Apontada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como a melhor permissionária de energia elétrica do País, na categoria acima de 10 mil consumidores, a cooperativa Certel, de Teutônia, projeta um ano de aumento nos investimentos para se tornar autossuficiente na geração de energia, especialmente para grandes indústrias entre os Vales do Taquari, Rio Pardo, parte da Serra e do Vale do Paranhana.
Serão aportados R$ 110 milhões, volume 35% superior ao que foi investido pela cooperativa em 2023. No pacote de investimentos estão a expectativa de dar início a duas obras de hidrelétricas nos rios Forqueta e Taquari, capazes de garantir, quando em operação, geração de energia para 120 mil pessoas.
"De um lado, na área da geração, que terá nossos maiores investimentos, tivemos um ano de preparação para nossos dois maiores projetos, e agora, possivelmente a partir de maio, poderemos finalmente ter as máquinas trabalhando nas obras para a PCH (Pequena Central Hidrelétrica) Vale do Leite e a hidrelétrica Bom Retiro. De outro, o setor de distribuição foi muito desafiado pelos fenômenos naturais em 2023, e isso nos obriga a investirmos muito na qualificação da rede e da infraestrutura para seguirmos oferecendo um serviço confiável ao consumidor", explica o presidente da Certel, Erineo José Hennemann.
Somente na geração de energia, a Certel planeja investir R$ 70 milhões em 2024. A maior fatia deste recurso será destinada ao possível início das obras para erguer a PCH Vale do Leite, no Rio Forqueta, entre os municípios de Pouso Novo e Coqueiro Baixo. A projeção é aportar mais de R$ 20 milhões na construção da estrutura neste ano.
"É o nosso projeto mais próximo de iniciar as obras. Havia a expectativa de iniciarmos no último ano, mas não aconteceu. Temos todos equipamentos já comprados e estamos preparados, somente aguardando a liberação pelos órgãos ambientais", diz o presidente da cooperativa.
A usina terá capacidade de geração de 6,4 MW, com potencial para abastecer 20 mil pessoas na região. A partir do início das obras, a perspectiva é finalizar o projeto em 18 meses. Orçada em R$ 74 milhões, a PCH Vale do Leite teve pelo menos 40% – em torno de R$ 30 milhões – deste valor já desembolsado no ano passado, quando a cooperativa adquiriu duas turbinas, dois geradores e todos os painéis que servirão de controle da futura usina foram contratados.
No mesmo Rio Forqueta, onde a Certel já opera duas hidrelétricas, estão em fase final pela cooperativa os estudos para os projetos básicos de levantamento que comprovam o potencial de construção de mais três usinas.
O maior projeto para a geração hidrelétrica da Certel, no entanto, está sendo desenvolvido no rio Taquari, e já tem a licença de instalação garantida pelo Estado. A expectativa da cooperativa é iniciar as obras da hidrelétrica Bom Retiro até o início do segundo semestre deste ano.
As futuras instalações terão potencial de gerar 35,18 MW, podendo abastecer 100 mil pessoas. Ao todo, o projeto é orçado em R$ 250 milhões, e neste ano, projeta Erineo Hennemann, deve absorver em torno de R$ 20 milhões em aportes iniciais para a sua construção.
"Este é o projeto que garantirá autossuficiência à cooperativa na geração de energia para grandes indústrias. E é completamente integrado, já que o projeto de conexão também é da Certel, em Teutônia. Então, neste caso, teremos a garantia de ponta a ponta do sistema", aponta o presidente.
A partir do início das obras, a usina deverá estar operando em três anos. De acordo com o dirigente, neste momento o projeto executivo da obra está em fase final, e a expectativa é de que esta fase seja concluída em até quatro meses. Entre as definições do projeto executivo está, por exemplo, o número de turbinas que vão operar na nova usina. Inicialmente, projetavam-se quatro turbinas, mas a ideia agora é ter seis.
Em 2023, foram investidos os primeiros R$ 6,2 milhões na hidrelétrica Bom Retiro, entre os municípios de Bom Retiro do Sul e Cruzeiro do Sul, junto à barragem já existente no rio Taquari. Entre os processos burocráticos enfrentados no ano passado para levar adiante o projeto, esteve a negociação com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para licitar a recuperação da eclusa existente neste ponto do rio.
Primeira usina eólica da cooperativa será em Teutônia
Ainda na geração de energia, a Certel finaliza em outubro deste ano o período de medições de ventos na área que pretende instalar sua primeira usina eólica, em Teutônia. E a perspectiva é mais positiva do que o esperado inicialmente.
"Em muitos meses, temos observado ventos superiores aos considerados melhores do Estado, e isso nos fez repensar o projeto. Poderemos aumentar a capacidade da futura usina eólica de 40 MW para 60 MW, com um potencial para abastecer 180 mil pessoas. Os projetos para darmos início ao licenciamento ambiental devem ter início logo após o final do período de medição de ventos", detalha o presidente da Certel.
Considerada a maior cooperativa de energia elétrica do Rio Grande do Sul, a Certel tem 76 mil consumidores entre 48 municípios. Em 2023, o consumo industrial representou 18,9% da distribuição da cooperativa. Um volume que sofreu diretamente com a crise das cooperativas na região do Vale do Taquari.
Enquanto em todo o Estado houve uma redução média de 0,10% no fornecimento de energia para o setor industrial, na área da Certel, a queda foi de 7,31%. E a explicação tem nome. As operações da Languiru tinham a maior fatia deste setor, e tiveram uma redução de 80% no consumo.
A expectativa de Erineo Hennemann é de que 2024 seja o ano do início dessa recuperação. A intenção é incrementar em 8% o alcance da distribuição no setor industrial. "Temos uma grande oportunidade com a comercialização aberta de energia para captarmos novos clientes. E isso só será possível com uma operação cada vez mais confiável. É nisso que temos concentrado nossas ações depois de termos sido muito desafiados em 2023", comenta o dirigente.
Cooperativa reforça a rede de distribuição de energia

Certel faz investimentos em sua rede de distribuição de energia. Certel/Divulgação/JC
Com a previsão de investir R$ 30 milhões no setor de distribuição e outros R$ 10 milhões na sua fábrica de postes de concreto – a maior do Estado, em Teutônia –, a Certel espera ter a sua rede ainda mais preparada para as intempéries.
"Todos os nossos 110 mil postes já são de concreto, e temos uma ideia de que o mercado cada vez mais demandará esse tipo de material, por isso, ampliaremos em 10% nossa capacidade de produção de postes, e ainda avançaremos na produção de estruturas pré-moldadas para a indústria", explica Erineo Hennemann.
Além dos postes, os recursos serão aplicados em qualificação nas torres e subestações, mas especialmente em um novo formato de operação da sua rede de distribuição, com a implantação dos chamados circuitos em anel. Significa que, caso haja queda de energia em um ponto da rede, a alimentação pode ser suprida pela energia que vem de outro lado da rede.
De acordo com Hennemann, há ainda investimentos em religadores e chaves que podem ser controlados à distância, inclusive com a aplicação de inteligência artificial para rápida solução no momento em que o sistema detecta falhas na rede.
Ficha técnica
Investimento: R$ 110 milhões
Estágio: Em execução
Empresa: Cooperativa Certel
Cidades: Teutônia, Pouso Novo, Bom Retiro do Sul
Área: Infraestrutura
Investimentos em 2023: R$ 74,7 milhões