Aterro de São Leopoldo passa a gerar energia elétrica a partir do biogás

A CRVR Biotérmica já produz energia a partir do biogás em outros quatro aterros do Estado, gerando energia suficiente para iluminar uma cidade com 250 mil habitantes

Por Eduardo Torres

Biotérmica da CRVR obteve um investimento de R$ 8 milhões
A partir desta quinta-feira (17), a CRVR Biotérmica terá a sua quinta usina biotérmica em operação entre os aterros sanitários urbanos que opera no Rio Grande do Sul. Com um investimento de R$ 8 milhões, desta vez, a energia elétrica a ser gerada a partir do gás produzido pelos resíduos urbanos será produzida em São Leopoldo. O aterro recebe a coleta urbana de 58 municípios, que incluem os vales do Sinos, Paranhana e alguns municípios da Serra, e agora terá capacidade de gerar 1 MWh.
No ano passado, a empresa já havia inaugurado as usinas biotérmicas em seus aterros de Santa Maria, Giruá e Victor Graeff. Além da unidade de Minas do Leão, que já opera desde 2015. Ao todo, a energia verde produzida a partir de mais de 70% do lixo gerado nas cidades gaúchas e lançada no sistema elétrico já chega a 12,5 MWh, suficiente para iluminar uma cidade de 250 mil habitantes.
"Esta é uma das etapas consideradas fundamentais por nós, em nossa prática de valorizar os resíduos. A geração de energia elétrica a partir do gás processado com alta tecnologia é um dos caminhos que temos utilizado para termos as operações de aterros sustentáveis e autossuficientes", diz o diretor-presidente da CRVR Biotérmica, Leomyr Girondi.
O aporte nesta usina é uma das partes do investimento total previsto até o final de 2023 no Estado, que chega a R$ 340 milhões. No ano passado, quando a CRVR iniciou seu projeto de investir R$ 1 bilhão em cinco anos, foram aportados R$ 200 milhões.
Outra parcela dos investimentos também será inaugurada nesta quinta no Vale do Sinos. Entrará em operação uma nova Unidade de Valorização de Resíduos, que é apontada como a maior planta de reciclagem de resíduos do Rio Grande do Sul. Foram investidos R$ 19 milhões nesta operação, que inclui tecnologia própria para a separação mais eficiente de resíduos recicláveis antes da destinação final para reutilização.
"A triagem de centrais de resíduos sempre nos preocupou, porque o processo todo manual não é sustentável economicamente e nem socialmente responsável, então fomos atrás de novas tecnologias. No exterior, esse processo é 100% automatizado, e isso também não se aplica aqui no Brasil, onde os resíduos geralmente são mais úmidos. Então optamos por um modelo desenvolvido aqui, com a triagem automatizada e a seleção e separação manual de resíduos", explica Girondi.
A unidade terá capacidade para receber 450 toneladas de resíduos por dia. É 50% de toda a carga recebida no aterro de São Leopoldo diariamente. E a perspectiva é garantir que pelo menos 10% dos materiais que entrarem para o aterro tenham destinação na reciclagem.
"Agora, todo caminhão que vier de municípios que não tenham a coleta seletiva, depositará os resíduos, primeiro, nesta unidade para a triagem", aponta o diretor.
 

Biometano no centro dos investimentos


A prioridade entre os investimentos da empresa neste ano e no próximo, porém, está no avanço da geração de gás natural a partir de resíduos urbanos. A CRVR está prestes a tornar-se mais uma fornecedora de gás para movimentar, principalmente, a indústria gaúcha. Entre 2023 e 2024, pelo menos R$ 250 milhões serão investidos para equipar, montar e iniciar as operações em duas usinas de produção de biometano, em Minas do Leão e em São Leopoldo.
"Hoje o país é muito dependente do gás que é fornecido pela Bolívia. Pois nós temos essa matéria-prima, o que não tínhamos era a tecnologia para transformar o biogás, que já produzimos, em biometano para a rede de gasodutos gaúcha. Agora temos e nos próximos meses deveremos receber os equipamentos para iniciar a montagem da primeira usina, em Minas do Leão", afirma Leomyr Girondi.
O plano é ter a nova usina em Minas do Leão em operação em setembro de 2024. E a segunda, em São Leopoldo, em 2025.
Trata-se de um avanço em relação ao processo que já acontece nas biotérmicas da CRVR. A partir da decomposição dos resíduos, é gerado gás, que é canalizado e enviado à purificação. Na etapa seguinte do tratamento, somente o gás metano ativa motores a combustão, que geram energia elétrica. Para gerar o biometano, há a extração de um subproduto do biogás.
De acordo com Girondi, será como se a empresa estivesse fornecendo em torno de 17,3 mil botijões de gás de 13 quilos para as indústrias gaúchas.
Para que se tenha uma ideia do potencial ambiental a partir do lixo, somente no aterro de Minas do Leão a CRVR Biotérmica estima ter estocado, nos últimos dois anos, em torno de 400 mil créditos de carbono à espera da regulamentação deste mercado mundial. Entre as demais unidades da empresa, há a venda de créditos no mercado voluntário, e isso tem rendido, em torno de US$ 100 mil por ano à empresa.

Novo aterro industrial


E se a relação a empresa com o setor industrial tende a ser mais valorizada nos próximos anos, pela produção de gás, em 2023, ela já avançou como uma alternativa para a destinação de resíduos. Em março, a CRVR inaugurou em Giruá, na região das Missões, o seu segundo aterro de resíduos industriais no Estado - o primeiro opera em Capela de Santana no Vale do Caí -, e a aceitação, principalmente pelo setor metalmecânico do Noroeste gaúcho, foi imediata.
"Inauguramos a unidade com capacidade para 250 toneladas de resíduos por mês. Em três meses, atingimos este pico e já estamos em tratativas com a Fepam para a ampliação do aterro, e chegarmos a 500 toneladas por mês de capacidade", conta Leomyr Girondi.
Até então, as indústrias da região, uma das mais destacadas do Estado na produção de máquinas agrícolas, eram obrigadas a transportar seus resíduos até Santa Catarina ou a Região Metropolitana.

FICHA TÉCNICA


Investimento: R$ 340 milhões
Estágio: Em execução
Empresa: CRVR Biotérmica
Cidades: São Leopoldo, Minas do Leão, Giruá, Victor Graeff e Santa Maria
Área: Infraestrutura
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Investimentos em 2022: R$ 200 milhões