Os varejistas gaúchos que sobreviveram à pandemia começam a virar a chave dos impactos da crise sanitária, apesar da falta de insumos em algumas categorias. E, a despeito da alta de dólar, inflação e juro e da redução da renda da população, estão retomando e até superando as vendas de 2019, ou seja, de antes da chegada do vírus ao País.
Lojas de moda, eletrodomésticos, materiais de construção e farmácias vêm adotando diferentes estratégias para se manter e crescer. Algumas estão investindo após ajustes, inclusive com fechamento de unidades. Mas outras, como revendas de automóveis, têm maior dificuldade pela dependência de crédito, a cada dia mais caro.
"O mercado deve ser olhado de maneira fatiada, quase isolada, não dá para generalizar", explica Irio Piva, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL Porto Alegre). Entre os setores beneficiados, cita restaurantes e agências de viagens, assim como vestuário, calçados e acessórios, estimulados pela proteção das vacinas, pela volta dos eventos e pelo retorno às atividades da vida cotidiana.
A rede de Lojas Renner é exemplo. "Percebemos que a retomada da mobilidade e da participação em eventos sociais tem contribuído para a necessidade de renovar o guarda-roupa. Com isso, temos visto maior fluxo, em especial na loja física, mas também no online. Esses fatores, aliados às frentes frias que atingiram o País, têm estimulado maior procura por peças de inverno, assim como itens mais voltados para situações profissionais e sociais, que os clientes não estavam usando tanto em função da pandemia", detalha Fabiana Taccola, diretora de Operações da Lojas Renner.
Essa maior procura por itens de moda se refletiu em um desempenho robusto de vendas no primeiro trimestre para a Renner, acima dos patamares de pré-pandemia: alta de 63% na comparação com o mesmo período de 2021 e de 35% na comparação com 2019. "A tendência se acelerou nos meses seguintes, alavancada pela boa aceitação da coleção outono-inverno, influenciada também por datas comemorativas", comemora a executiva da Renner.
Considerando o primeiro semestre, a rede de confecção e calçados Dullius ampliou o volume de vendas em 10%. "Estamos contando peças em vez de valor porque a inflação distorce os números", explica o empresário Claudir Dullius. Segundo o empreendedor, a pandemia obrigou a rede a ser melhor, inclusive com o fechamento de lojas em municípios em que operavam com várias unidades. "Fizemos mudanças que no andar tranquilo da carruagem não se fazia. Agora, nos questionamos: o que podemos fazer diferente e melhor?"
Na Spirito Santo, as vendas nos primeiros seis meses de 2022 estão dois dígitos acima do registrado em 2019, último ano antes da crise sanitária. "Já esperávamos uma demanda reprimida, pois vendemos muito para eventos, festas", diz Andreas Renner Mentz, proprietário e diretor-geral da empresa. A retomada começou nos últimos meses de 2021, incluindo a linha social, após um período em que foram ajustados o time e a operação e ampliado o mix casual, que ganhou mais variedade e número de itens.
Nas Lojas Hercílio, com sede em Pelotas, o faturamento do primeiro semestre também foi positivo. O incremento foi de 15% sobre os seis primeiros meses de 2019. "Estamos conseguindo vender com crescimento. É um bom recomeço", explica Vitor Colvara, proprietário da rede centenária de calçados que passou de nove para sete lojas nos últimos dois anos. Como ensinamento da pandemia, o proprietário relata que se readaptou e reduziu o volume de peças disponíveis. "Há três anos, o valor do custo do estoque era o triplo do que é hoje. Agora, trabalhamos com estoque mais enxuto, o que é positivo", destaca.
Empresários estão mais confiantes
Patrícia Palermo diz que sairá vencedor quem agir com estratégia
MARCELO G. RIBEIRO/JC
Há um otimismo maior entre os empresários. A percepção é confirmada pelo Índice de Confiança dos Empresários do Comércio (ICEC-RS), que ficou em 118,6 pontos em junho de 2022, maior índice desde dezembro de 2021, quando atingiu 119,8 pontos. Claro que ainda falta para voltar ao período pré-pandemia: em março de 2020, o indicador estava em 124,7 pontos, conforme levantamento da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), divulgado no início de julho. Mas o que explica essa perspectiva positiva entre os varejistas, diante dos problemas da economia? "Saímos de um cenário distópico. Mas já conhecemos inflação elevada, custos mais altos, baixo crescimento e juros em alta. É uma realidade reconhecida, o empresário já pensou em estratégias para lidar, mesmo que cada momento traga suas particularidades e riscos", observa Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio-RS.
Outros fatores apontados pela economista para a maior confiança dos empresários são o aumento do emprego e as medidas de impulso fiscal. Entre os exemplos, cita o adiantamento do 13º de pensionistas do INSS, os saques extraordinários do FGTS, o reajuste do salário mínimo e o Auxílio Brasil. "O dinheiro inesperado ajuda a impulsionar o consumo: a pessoa usa para pagar dívida e liberar crédito ou para comprar", afirma Patrícia, que emenda: "a conjuntura é desafiadora para todos. Mas sairá vencedor quem age com estratégia, quem entende melhor o mercado e as necessidades dos consumidores, que ajustam o seu negócio ao momento em que estamos vivendo", diz a economista da Fecomércio-RS.
Santa Catarina é cobiçada por redes gaúchas
A Lebes, que opera com lojas de grande porte no Rio Grande do Sul, aposta em modelos mais enxutos no estado vizinho
LUIZA PRADO/JC/Luiza Prado/JC
O estado de Santa Catarina tem se tornado estratégico para investimentos de diversos segmentos. De farmácias a lojas de materiais de construção, passando pelo setor de moda e eletrodomésticos, o destino limítrofe ao Rio Grande do Sul começou a ser cobiçado mais recentemente por redes gaúchas, que seguem os passos de outras marcas já conhecidas por nossos vizinhos, como Panvel e Renner.
Em operação desde o início de abril, a Elevato de Garopaba foi a primeira em território catarinense. "Abrimos para aprender sobre o mercado, pois temos um plano de expansão para Santa Catarina. Assim que se consolidar e entendermos as diferenças tributárias, já temos cidades mapeadas para abertura de novas lojas em 2023", conta Irio Piva, CEO da Elevato, explicando que a escolha do município foi motivada pelo grande volume de gaúchos que frequentam as praias da região.
A unidade ajudou a rede de materiais de construção a dobrar o número de lojas desde o início da pandemia. Hoje, são 19 unidades de materiais de acabamento e uma de móveis. A mais recente abertura foi em Guaíba, no início de julho, mas outras três também foram inauguradas este ano: Rio Grande, Porto Alegre (bairro Moinhos de Vento), além de Garopaba. "Temos um plano de investimento e estamos colocando em prática, mesmo com certa retração do mercado", detalha Piva.
A maior parte das inaugurações recentes da Lebes é no interior da vizinha Santa Catarina, que hoje conta com 42 filiais e, a maior parte, no formato de loja compacta. "Chegamos mais próximos das pessoas que têm dificuldade de ir até os grandes centros ou de ter acesso à internet", explica Otelmo Drebes, presidente da Lebes. Com 150 metros quadrados, as unidades têm expostos os chamados produtos de curva A, de maior giro. Já os demais itens estão disponíveis de forma virtual. A abertura de lojas está acelerada na Lebes. Em um ano, foram cerca de 100 novas operações, que hoje totalizam 300 lojas.
Na área da saúde, as Farmácias Associadas irão oficializar a expansão para solo catarinense no dia 26 de julho, com um evento em Tubarão para empresários.
O objetivo é atrair mais sócios para a cooperativa, que conta com seis lojas no Sul de SC. Este ano, a rede pretende ainda ampliar a expansão para outros estados, iniciada em 2018 com Mato Grosso do Sul, que conta com 90 lojas, além de Goiás, com 25 unidades. No Rio Grande do Sul, a meta para o ano, que era de 980 farmácias, já foi superada: a rede fechou o primeiro semestre com 990 lojas. A expectativa é ultrapassar as 1,2 mil lojas ainda em 2022. "O crescimento é bem maior fora do Estado. No Rio Grande do Sul, ainda temos espaço para abertura, mas pouco em relação a outros mercados", explica Ben Hur Jesus de Oliveira, presidente da cooperativa.
O objetivo é atrair mais sócios para a cooperativa, que conta com seis lojas no Sul de SC. Este ano, a rede pretende ainda ampliar a expansão para outros estados, iniciada em 2018 com Mato Grosso do Sul, que conta com 90 lojas, além de Goiás, com 25 unidades. No Rio Grande do Sul, a meta para o ano, que era de 980 farmácias, já foi superada: a rede fechou o primeiro semestre com 990 lojas. A expectativa é ultrapassar as 1,2 mil lojas ainda em 2022. "O crescimento é bem maior fora do Estado. No Rio Grande do Sul, ainda temos espaço para abertura, mas pouco em relação a outros mercados", explica Ben Hur Jesus de Oliveira, presidente da cooperativa.
Precursora, a Panvel está presente no estado vizinho desde 1985. Hoje, são 64 lojas em Santa Catarina, que deve receber novas unidades, assim como Rio Grande do Sul e Paraná. "Nossa previsão é fecharmos 2022 com 65 novas lojas, que serão distribuídas de forma equilibrada entre os três estados da Região Sul, foco do plano de expansão da empresa neste momento", conta Julio Mottin Neto, CEO do Grupo Panvel. O ritmo de expansão segue consistente há anos. Em 2021, a empresa atingiu o recorde de 60 novas lojas, além de instalar um centro de distribuição em São José dos Pinhais (PR). Neste primeiro semestre de 2022, a meta de 30 inaugurações também foi ultrapassada, com seis em Porto Alegre. Atualmente, são mais de 550 lojas entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Presente em Santa Catarina há anos, a Lojas Renner mantém um ritmo de inaugurações que retomou no ano passado, após desacelerar em 2020 em razão da pandemia. Foram 20 aberturas de lojas no Brasil em 2021, sendo quatro no Rio Grande do Sul: Garibaldi, Bagé, Farroupilha e Torres. E, apenas no primeiro semestre deste ano, mais oito unidades entraram em operação no País, sendo três no Estado: Sapucaia do Sul, Bento Gonçalves e Porto Alegre. Hoje, a Renner tem 398 filiais no Brasil (410 incluindo Uruguai e Argentina), sendo 48 no Rio Grande do Sul. A previsão é fechar o ano com cerca de 20 novas operações Renner.
No sentido contrário, a Spirito Santo, de moda masculina, deixou de operar momentaneamente com lojas próprias em Santa Catarina para concentrar esforços no Rio Grande do Sul. Hoje, está presente em multimarcas no estado vizinho, mas deve retomar em breve, pois é um mercado promissor para os produtos da marca. "Estamos cuidando do jardim. A partir da loja de Gramado, que abriremos até final de julho, devem vir outros parceiros. Nossa preocupação é termos boas operações", conta Andreas Renner Mentz, proprietário e diretor-geral da empresa. A reestreia em Gramado promete ser em grande estilo.
Além de ser a primeira operação aberta após a pandemia, tem como ambição se tornar uma atração turística. "Há uma relação pessoal da minha família com a cidade e agora estamos voltando com uma superloja", diz o executivo. A unidade, que terá espaços para shows, traz ainda uma outra proposta diferenciada: Mentz foi ao acervo do bisavô A. J. Renner e garimpou peças da fábrica de costura para expor na loja.
Empresas adotam multicanais de vendas
Tendência é que dados ajudem marcas a entenderem melhor os clientes do online
/LUIZA PRADO/JC
A integração entre canais físicos e digitais de atendimento e venda, a chamada estratégia omnichannel, é cada vez mais comum em médias e grandes varejistas. A Renner já estava em transformação digital e apostando em uma estratégia omnichannel quando a pandemia chegou.
"Disponibilizamos novos canais de atendimento, implementamos melhorias na experiência de compra dos clientes, com mais autonomia, aprimoramos o pós-venda e avançamos no uso de dados para personalizar ainda mais a oferta de produtos e serviços", detalha Fabiana Taccola, diretora de Operações da Lojas Renner.
Para o futuro, a Renner acredita na continuidade e no fortalecimento do ambiente omni. "O varejo deve oferecer uma experiência cada vez mais fluída para o cliente, com integração de canais em toda sua jornada de consumo, entregando encantamento desde o momento da pesquisa de produtos até o pós-venda", reforça Fabiana. A empresa seguirá investindo na estratégia omnichannel, aliada a uma análise de dados que permita conhecer ainda mais os clientes e, assim, personalizar o relacionamento.
A integração na Lebes é reforçada por meio do conceito de lojas compactas, modelo em que a empresa vem investindo fortemente e que expõe apenas parte dos produtos nas lojas e a maior parte on-line. "Estamos implantando a omnicanalidade, procurando deixar o cliente escolher onde quer comprar, integrando estoques", explica conta Otelmo Drebes, presidente da Lebes.
Após dois anos praticamente sem investir à espera de o mercado se acomodar, este ano a Lebes está aplicando mais de R$ 20 milhões na abertura de lojas, melhorias nas unidades existentes e em tecnologia da informação. "Acredito muito em mim e nas pessoas que me rodeiam, independentemente de quem vai ser eleito, acredito no Estado, no Brasil. Este é o espírito que temos dentro da empresa, uma empresa moderna, organizada, de gente de alto astral", completa Drebes.
Marketplace ganha reforço e atrai novos players
Rede de farmácias aposta na tecnologia para fazer com que a internet funcione como complemento das lojas físicas, permitindo que o cliente tenha comodidade de encontrar tudo num único local
/Andressa Pufal/JC
A entrada da Rede Panvel no marketplace neste mês de julho reforça a importância da plataforma de e-commerce no setor varejista de diferentes segmentos. Ao reunir vários lojistas em um mesmo ambiente de vendas, a ideia da rede de farmácias é fazer com que a ferramenta funcione como complemento das lojas físicas para que o cliente tenha comodidade de encontrar tudo num único local.
De acordo com Julio Mottin Neto, CEO do Grupo Panvel, a plataforma terá maior variedade de produtos dentro das categorias existentes, com a ampliação da linha de perfumaria, produtos eletrônicos na área de beleza, produtos ortopédicos, entre outros.
Em uma segunda fase, estarão disponíveis novas categorias no segmento de bem-estar, beleza e conveniência para a família, como equipamentos médicos e hospitalares. A expectativa é passar de 15 mil SKUs (Unidade de Manutenção de Estoque) para mais de 100 mil SKUs.
Outra estreante na modalidade é a Redemac, de materiais de construção, que vem investindo na digitalização das marcas. O marketplace está em fase piloto e o lançamento no mercado deve ocorrer em setembro, após R$ 300 mil de investimentos no desenvolvimento de uma plataforma própria, conta Fernando Lopes, diretor-executivo da empresa.
Já a Renner está neste mercado há mais de um ano, quando lançou o Alameda Renner, marketplace da marca, em maio de 2021. Hoje, são mais de 290 lojas parceiras de diferentes categorias e marcas, que disponibilizam mais de 80 mil produtos, entre vestuário, calçados, acessórios, lingeries, moda esportiva, beleza, perfumaria, bem-estar e casa e decoração. E os resultados já começam a aparecer. O marketplace da Renner finalizou o primeiro trimestre de 2022 com 212 lojas parceiras, aumento de 37% no sortimento em relação ao último trimestre do ano passado e representando cerca de 5% das vendas realizadas no e-commerce da varejista.
"Cabe destacar que a Renner vem investindo fortemente na curadoria de vendedores parceiros, pois o foco é enriquecer o mix de itens no ambiente online, em sintonia com o posicionamento de mercado da marca e especial atenção à qualidade", destaca Fabiana Taccola, diretora de Operações.
Cenário é mais desafiador para pequenos empresários e setores que dependem de crédito
A realidade de pós-pandemia afeta de forma diversa pequenos e grandes lojistas, assim como os diferentes segmentos do varejo. O cenário é mais complicado para o pequeno comércio, que tem condição diferente do grande, considera Patrícia Palermo, economista da Fecomércio-RS. Irio Piva, presidente da CDL, concorda. "O consumo está muito relacionado ao estado de espírito e condição econômica da pessoa", observa.
Entre os setores em dificuldade estão os de informática, celulares e automotivo. Este último, mais sensível aos juros altos que impactam os financiamentos e à crise no abastecimento de componentes, que paralisou fábricas. Enquanto o mercado automotivo de novos e seminovos saiu prejudicado, as vendas de motocicletas ganharam fôlego, assim como os veículos eletrificados e híbridos. Mais caros e com mais tecnologia, essas categorias se destinam a uma parcela da população que sofre menos o impacto da crise. "Tem uma classe que não tem crise, muito plugada e conectada, que está comprando elétricos. Os modelos são caros, mas é o que todos querem", afirma Álvaro Belini, da revenda Daltro & Belini, de Porto Alegre.
Para reverter a queda nas vendas de automóveis, que caíram 10% este ano, a Sun Motors busca automóveis e utilitários Kia mais completos, com maior nível de procura. Além disso, explica o sócio Jefferson Furstenau, a empresa oferece maior flexibilidade nas condições de pagamento, incluindo possibilidade de parcelamento no cartão de credito e a estratégia de comprar em grande volume unidades em promoção. Já na revenda de motos Suzuki e HaoJue, Furstenau detalha que a situação se inverte, com alta de 15% nas vendas. Cautela é palavra de ordem na Daltro & Belini. "Desde outubro, o mercado vem freando. A inflação deteriorou o poder de compras. Por isso, é preciso cautela. Temos muitos anos de mercado e estamos trabalhando com segurança, sem criar passivo judicial, fiscal ou endividamento", conta Belini, que espera para o segundo semestre uma retomada a partir das benesses fiscais concedidas à população, que tem efeito multiplicador. "Pode ser a grande saída para movimentar a economia de forma geral."
Diferentes estratégias para driblar alta de preços e juros
Os segmentos que captam consumidores de maior renda não foram tão afetados pela pandemia, como é o caso da Elevato, que foi impactada pela alta dos preços, mas em grau menor do que quem atua em outros nichos
/Andressa Pufal/JC
A combinação de inflação e juros altos é um dos percalços a ser encarado para o setor varejista manter ou ampliar vendas. Na rede Dullius, de Cruzeiro do Sul, a solução foi oferecer 100 dias para o consumidor começar a pagar, aumentar o número de parcelas para reduzir o valor das prestações e ser mais criteriosa na concessão de crédito. "A economia preocupa, mas a crise não chegou tão forte como tínhamos receio. Percebemos que as pessoas estão gastando, pois os brasileiros têm esperança que lá na frente melhore", explica o empresário Claudir Dullius, destacando que os preços de confecção e calçado não subiram tanto quanto outros produtos e serviços.
Já a Renner conta com a expertise da equipe para driblar alta de preços. "Por meio do conhecimento técnico do nosso time e do uso de dados, somos capazes de desenvolver coleções cada vez mais assertivas e trabalhar com estoques enxutos, evitando excedentes e investindo continuamente na qualidade dos nossos produtos", afirma Fabiana Taccola, diretora de Operações da Lojas Renner. Segundo a executiva, essas medidas permitem que, mesmo em um cenário macroeconômico de alta inflação como o atual, a empresa possa absorver e reduzir parte do aumento com ganho de eficiência operacional.
Na Lebes, o presidente Otelmo Drebes percebe que os produtos que aumentaram muito de preço já estão baixando. "Notamos uma estabilização de preços, com ofertas, melhores condições e descontos", explica o dirigente. O aumento das vendas da Lebes ocorre a despeito da realidade do mercado. "Abocanhei uma fatia de outras empresas que tiveram atividades afetadas ou que encerraram", esclarece Drebes. Outros fatores que ajudam a melhorar os resultados, segundo o empresário, são a volta das festas e atividades, a facilidade no crediário e o trabalho especializado de suas equipes.
Na área de materiais de construção, a Redemac apostou em planejamento como forma de reduzir o impacto da inflação. O ponto de venda ganhou atenção, assim como a qualificação de toda a equipe: de motoristas, atendentes até lideranças. "Na loja, capacitamos vendedores e agregamos valor na venda, que é consultiva e técnica", detalha Fernando Lopes, diretor-executivo da empresa. Também a área de negociação buscou estabelecer alianças estratégica com marcas líderes de mercado e outras de preço mais acessível. "O poder aquisitivo do assalariado vem caindo vertiginosamente e muitos têm necessidade urgente na manutenção e reposição de suas casas", observa Lopes.
A inflação é um problema para todos, pois acaba corroendo o poder de compra das pessoas. Mas, no segmento de bens duráveis, que depende de financiamento, a maior dificuldade é o juro alto, pois desestimula a compra, considera Irio Piva, CEO da Elevato. De acordo com o empresário, a Elevato também é afetada pela alta de preços, mas em grau menor pois atua em um segmento de maior renda, que é menos afetado pela inflação e juros altos.
Para as farmácias, a retração de renda e a alta inflação de inflação prejudicam o setor, mas como os produtos são de primeira necessidade, o impacto também é menor. Segundo informa Ben Hur Jesus de Oliveira, presidente da Farmácias Associadas, a dificuldade maior é a falta de medicamentos. "Não temos onde recorrer pois a escassez ocorre nas fábricas. O que auxilia são os estoques."