A maior parte dos analistas de mercado apostava em uma alta entre 0,50 e 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. Contudo, ao optar por uma elevação mais dura, de 1 ponto percentual - agora em 12,25% ao ano -, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deu um claro recado de que está fazendo a sua parte diante de um cenário inflacionário mais adverso.
Com uma conjuntura de economia em aquecimento, surpreender o mercado neste momento com um maior conservadorismo foi visto como um gesto positivo por economistas.
Por outro lado, a decisão de agora e a indicação de que, nas próximas duas reuniões do Copom, em janeiro e março de 2025, haverá mais altas - possivelmente de 1 ponto percentual cada - foram criticadas pelo setor produtivo. Entidades do comércio, da indústria e centrais sindicais consideram que os juros altos irão prejudicar o emprego e a recuperação da economia.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, responsável por avaliar as metas da Nova Indústria Brasil, política do governo federal, foi pelo mesmo caminho. O órgão classificou a medida como incompreensível diante do atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote de corte de gastos obrigatórios já apresentado.
Pacote esse que ainda não foi muito bem digerido pelo mercado, que coloca em dúvida a capacidade do governo de chegar a um equilíbrio fiscal. Um dos motivos é que as medidas propostas dependem de aprovação do Congresso e alguns pontos dificilmente irão avançar.
Entre os que têm se mostrado nevrálgicos estão o que torna mais rigorosas as regras de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e os que limitam o pagamento do abono salarial e o aumento do salário-mínimo. O principal, porém, é o imbróglio sobre o pagamento de emendas parlamentares, no centro de uma disputa entre Legislativo e Judiciário. O repasse foi suspenso em agosto pelo Supremo devido à falta de transparência.
Evidentemente, o cenário internacional pode ser mais um desafio para o Brasil e, a depender do que for anunciado e colocado em prática de política econômica nos EUA, é possível um panorama de juros globais mais altos.
A elevação dos juros e a indicação de novas altas, por certo, é uma marcação de território pelo Copom. Ou seja, o colegiado está de olho na situação e, ao mesmo tempo, dando espaço para o governo apresentar uma solução para a questão fiscal. De qualquer forma, quem perde são os que precisam de crédito.