Em seu terceiro mandato à frente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn entende que a pandemia do coronavírus segue sendo uma coadjuvante relevante na economia, mas não é mais a protagonista. Neste contexto de enxergar outras perspectivas, ele acredita que 2022 será melhor que 2021 e celebra as ações recentes da entidade. O foco está na aproximação com startups e na aposta em tecnologias para impulsionar os negócios.
Jornal do Comércio - Qual sua avaliação sobre o cenário do comércio em relação ao ano passado?
Luiz Carlos Bohn - Não há dúvidas que vivemos um momento melhor. O início do ano passado foi marcado por uma piora significativa da pandemia que culminou na temida bandeira preta em todo o Estado. O comércio fechou mais de uma vez as portas por semanas e a incerteza tomava novamente conta de todos. Em 2022, apesar da variante Ômicron fazer um estrago relevante no Hemisfério Norte, por aqui os efeitos foram muito menores. A reabertura da economia prosseguiu sem maiores percalços e isso contribui para um aumento da confiança de empresários e consumidores. Desde o início da pandemia, nós dizíamos que as vacinas curariam a economia, e se viu isso na prática. As vacinas devolveram as pessoas às ruas e o aumento da mobilidade impactou positivamente o comércio, os serviços e o turismo. O mercado de trabalho se recuperou muito mais rápido do que o esperado, criando vagas em praticamente todas as áreas. O problema é a inflação, que corrói salários e prejudica o poder de compra, e os juros que, em ascensão para limitar a dinâmica inflacionária, tornam o crédito mais caro e impulsionam a formação de poupança, travando o crescimento. No Interior, a seca também frustrou os resultados. Se não tivéssemos esse cenário, estaríamos numa situação muito melhor. O que vem reduzindo esse impacto negativo de inflação e juros altos têm sido os inúmeros impulsos fiscais que tivemos recentemente. A lista é longa e tem impacto relevante nas vendas do primeiro semestre: houve a ampliação de transferências sociais através do Auxílio Brasil, o pagamento do abono salarial de 2020 adiado do fim de 2021 para o início de 2022, o adiantamento do 13º salário de aposentados e pensionistas, a liberação parcial dos saques do FGTS, aumento do limite do crédito consignado para aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais, microcrédito para pessoas físicas e MEIs e redução de IPI. Além disso, o clima ajudou a venda de vários segmentos. O frio antecipado e mais forte que o esperado aqueceu as vendas de vestuário, calçados e eletrodomésticos.
JC - E quais as expectativas para esse ano?
Bohn - O ano de 2022 aponta para ter um crescimento maior do que em 2021 em virtude especialmente do que aconteceu até aqui. O segundo semestre, porém, tem seus desafios. Muitos dos impulsos saem de cena ou perdem força, corroídos pela inflação. A taxa de juros mais alta também vai cobrar seu preço. Esperamos que a inflação dê uma folga e as medidas recentemente anunciadas, pelo menos no curto prazo, liberem espaço no orçamento das famílias para realocação de consumo.
JC - Quais as metas da Fecomércio-RS para este ano?
Bohn - O cenário pós-pandemia tem trazido diversos desafios para o setor terciário e um deles é atuar cada vez mais de forma criativa e inovadora. Nosso principal foco é a integração dos sindicatos que enfrentaram dificuldades com a crise trazida pela Covid-19. Estamos trabalhando para ajudá-los em estrutura física e organizacional. Com tecnologia e uma boa gestão de negócios, vamos nos esforçar para colocar os parceiros no futuro do trabalho, adaptados ao novo normal. A capacitação das nossas lideranças é um dos grandes diferenciais da nossa Federação. Por isso, estamos promovendo o Programa de Desenvolvimento de Lideranças e também o projeto Sindicato Mais Forte, que oferece os mais variados serviços nas áreas de negócios, gestão, economia, relações governamentais, sindical e trabalhista para que os sindicatos possam atender seus associados e representados com excelência. Além disso, para conhecermos ainda mais a realidade local e aumentarmos nossa proximidade com os sindicatos, retomamos presencialmente dois importantes eventos: o Giro pelo Rio Grande, realizado em diversas regiões do Estado, indo ao encontro do empresário com temas relevantes em negócios, economia e política, além das Reuniões Regionais, para sermos escuta ativa das questões que temos na ponta.
JC - Onde ocorrem esses projetos?
Bohn - O Giro Pelo Rio Grande já passou pela cidade de Alegrete em junho e, nos próximos meses, passará por Farroupilha, Jaguarão e Santo Ângelo. As Reuniões Regionais iniciaram em Rio Grande e, para os próximos meses, já temos uma extensa agenda que passará pelas cidades de Cachoeirinha, Nova Prata, Santana do Livramento, Santa Cruz do Sul e Erechim. Sempre em busca de melhores soluções, uma das nossas grandes entregas nesta gestão será o projeto "Representa ", uma plataforma digital que possibilitará a participação ativa na formulação das leis que impactam direta ou indiretamente nos negócios. Com esse projeto, conseguiremos aumentar ainda mais a nossa força, acelerando mudanças positivas. Também entregamos neste ano o Lab Fecomércio, que tem como propósito estreitar a relação das empresas do Sistema com o ecossistema de inovação, fazendo com que as nossas empresas adotem de forma mais fácil e rápida inovações que melhorem seus negócios.
JC - Como avalia o impacto do momento atual da pandemia?
Bohn - Cada vez mais a pandemia perde o protagonismo, mas, sem dúvida nenhuma, continua sendo uma coadjuvante relevante. O mundo vive as sequelas da pandemia: a inflação, a falta de matérias-primas e componentes, os fretes elevados, tudo isso decorre da imensa desorganização gerada pela pandemia e pelas medidas implementadas para combatê-la. Acreditamos que dificilmente teremos uma situação de Covid zero, como a China insiste, erroneamente, em buscar. Isso era possível no passado quando esse vírus não circulava, agora é impossível. Precisamos continuar nos cuidando para que não tenhamos novas ondas de contaminação, mas, sem dúvida, já avançamos muito no desenvolvimento de mecanismos (vacinas, medicamentos) de conviver com o coronavírus de uma maneira menos danosa à vida e à economia.
JC - Como está sendo o envolvimento do ecossistema empreendedor no Fecomércio Lab?
Bohn - Temos tido uma resposta muito positiva com empresários. Em menos de dois meses de operação, já estamos com sete startups entregando suas soluções para as empresas do comércio. De forma geral, percebemos que a conexão com as empresas já estabelecidas tem muito valor para as startups, o que tem levado a uma procura muito intensa. No mês de julho, lançaremos nosso primeiro processo próprio de incubação, onde buscaremos 20 startups com soluções para as dores do nosso segmento. Estamos com expectativa muita positiva para este movimento e temos percebido que um ganho colateral é o fomento de uma cultura de inovação para as nossas empresas.
JC - De que forma a comunidade se envolve com a entidade?
Bohn - A meta é continuar oferecendo educação de qualidade, saúde, convívio social e bem-estar para o maior número de gaúchos. Para os próximos anos, a inovação e a geração de valor dentro da sala de aula está no escopo de trabalho do Senac, com a oferta de novas tecnologias alinhadas com as reais demandas. E o Sesc retorna com eventos presenciais em três grandes projetos: o Festival Palco Giratório, Festival Internacional de Música, além do Dia do Desafio.
JC - Como o ano eleitoral impacta o setor e a Federação?
Bohn - Em primeiro lugar, a rotina dos Parlamentos muda. Surgem dificuldades para encaminharmos algumas demandas rotineiras do nosso setor. Por outro lado, nos abre uma oportunidade importante para discutir pautas fundamentais.