Além de deixar mais de 70 mil desabrigados e centenas de mortos, feridos e desaparecidos, o retorno das chuvas com grande intensidade nesta quinta-feira ao Rio Grande do Sul levou milhares de pessoas a reviverem a perda de suas casas, o fato de terem deixado animais de estimação para trás, perdido objetos referenciais de suas vidas e memórias afetivas.
Mais aterrador é que, desde domingo, institutos de meteorologia alertavam para volumes expressivos de chuva. Em Porto Alegre, por exemplo, a água não só voltou a subir em bairros onde já havia baixado, como Menino Deus e Cidade Baixa, como alagou partes antes não afetadas, como Restinga, Camaquã e Tristeza.
As duas principais justificativas da prefeitura para a situação são o lodo, depositado nos vários quilômetros de canos do sistema de drenagem devido à cheia do Guaíba.
Isso fez com que bueiros não suportassem o volume de precipitação e transbordassem. Soma-se a isso, a quantidade de chuva além da esperada, que era em torno de 70 milímetros. E nesta quinta-feira choveu mais de 112 mm, o esperado para todo maio.
O certo é que a inundação não tem uma causa só. O sistema inteiro de drenagem necessita passar por manutenção, assim como é preciso um cronograma anual de retirada de acúmulo de areia de arroios. O mesmo vale para o lago Guaíba e outras bacias hidrográficas de responsabilidade da União e do Estado.
Pior é que o volume de chuva deve gerar um repique no Guaíba. O nível do lago no Cais Mauá baixou pela primeira vez dos 4 metros desde o início da enchente. E a previsão é de que as águas só voltarão a ficar abaixo dos 3 metros, nível da cota de inundação - por volta do dia 3 de junho.
No Centro Histórico, vários comércios já faziam levantamento dos prejuízos e limpavam as lojas para reabrir. Foi tudo novamente paralisado nesta quinta-feira, assim como as aulas, que estão suspensas nesta sexta-feira.
Porto Alegre precisará, também, recuperar o sistema que protege a cidade contra as cheias - diques e comportas. Da mesma forma, é inadiável refazer seu Plano de Contingência, diante da tragédia histórica, na qual níveis de rios atingiram níveis nunca antes registrados.
Os documentos funcionam como um esboço das atividades de resposta a uma catástrofe, ou seja, ações de socorro, assistência e reabilitação dos cenários. Essa preparação permite que as soluções ocorram de forma mais rápida e organizada e, sobretudo, dão mais segurança à população.