O modelo cooperativista firma-se como uma fonte de investimento diferenciada no Rio Grande do Sul. As cooperativas, que vão desde a agroindústria até o varejo, infraestrutura, saúde e serviços financeiros, respondem por R$ 2,5 bilhões no Anuário de Investimentos 2022. Com crescimento robusto, de dois dígitos, mesmo em meio à pandemia, essas instituições investem de forma permanente no Estado.
"O cooperativismo tem segurança, competitividade e capilaridade. Hoje, um terço dos gaúchos é cooperativado e encontra nas cooperativas, como no exemplo daquelas que atuam no meio rural, o ciclo completo para o produtor. Desde o fornecimento de insumos, parceria nos maquinários, estrutura para industrialização e logística e atendimento das necessidades de varejo deste associado", explica o presidente do Sistema de Organização de Cooperativas do RS (Ocergs - Sescoop/RS), Darci Hartmann.
Somente entre as cooperativas filiadas à Ocergs, são contabilizadas 423 entidades. "O ano foi muito positivo, e poderia ser ainda melhor se tivéssemos maior agilidade nos licenciamentos para os projetos de PCHs que diversas cooperativas estão a frente", comenta o dirigente.
Para o próximo ano, Darci Hartmann avalia que haverá ainda maiores avanços em relação a investimentos em logística e no setor de biocombustíveis. As cooperativas investiram em armazenagem, beneficiamento de produtos agrícolas, agregando valor, além de energia. Instituições dos ramos de saúde e financeiro também fizeram aportes.
Agronegócio responde por quase metade dos investimentos industriais
A agroindústria e a indústria de maquinário e implementos relacionados ao agronegócio aportaram R$ 6,1 bilhões em investimentos em 2022 no Estado. Representam 44% de todo o investimento no setor industrial.
O economista da Farsul, Antônio da Luz, avalia o ano como "surpreendentemente bom". "A recuperação do setor com a safra de inverno foi positiva, e isso mudou a nossa leitura de como seria o ano para a agricultura", explica.
O investimento do produtor rural é fundamental para o aquecimento industrial. Segundo Luz, todos os anos a reposição de maquinários precisa, pelo menos, igualar a depreciação dos equipamentos. Neste ano, porém, há investimento real.
"Temos observado que o produtor está disposto a comprar mais maquinário do que somente repor. Os investimentos em armazenagem têm aumentado muito, além dos investimentos privados em infraestrutura", avalia o economista da Farsul - ele entende que ainda é preciso avançar muito em infraestrutura pública. Paralelamente, é preciso avançar em irrigação, o que está no radar do Estado, inclusive através de benefícios fiscais do Fundopem. Luz alerta, no entanto, que de nada adiantará o plano se ele não vier acompanhado de evolução na legislação para a reserva de água em açudes. Algo que, na opinião do economista, tem avançado nos últimos meses, mas ainda com um longo caminho a percorrer.
"O cenário para 2023 é de um ano bastante difícil pela frente. Há risco de La Niña, possivelmente com uma estiagem mais fraca do que este ano. O que compensa são os preços bons na agricultura. O setor de maquinário agrícola vem bem, e é importante que se mantenha aquecido", diz o também economista Martinho Lazzari. Ele salienta que este cuidado no arranjo do setor, garantindo um bom rendimento da safra e da venda desta, será fundamental com a perspectiva de um ano de crescimento menor na economia brasileira e gaúcha.
Grandes projetos de energia estão em maturação
Impossível projetar 2023 e os próximos anos sem pensar nos investimentos em energias alternativas no Estado. São mais de 30 projetos licenciados para geração de energia eólica onshore, e há a perspectiva dos parques eólicos offshore, com capacidade de investimentos que seriam inéditos no Rio Grande do Sul, como no caso da Ocean Winds, que chegaria a R$ 120 bilhões, e ainda os nearshore, na Lagoa dos Patos.
O Rio Grande do Sul avança também em relação à tecnologia do hidrogênio verde e ainda há o imbróglio jurídico considerado de resolução fundamental pelo governo estadual em relação ao projeto de R$ 6 bilhões do Grupo Cobra, para o complexo de gás em Rio Grande. Neste ano, entre projetos relacionados à energia solar, energia eólica e geração de energia a partir de biomassa, o Anuário de Investimentos apresenta R$ 10,3 bilhões na carteira de investimentos gerais. Representam 13,4% de todos os aportes deste ano no Rio Grande do Sul.
BRDE garante crédito para projetos sustentáveis e para a inovação
Otomar Vivian destaca operações em sintonia com o desenvolvimento sustentável
/RAMIRO SANCHEZ/ESPECIAL/JC
A distribuição dos investimentos na economia gaúcha é bem refletida na estatística de operações realizadas pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Do total de R$ 1,4 bilhão financiados para 6,2 mil contratos no Rio Grande do Sul até o dia 22 de novembro, um terço - R$ 468 milhões - foram destinados ao setor agrícola e da agroindústria. Conforme o Anuário de Investimentos, o setor responde por quase metade dos aportes do setor industrial em 2022.
Chamou a atenção, ao longo do ano, o fato de vários projetos listados no Anuário, especialmente de cooperativas, terem financiamento do BRDE. Neste aspecto, destaca-se o fato de vários estarem ligados à sustentabilidade, caso de iniciativas de energia limpa.
O diretor de Planejamento do BRDE, Otomar Vivian, destaca que o banco busca fomentar iniciativas em sintonia com ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança). Conforme informações da instituição financeira, 78,4% das operações de crédito deste ano do BRDE estão alinhadas com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
Enquanto os setores de energias renováveis e eficiência energética receberam R$ 162,7 milhões em aportes do BRDE, o banco firma-se como o maior repassador nacional de recursos ao Finep (empresa pública de fomento à tecnologia e inovação), apoiando a pesquisa científica. Neste ano, estes repasses já acumulam R$ 105,6 milhões - três vezes mais do que os R$ 34,5 milhões de 2021.
Mercado imobiliário segue em alta
O setor com maior alta de investimentos em 2022 foi o dos empreendimentos imobiliários, chegando a R$ 12,3 bilhões entre aportes anunciados e desembolsados neste ano, mais do que o dobro dos R$ 4,9 bilhões registrados em 2021. E reflete o momento de otimismo do setor.
"Até o final de setembro, tínhamos acumulado R$ 4 bilhões em valores gerais de venda (VGV), o mesmo valor de todo o ano passado. E já seria um resultado muito positivo, mas estamos com a expectativa de fechar o ano com R$ 4,5 bilhões de VGV", diz o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-RS), Claudio Teitelbaum.
De acordo com o dirigente, neste ano o setor colhe os frutos dos lançamentos que tiveram uma retomada forte, e a tendência é não parar. Somente em Porto Alegre, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) apontou até o começo de novembro R$ 9,3 bilhões em investimentos de construtoras com projetos aprovados no município. "É um mercado maduro, sem mais aquelas super ofertas ou aventuras no mercado", explica Teitelbaum. O perfil deste comprador em 2022 é de famílias em busca de upgrade na moradia, as compras de alto padrão em grandes unidades e os estúdios para locação. E não apenas concentrados na Capital.
Mercados como o Litoral Norte e a região de Gramado estão em alta. O estoque de unidades nas praias chega a 10 mil unidades entre lotes e estruturas para venda.
"O ritmo de confiança segue alto. O setor, naturalmente, deu uma reduzida no ritmo durante a eleição, mas o nível segue em estabilidade e com boa perspectiva para 2023. Há uma provável queda de juro no final do primeiro semestre de 2023, e isso favorece a compra do cliente e do construtor", aponta o presidente do Sinduscon.