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Publicada em 24 de Abril de 2025 às 18:20

Abertura de novos mercados fez alavancar exportações gaúchas

Indústria de transformação fechou primeiro trimestre com aumento de 5,6%

Indústria de transformação fechou primeiro trimestre com aumento de 5,6%

MERCEDES BENZ/MERCEDES BENZ /DIVULGAÇÃO/JC
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Ana Esteves, especial para o JC
Ana Esteves, especial para o JC
O resultado positivo das exportações da indústria de transformação gaúcha, que fechou o primeiro trimestre do ano com alta de 5,6%, em relação ao mesmo período de 2024, influenciadas pelo aumento de 17,9% nos preços médios de venda, pode ser explicada por uma série de fatores, entre eles a abertura de novos mercados, especialmente para a indústria de alimentos, vinculada ao setor primário. “O grande componente para explicar esse aumento é o fato de que as exportações gaúchas começaram a abrir mercados novos, como das Filipinas, Vietnã e Indonésia, para a carne suína”, avalia o economista e professor da escola de Negócios da Pucrs, Gustavo de Moraes.
O componente preço foi decisivo, uma vez que a alta se deu em função dos valores comercializados e não do volume. Segundo Moraes, esses acordos iniciais têm sempre um preço muito favorável, mas, ao mesmo tempo, se abre mão de mercados tradicionais. “Ocorre uma recomposição de clientes, pois, se por um lado, ganha no preço, por outro perde em volume exportado, e a bacia do Pacífico tem se mostrado bastante receptiva a acordos com o Brasil”, explica o especialista. No compito geral dos envios do trimestre no Estado, foram US$ 3,8 bilhões comercializados com o exterior, expansão de US$ 205,4 milhões, em relação ao mesmo período do ano passado.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Giovani Baggio, acrescenta que, durante o primeiro trimestre, a indústria de alimentos, em termos de volume exportado, foi o principal segmento, com mais de US$ 1 bilhão exportados. “E os principais produtos são a carne suína, para o mercado das Filipinas e a carne de frango, para os Emirados Árabes Unidos”, acrescenta Baggio. Segundo ele, um dos segmentos que mais puxou as exportações para cima foi o de veículos, que tem a Argentina como principal destino. “Em termos de autopeças, ônibus, carrocerias e caminhões tiveram crescimento em receita de 58,9% no primeiro trimestre para o país vizinho, um valor muito expressivo”, diz Baggio.
 

Segmentos tradicionais se destacam nos negócios

Os dados do comércio exterior estão bem heterogêneos, sem um dinamismo generalizado entre todos os industriais gaúchos, apontou economista e professor da escola de Negócios da Pucrs, Gustavo de Moraes. O que se observa, segundo ele, é que, quem teve sucesso nas exportações, foram as indústrias mais tradicionais, ligadas ao agronegócio, têxteis e calçados. Já produtos mais complexos como químicos e metalomecânico estão encontrando dificuldade de colocação no mercado internacional, a partir do Rio Grande do Sul. Por perda de competitividade nesses ramos mais complexos.
“A nota de ressalva é de que há uma mudança de perfil e os setores mais dinâmicos são aqueles setores mais tradicionais nossos. Exemplos como a Marcopolo e a Taurus, essas têm encontrado um pouquinho mais de dificuldade, tanto para abrir novos mercados como também para colocar preço nos seus tradicionais clientes”, afirma Moraes. A perda de espaço, segundo ele, se deve ao componente externo, de maior concorrência, especialmente com produtos chineses, além da menor velocidade com que se fazem os acordos comerciais no Brasil. “Além disso, as indústrias mais complexas têm dificuldade de se manterem no Rio Grande do Sul, por questões tributárias e logísticas”, acrescenta o economista da Pucrs.
Segundo Baggio, o aumento dos envios, com base no incremento dos valores dos mesmos, se justificam também pelos ganhos no quesito negociação. “As nossas empresas estão mostrando que o produto é qualificado e, assim, conseguem se manter no mercado externo." Além disso, ele acrescenta que empresas têm mais lucro com essas exportações, mas também aumento de custos nos últimos anos, situação mais forte desde a virada do ano, com a valorização do câmbio, pois parte dos custos são atrelados ao dólar, o que faz com que elas tenham custo de produção maior e repassem isso para os preços.
“Estamos ofertando com preços mais elevados e estamos conseguindo manter esse mercado, o que mostra que a qualidade dos produtos e a confiança que o exterior tem com nossos produtos é bastante elevada”, avalia. O economista informa que a quantidade enviada para o exterior pela indústria de transformação do Rio Grande do Sul vem caindo desde de meados de 2023 por um “arrefecimento do mercado externo”. E o que tem sustentado agora, é o bom desempenho em termos de receita das exportações. “Estamos conseguindo colocar o nosso produto a um preço mais elevado no mercado externo, pois quando olhamos só a quantidade, estamos exportando menos”, afirma o especialista.
O mundo tem uma perspectiva de crescimento menor nos últimos anos, desde 2021. A expectativa que o Fundo Monetário Nacional (FMI) tem para esse ano é de crescimento de 2,8%, com todos os impactos da guerra comercial. "Por mais que tenhamos essa valorização em termos de preços, a quantidade de produtos demandada pelo mercado externo, diminuiu por conta do crescimento econômico relativamente menor."
Sobre os reflexos do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos importados pelos país norte-americano, Moraes diz que o mercado está na expectativa de dois movimentos: o primeiro é que, como os gaúchos exportam produtos de maior complexidade e valor agregado para o mercado norte-americano, talvez haja dificuldade adicional para esses segmentos se manterem em crescimento, e enfrentem dificuldades para entrar nos Estados Unidos, com a tarifa de 10% anunciada pelo governo americano.
“Por outro lado, a tarifa foi recém anunciada e esperamos que governo brasileiro sente e negocie. Creio que esse é o desejo da administração americana quando ela impõe tarifas: o recado tanto para o Brasil como para a China é o desejo de sentar à mesa de negociação e rever o comércio exterior, o que já aconteceu com o México e com o Canadá”, diz Moraes.
Para o economista da Fiergs, os impactos do tarifaço norte-americano só devem ser sentidos após o primeiro semestre do ano, uma vez que já houve um recuo, em termos de adiamento da entrada em vigor das tarifas que ficaram acima dos 10%. “Mas tudo isso está causando uma incerteza enorme, adiando investimentos e negociações entre empresas, entre países. Por conta dessa espera, o deve ser afetado."

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