Javier Milei foi eleito presidente da Argentina prometendo um novo capítulo na história do país, que passa por uma grave crise econômica e social. Para romper a polarização e ser eleito, apresentou a ideia do "liberal libertário". Estão nos planos a dolarização da economia, o fechamento do Banco Central, a privatização de estatais e uma reavaliação da participação no Mercosul, o que pode trazer reflexos para toda a América Latina, especialmente o Brasil.
O resultado do pleito de domingo mostra que o descontentamento da população com a situação atual superou a máquina peronista e o medo do extremismo, tema bastante explorado pelo rival Sergio Massa na campanha. Fornece um quadro bastante acurado, também, o fato de o comparecimento ao segundo turno ter sido menor que no primeiro e de Milei não ser uma unanimidade nem mesmo entre seus eleitores, mas visto como uma luz no fim do túnel.
Não fica claro se os argentinos estão de acordo com as mudanças propostas ou se votaram por rejeição ao peronismo. O certo é que, pela primeira vez desde a redemocratização, a Argentina não será governada por um peronista ou pela oposição de centro-direita.
Milei, ao superar Massa - atual ministro da Economia -, impôs ao peronismo sua quarta derrota em 40 anos de democracia. As outras três vezes foram em 1983, com Raúl Alfonsín - primeiro eleito após a ditadura -; 1999, com Fernando de la Rúa; e 2015, com Maurício Macri, de quem Milei recebeu apoio incondicional na campanha.
Economista por formação, o atual deputado tem propostas ambiciosas, entre elas as privatizações. Com isso, seu projeto central é reduzir o tamanho do Estado argentino, que atualmente consome 42% do Produto Interno Bruto.
No que tange o Mercosul, Milei foi mudando seu discurso. No primeiro turno, falava em sair do bloco por considerá-lo um "estorvo" econômico. No segundo, passou a falar em modernizá-lo, talvez por ter percebido a importância para a economia.
A verdade é que a relação comercial entre o Brasil e o vizinho tem esfriado nos últimos anos, o que é explicado, em parte, pela crescente comercialização com a China. Há dez anos, o Brasil exportava US$ 19,6 bilhões para a Argentina, enquanto as importações somavam US$ 16,4 bilhões. Em 2022, foram US$ 15,3 bilhões e US$ 13,1 bilhões, respectivamente.
Outra questão que preocupa é o fato de que Milei, sem experiência na administração pública, e seu A Liberdade Avança precisarão fazer concessões. Algo a que não se mostram dispostos. Resta saber se o apoio da centro-direita na reta final das eleições se traduzirá em governabilidade.