiadas.
JC - E quais as expectativas da entidade para este semestre?
Cardoso - É um período extremamente importante, de enfrentamento da inflação, com taxas de juros em alta, possibilidade de desaceleração de economias importantes no exterior e, ainda, eleições. Mas estamos confiantes de que, mesmo sem promover reformas importantes como a administrativa e a tributária, o País fechará o ano com crescimento do PIB em torno de 2%.
JC - E como esse cenário econômico vem impactando na atuação dos setores representados?
Cardoso - Trata-se de um cenário extremamente complexo e desafiador. A inflação corrói o poder de compra da população e os juros altos reduzem a disponibilidade de capital para a cadeia produtiva. Ainda assim, existem oportunidades e os dados demonstram que, no primeiro quadrimestre de 2022, o setor de serviços cresceu mais de 16% e o comércio mais de 10% no Estado. São setores que estão se reinventando, buscando a digitalização para a redução de custos, a maior oferta de valor para ampliação do número de clientes e a inserção na nova economia que surge com o crescimento da automação e evolução de tecnologias.
JC - Em outubro, a entidade completará 95 anos. Qual a contribuição à sociedade?
Cardoso - Com muito orgulho. A Federasul sempre participou das importantes pautas de nosso Estado. É dessa forma que temos contribuído com o crescimento do RS, apoiando ou cobrando pautas alinhadas com os princípios da livre iniciativa, da economia de mercado, do respeito às liberdades individuais, sempre na busca do bem comum e do desenvolvimento sustentável. Uma entidade que representa mais de 80 mil empresas, de todos os portes e de todos os setores. Uma entidade que serve ao RS, como vimos, mais recentemente, em nossa luta pelo retorno para 25% das alíquotas majoradas de ICMS sobre itens essenciais como energia, gasolina, álcool e comunicação, e a retomada da alíquota do imposto para 17%.
JC - Quais as ações e projetos que devem marcar essa data?
Cardoso - Teremos uma programação intensa, com muitas atividades. A data do aniversário é 28 de outubro, mas já em julho iniciaremos a divulgação de podcasts gravados com os ex-presidentes, como uma forma de resgatar a história da entidade. Teremos um Tá na Mesa especial em comemoração aos 95 anos, no dia 26 de outubro, onde lançaremos uma obra alusiva ao aniversário. Em novembro, também celebraremos a data no Congresso Federasul 95 anos, em Gramado, reunindo todas as filiadas.
JC - O ano também será marcado pelas eleições. Como a Federasul irá se inserir nesse processo?
Cardoso - Participaremos ativamente desse processo, reafirmando nossas pautas, defendendo a visão de quem trabalha, produz e constrói o desenvolvimento econômico, com a geração de riqueza e de oportunidades para os gaúchos. Já estamos com debates com candidatos ao governo e ao Senado agendados para agosto. Será a oportunidade de ouvirmos as proposições, além de aprofundarmos o debate sobre o modelo de gestão e as políticas de desenvolvimento e de inovação que pretendem implementar. Também será a oportunidade de defendermos a manutenção dos avanços já conquistados, como o equilíbrio fiscal, em âmbito estadual, e a Reforma Trabalhista, em âmbito federal.
JC - Como a entidade investe na capacitação de suas afiliadas?
Cardoso - Capacitação é um tema muito importante para nós, sem educação não há inovação. A Federasul tem trabalhado para aprimorarmos a educação de nosso Estado, pois é a forma de preparar as novas gerações para os desafios do futuro. A entidade celebrou, ainda em 2021, parceria com a Fundação Dom Cabral, visando a facilitar o acesso de filiadas e associados a cursos de qualificação. Além disso, está desenvolvendo mais uma etapa de sua Escola de Líderes, com início previsto em agosto.
JC - Como o senhor projeta os próximos anos de atividades?
Cardoso - Projeto os próximos anos servindo ao Estado, ao empreendedor gaúcho, sempre pautada por princípios como livre iniciativa, economia de mercado, respeito às liberdades individuais, estímulo ao empreendedorismo, incentivo à educação, entre outras diretrizes e valores tão reforçados ao longo de nossos 95 anos de história.