O Brasil criou uma lei para que homens e mulheres exercendo os mesmos cargos recebam remunerações iguais. Em julho, porém, a legislação completou um ano sem que se avance na questão.
O 2° Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, divulgado na semana passada, mostra que as trabalhadoras mulheres ganham 20,7% menos do que os homens, em 50.692 empresas com 100 ou mais empregados, no Brasil. Na comparação com os dados do 1° relatório, divulgado em março deste ano, a diferença salarial era de 19,4%.
A igualdade de gênero no trabalho não deve ser vista apenas como uma questão de justiça social, mas também como de eficiência econômica. A situação atual, não apenas no Brasil, como em várias nações, faz com que o mundo deixe de gerar riquezas.
Estudo recente do Instituto Global McKinsey mostrou, por exemplo, que a economia mundial, caso houvesse maior equidade salarial entre homens e mulheres, poderia ter um acréscimo no Produto Interno Bruto (PIB) - a soma de riquezas produzidas - de US$ 12 trilhões até 2025.
Em março, um boletim do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revelou que dos 75 milhões de lares do País, 50,8% tinham liderança feminina. Foi a primeira vez no Brasil que as mulheres ultrapassaram os homens nas chefias de família. Ainda assim, elas lideram taxas de desemprego e desalento e possuem menores rendimentos.
Outra incongruência é o fato de as mulheres serem mais escolarizadas do que os homens, e ainda assim, receberem salários inferiores. Entre a população com 25 anos ou mais, elas somam 21,3% dos que têm nível superior completo, contra 16,8% dos homens.
Contudo, na hora de escolher entre um homem e uma mulher, pesa a disponibilidade para realizar horas extras e bater metas, por exemplo. Isso porque, em geral, elas têm interrupção no tempo de trabalho devido à licença-maternidade e à dedicação com cuidados com filhos e pessoas dependentes. Igualmente, desempenham uma carga maior de trabalho doméstico - em torno de 11 horas semanais.
É preciso ter em mente que as mulheres, com seus salários, além de agregar para a economia com a própria força de trabalho, elevam o consumo e as rendas familiares. Quando remuneradas de forma igual, também conseguem investir mais no bem-estar familiar.
Para além da necessidade de superar questões sociais históricas, o Brasil tem, neste momento, o desafio de corrigir disparidades e critérios salariais entre homens e mulheres.