Os solavancos nas relações internacionais de mercado provocadas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos, com as novas tarifas de exportação para mais de uma centena de nações, têm potencial de redesenhar o cenário global do comércio agrícola, com possíveis benefícios para as exportações brasileiras de soja.
Ainda que Trump tenha recuado, nesta quinta-feira, e suspendido a taxação por 90 dias - alegou que os EUA conquistou o respeito que merecia e que está pronto para fazer acordos -, a erosão da confiança de parceiros comerciais causada pelas medidas pode ser irreversível. A única exceção é sobre importações da China, cuja carga tributária agora chega a 145%.
Nesse cenário, embora ainda seja prematuro concluir com precisão os desdobramentos das medidas protecionistas e como países responderão, os impactos sobre os preços internacionais das principais commodities já começam a ser sentidos no mercado mundial. Na última semana, caíram em torno de 10% - a maior registrada desde a pandemia - de olho na perda do nível de atividade em escala mundial.
Para o Brasil, a boa notícia é que a guerra comercial ocorre em um momento favorável para a produção de grãos. Enquanto os preços da soja estão em queda no mercado internacional, por aqui se mantêm firmes, mesmo com a grande colheita estimada.
A safra 2024/25 de soja tem potencial para atingir 172 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), enquanto a colheita já alcançou 85,3% da área plantada até a primeira semana de abril, superando a média dos últimos cinco anos para o mesmo período.
No RS, o segundo maior exportador do grão no Brasil - que, por sua vez, é líder mundial -, houve redução de 25,7% na produção de soja em comparação com a safra passada. A previsão é que o Estado produza 14,6 milhões de toneladas. A situação se deve principalmente a questões climáticas, como escassez de chuva e calores extremos.
Mesmo assim, o cenário é alvissareiro para o Brasil não só no que toca à soja, mas às exportações do agronegócio como um todo, suprindo a demanda de mercados gigantes como a China, antes ocupados pelos Estados Unidos.
A China, por exemplo, já suspendeu a compra de carne bovina de mais da metade dos fornecedores norte-americanos, em meio à guerra tarifária que os EUA impõem ao gigante asiático. O Ministério da Agricultura brasileiro observa possíveis espaços para ampliar a venda aos chineses, algo que beneficiaria sobremaneira a produção gaúcha.