O atual ciclo de aperto da política monetária no Brasil teve mais um capítulo na semana que passou. Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a Selic - taxa básica de juros - em 0,50 ponto porcentual, de 10,75% para 11,25% ao ano. Em setembro, já havia elevado 0,25 ponto.
O cenário coloca o Brasil em uma situação complicada frente às maiores economias, com uma taxa de juros que fica entre as três mais altas do mundo. Além disso, vai na contramão do que prega o governo federal, de tornar o País mais competitivo e atrativo a investimentos.
O entendimento do Copom é de que é preciso trazer a inflação brasileira para a meta de 3%. Com a inflação de outubro, o IPC dos últimos 12 meses foi a 4,76%, superando o teto da meta.
Obviamente, a medida reflete a necessidade de conter o avanço da inflação, de estabilizar os impactos da desvalorização do real e as incertezas nos Estados Unidos com a eleição de Donald Trump e os rumos da economia.
Por lá, o Fed reduziu o ritmo e cortou os juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 4,50% a 4,75%. A decisão foi tomada levando em conta que a inflação norte-americana tem caminhado para a meta de 2%, mas ainda está em patamares elevados.
Acima desses aspectos, por certo delicados para manter a estabilidade da economia, há a questão fiscal brasileira. O anúncio do pacote de corte de gastos pelo governo federal vem sendo postergado há duas semanas. O mercado tem lido a demora como mau presságio sobre o arranjo, o escopo e o ajuste em termos financeiros que o governo será capaz de fazer.
No comunicado, o colegiado do Copom reafirmou a necessidade de uma política fiscal comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal. O Copom chega a projetar uma taxa Selic de 14,5% se não houver "mudanças estruturais" no orçamento.
O aumento dos juros levou a reações de setores econômicos. No comércio, o receio é de que, somado à inflação e à alta do dólar, o cenário possa prejudicar o consumo.
Na indústria, a visão é de que a medida impõe desafios adicionais ao setor produtivo, especialmente para o Rio Grande do Sul, que enfrenta custos elevados devido à instabilidade cambial e às dificuldades da retomada após as enchentes. Da mesma forma, compromete a criação de empregos e os investimentos.