A inflação geral de novembro veio abaixo do que o mercado esperava, mas com algumas elevações que têm causado preocupação, entre elas o desempenho dos alimentos. Com o cenário, é bem provável que, no acumulado, extrapole a meta inflacionária.
O impacto do clima, em energia e alimentos, e a variação dos preços do setor de serviços serão peças-chave para definir se o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - considerado a inflação oficial do País - fechará 2024 dentro ou fora do teto da meta que deve ser perseguida pelo Banco Central (BC), estabelecido em 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite superior é 4,5%.
Ainda que tenha desacelerado a 0,39% em novembro - em outubro, a alta foi de 0,56% -, puxada, surpreendentemente, pela queda de 6,27% nos preços da conta de luz, o grupo alimentação e bebidas (1,55%) e as passagens aéreas (22,65%), por outro lado, pressionaram o IPCA. A alta no índice de alimentação foi a maior desde abril de 2022 (2,06%), influenciada, principalmente, pela carne bovina, que subiu mais de 8% em novembro.
Dessa forma, a previsão do mercado financeiro para o indicador passou de 4,63% para 4,71% neste ano, conforme o Boletim Focus divulgado na segunda-feira. Até novembro (levando em conta os últimos 12 meses), a inflação alcançou 4,87%, a maior desde setembro do ano passado (5,19%).
Para não estourar o teto, o IPCA não pode ser superior a 0,20% na variação mensal de dezembro. Está justamente aí a preocupação do mercado financeiro.
Com a previsão de que os alimentos, tradicionalmente com valores mais elevados em dezembro, mantenham a pressão, e com a valorização do dólar ante o real, é muito difícil que o indicador fique dentro do intervalo de tolerância.
O mecanismo à disposição do BC para combater a inflação é o aumento da taxa básica de juros, a Selic, definida em 11,25% ao ano na última reunião do Copom, em novembro. Por isso, nesta quarta-feira, quando se encerra a última reunião de 2024, analistas esperam continuidade no ciclo de alta, com um aumento de 0,50 a 0,75 ponto percentual, o que marcará a terceira elevação consecutiva.
Assim, levando-se em consideração câmbio, preço de proteínas e juros além do previsto - o que encarece o crédito e se reflete nos preços -, o cenário inflacionário para 2025 não se mostra nada animador.