O novo aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros, confirmado na semana passada, na verdade, não tem nada de novidade. Na primeira reunião do ano, em janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) já havia deixado clara sua posição de elevar a Selic de 13,25% para 14,25% - desde setembro, já aumentou 3,75 pontos. A novidade é que as elevações não devem parar por aí. Para a terceira reunião de 2025, em maio, o colegiado indicou a possibilidade de um novo ajuste, porém, de menor magnitude.
Por certo, as decisões vão depender de dados como a evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária. Um aspecto que, de fato, não pode ser ignorado diante de um cenário recente marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de maior elevação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Por isso tudo, a avaliação do Copom é de que a economia brasileira exige uma política monetária mais contracionista.
Uma situação que preocupa a indústria, a agropecuária e o setor de serviços. Como é amplamente sabido, a elevação da Selic a níveis tão altos tende a restringir os investimentos, aumentar os custos de produção e reduzir a competitividade da indústria brasileira.
O nível atual da Selic implica taxa de juros real de 8,5% a.a. - 3,5 p.p. acima da taxa neutra estimada pelo BC. Conjunturalmente, já tem impactado a economia, que apresenta desaceleração mais aguda do que a prevista por diversos analistas econômicos.
É unanimidade entre os setores que fazem a roda da economia girar que novas consequências são iminentes, já que juros mais altos significam crédito mais caro. Na indústria, por exemplo, os dados são pouco animadores. A produção estagnou em janeiro, frente a dezembro de 2024, depois de cair por três meses consecutivos entre outubro e dezembro.
Para maio, o grande dilema é se o Banco Central vai elevar a Selic até 15% e, se isso ocorrer, por quanto tempo manterá essa taxa elevada. Para o Copom perceber uma economia saudável e reverter essa tendência de alta, a prioridade do governo federal deve ser a busca pela sustentabilidade fiscal.
Sem esse comprometimento, o descompasso entre política monetária e política fiscal seguirá impactando o custo do crédito, premissa básica para viabilizar investimentos e sustentar o ritmo mais vigoroso de crescimento econômico.