A Gerdau investirá R$ 250 milhões na modernização das suas operações no Rio Grande do Sul em 2023. A confirmação do investimento, que faz parte dos R$ 5 bilhões em aportes aprovados pelos Conselho de Administração da empresa para este ano, foi feita com exclusividade para o Jornal do Comércio pelo CEO da companhia, Gustavo Werneck, após a sua apresentação no dia de abertura da South Summit, em Porto Alegre. As informações constam no Anuário de Investimentos 2023 do Jornal do Comércio.
"O Rio Grande do Sul é a nossa casa, é onde começamos a nossa história há 122 anos, e por isso, uma região muito importante para nós. Investiremos não para ganharmos em volume de produção, mas em qualidade na produtividade. São aportes para aquisição de novos equipamentos e implantação de novos e mais modernos processos para que o aço que sairá daqui responda à transformação que a indústria está demandando", explica o executivo.
O recurso será destinados às unidades Riograndense, em Sapucaia do Sul - como complemento aos R$ 200 milhões investidos na modernização da aciaria no ano passado - e, em sua maior parte, à Usina de Charqueadas, especializada em aços especiais para a indústria automobilística. "Estamos falando da produção de aços para a fabricação de carros, caminhões e ônibus híbridos e elétricos, com uma exigência cada vez maior por aços mais resistentes e limpos. Atenderemos plenamente a esta exigência cada vez maior", aponta Werneck.
De Charqueadas, saem anualmente 450 mil toneladas de aços especiais por ano. De acordo com a Gerdau, 15% da produção é destinada à exportação.
A usina Riograndense, em Sapucaia do Sul, tem a mesma capacidade produtiva de 450 mil toneladas anuais em relação aos aços longos. A perspectiva é de que em julho deste ano esteja encerrado o investimento na modernização da unidade, que exigiu o fechamento da aciaria ainda no ano passado. "Foi uma parada longa, que ao final, elevará a nossa produção de aços aqui no Rio Grande do Sul a um outro patamar tecnológico e de qualidade", garante o executivo.
Inovações com resultados
Durante a programação do South Summit Brazil, Gustavo Werneck apresentou o processo de organização ambidestra acelerado a partir da crise de 2014 na empresa, que é a maior produtora de aço do Brasil e uma das principais fornecedoras de aços longos nas Américas e de aços especiais no mundo.
"Foi quando iniciamos uma transformação cultural na empresa, como forma de atingirmos a capacidade de ir ao limite da performance da Gerdau em seus negócios tradicionais para podermos financiar novos e inovadores projetos. Não poderíamos implantar essas mudanças sem resultados. É um caminho longo, mas eles estão acontecendo", valoriza.
A transformação é representada pela chamada Gerdau Next, que se divide em quatro clusters: construtechs, mobilidade, sustentabilidade e inteligência artificial. Segundo Werneck, são escaneadas pelo menos 2,4 mil empresas e potenciais inovações para serem implantadas nas operações tradicionais e nos novos negócios da Gerdau.
"Não somos uma butique de investimentos. Atuamos nas áreas em que temos conhecimento e, a partir da transformação interna da empresa, incentivamos o desenvolvimento de inovações. Hoje, por exemplo, em Ouro Branco (MG), implantamos tecnologia 5G em toda a unidade. Quando chegam à empresa pela manhã, os executivos conseguem, a partir do algoritmo, detectar onde há maior possibilidade de acidentes e agir rapidamente para eliminar essa possibilidade. O resultado é melhor produtividade e redução de perdas", aponta.
E, mesmo tendo encerrado o ano de 2022 com o recorde histórico de R$ 82,4 bilhões de receita líquida, e um EBITDA ajustado de R$ 21,5 bilhões, Werneck revela que a Gerdau calcula ter um percentual de ineficiência _ perdas nos processos _ de até 20% do EBITDA.
"Estamos falando de R$ 4 bilhões em potencial para realizarmos. E são justamente os processos inovadores e criativos que nos levarão a melhorarmos nosso desempenho", afirma.
Fundada há 122 anos em Porto Alegre como uma fábrica de pregos, a Gerdau hoje conta com 32 unidades em 10 países, e quase 30 mil colaboradores.
Ficha Técnica
Investimento:
R$ 250 milhões
Estágio: Em execução
Empresa: Gerdau
Cidades: Charqueadas e Sapucaia do Sul
Área: Indústria
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Investimentos em 2022:
R$ 200 milhões
Planta é polo tecnológico para indústria automobilística
Jornal do Comércio - De que maneira o investimento de R$ 250 milhões, somado aos R$ 200 milhões de 2022, conversa com as inovações de processos apresentadas no South Summit?
Gustavo Werneck - A nossa usina de Charqueadas, basicamente, ao longo deste investimento em modernização, será transformada no estado da arte daquilo tudo que podemos ter em termos de usinas produtoras de aços especiais. Eu diria que Charqueadas concentra hoje o nosso grande polo tecnológico de aços especiais para a indústria automobilística. É ali que vamos encontrar toda a tecnologia que a gente precisa para suportar a transição da indústria automobilística brasileira. O RS é absolutamente relevante para nós neste setor e, considerando as transformações que a empresa tem promovido, os aportes em Sapucaia e Charqueadas respondem ao nosso grande foco de tornar nossos processos mais robustos.
JC - Qual o papel do Rio Grande do Sul neste braço de inovação, a Gerdau Next?
Werneck - A Usina de Charqueadas se conecta com esse conceito de ambidestria de maneira muito intensa. No cluster de mobilidade, fomentamos não apenas parcerias com nossos clientes tradicionais, como também novos negócios. É aqui no que está um dos principais exemplos de novos negócios relacionados à mobilidade, em parceria com a Randon, chamada Diante, parceria de duas empresas do RS para criar um negócio que não existia. Então, uma empresa focada no aluguel de equipamentos pesados e caminhões, que transcende à tecnoogia da produção do aço. É só o começo de novas parcerias que a Gerdau Next pode desenvolver aqui no Rio Grande do Sul.
JC - Como se aplica esta mudança de cultura com resultados rápidos?
Werneck - Queremos ser um dos produtores de aço mais sustentáveis do mundo. Desde que iniciamos esta transformação e traçamos esta meta, percebi que, como CEO da empresa, sou facilitador deste processo. Cada vez mais acredito que cultura vem antes da estratégia. Porque as coisas mudam tão rapidamente, que não adianta elaborar uma estratégia e um mês depois as coisas mudarem. A cultura é quem cria o ambiente para progredirmos rapidamente. Na prática, estou falando de melhorar nossa capacidade de ouvir, de incentivar mais colaboração e tolerância ao erro. Cria-se um ambiente onde, de fato, podemos usar ao máximo o potencial criativo das pessoas, um ambiente de autonomia.
JC - O senhor fala de um gap de ineficiência de R$ 4 bilhões em um ano de receita recorde da empresa. Como se interpreta isso no dia a dia?
Werneck - É uma lacuna, a diferença entre qualquer coisa que você faz na vida pessoal ou empresarial e aquilo que gostaria de ser no futuro. Todos nós deveríamos estabelecer planos. Quando olhamos a preformance da Gerdau tradicional e as ineficiências que a gente pode capturar, à medida em que avançarmos na implantação de inovações, percebemos que poderíamos estar com um resultado maior. Por isso estamos investindo em ferramentas que nos possibilitam atacar a ineficiência mais rapidamente
JC - Hoje, 15% da produção entre Sapucaia e Charqueadas são para exportação. Em que nível o aço produzido aqui compete no mercado internacional?
Werneck - O Brasil está perdendo uma grande oportunidade de fomentar as exportações. Tenho 115 pessoas aqui na área tributária e nos Estados Unidos, sete. Isso mostra o tamanho da confusão tributária que há no Brasil. Dentro dos muros das nossas plantas brasileiras, elas são muito competitivas, e produzem com qualidade de igual para igual com qualquer produtor de aço do mundo. A grande questão são os problemas fora dos muros das unidades, logísticos e tributários, principalmente. Quando nós eliminarmos no Brasil essa ineficiência do que está fora dos nossos muros, aí sim teremos condições de competir e aumentar exportações.