O mês de março foi de desafios ainda mais extraordinários para a saúde em Porto Alegre, com a superlotação de emergências hospitalares e pronto atendimentos que deixou preocupados até mesmo gestores de instituições de saúde já acostumados com recorrentes problemas do tipo. A situação, notoriamente, não é nova, mas vem se agravando após o fechamento de unidades na Região Metropolitana e a consequente alta no número de pacientes do Interior.
A procura por atendimento do SUS em Porto Alegre é habitual, por ser a cidade referência em várias especialidades. Contudo, agora, mesmo em casos não tão graves, vem aumentando, o que deixa o sistema cada vez mais sobrecarregado, prejudicando a qualidade e a segurança dos atendimentos. Às portas do inverno, quando os problemas respiratórios agravam a saúde de gaúchos, a situação é mais que preocupante e um desafio ao sistema de saúde da cidade, que atende a pacientes de mais de 200 municípios.
A título de exemplo, na tarde desta quarta-feira, 26 de março, a taxa de ocupação da UPA Moacyr Scliar (única na Capital) e dos quatro pronto atendimentos (Bom Jesus, Lomba do Pinheiro, Cruzeiro do Sul e IAPI) chegava a 166%.
As UPAs são estruturas de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas de urgência hospitalares. Com capacidade de atender até 90% dos problemas de saúde, elas ajudam a diminuir as filas nas emergências dos hospitais. Mais unidades contribuíram, sobremaneira, para mudar o atual panorama da saúde em Porto Alegre.
A promessa quando da inauguração da UPA Moacyr Scliar, em 2012, era de que a Capital teria mais três unidades 24 horas, com operação nos sete dias da semana. Nenhuma delas, até hoje, saiu do papel. Três dos pronto atendimentos, com possibilidade de serem UPAs, operam sem reconhecimento do Ministério da Saúde, o que representa uma perda de até R$ 1,575 milhão mensais em recursos federais. Em 2024, 12 anos depois dos planos abandonados, a nova projeção era de que até o fim daquele ano, Porto Alegre contasse com mais duas UPAs.
Após a crise instalada no mês de março, o governo do Estado anunciou R$ 16 milhões em recursos para obras nos pronto atendimentos Lomba do Pinheiro e Bom Jesus, o que permitirá habilitá-los como UPAs junto ao Ministério. Isso resultará em repasses mensais para apoiar o funcionamento da rede de atenção às urgências.
O governo federal, contudo, não pode se esquivar do fato de que o SUS é tripartite, e precisa participar desse aporte junto a Estado e município.