A Pesquisa de Investimento 2024-2025 realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) divulgada nesta terça-feira (22) mostrou uma tendência de crescimento nos aportes do setor de indústrias ao longo deste ano. Os dados indicam que 75% do segmento planeja desembolsar recursos: o maior percentual dos últimos cinco anos. A tendência já era observada em 2024. À época, o Anuário de Investimentos mapeou um aumento de mais de 200% no aporte médio da indústria.
Em 2024, o tíquete médio de investimento na indústria foi de R$ 397,8 milhões, superando com folga os R$ 134,5 milhões observados em 2023 e os R$ 128,1 milhões de 2022. Os índices foram puxados pelo aporte histórico da CMPC, que anunciou R$ 24 bilhões para erguer uma nova fábrica em Barra do Ribeiro. Outros quatro investimentos bilionários ampliaram a soma: R$ 1,9 bilhão da Be8, R$ 1,7 bilhão da Ecovix, R$ 1,2 bilhão da General Motors e R$ 1 bilhão da Refap.
O setor liderou os investimentos no Estado, somando R$ 42,725 bilhões entre aportes anunciados ou realizados. O valor representa quase metade do total desembolsado ao considerar o total de aportes, de pouco mais de R$ 100 bilhões — e que também representou um recorde de investimentos na série histórica mapeada pelo Jornal do Comércio desde 2018.
Os índices mostram a recuperação e o aumento na capacidade de resiliência do setor após a devastação causada pela enchente de 2024. Fator, aliás, que pode explicar o crescimento dos investimentos que também está previsto para 2025: “Muitas indústrias foram afetadas e precisaram recomeçar praticamente do zero, sendo reconstruídas para voltar a operar, mas a disposição para investir se manteve e até cresceu”, pontuou o presidente da Fiergs, Claudio Bier, em nota encaminhada via assessoria de imprensa.
A percepção é compartilhada pelo economista-chefe da Fiergs Giovani Baggio, conforme pontuou em
entrevista ao Jornal do Comércio à época do lançamento do Anuário de Investimentos 2024: “Eu defino 2024 como um ano de confirmações, e não de decisões por novos investimentos. Por mais que tenhamos enfrentado um ano difícil com as enchentes, houve essa confirmação. Além dos grandes anúncios, o grande volume de investimentos industriais tem a ver com a reconstrução do nosso Estado, mas também com um futuro promissor, com a demonstração de que há oportunidades para expandir”.
A
retomada incluiu investimentos em recuperação do maquinário e mudança na sede das indústrias buscando evitar os impactos de possíveis novos eventos de calamidade climática. Foi o caso da Indústria Fontana, na cidade de Encantado, no Vale do Taquari, que
teve sua fábrica completamente inundada em duas ocasiões: na enchente de setembro de 2023 e na de maio de 2024.
Focada na fabricação de produtos de higiene e limpeza, a Fontana buscou a resiliência por dois caminhos: pela contratação de linhas de crédito ofertadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e por investimentos próprios, cujos valores não foram divulgados. Hoje, 90% da capacidade produtiva já pôde ser recuperada e a expectativa é de que possa atingir a totalidade já nas próximas semanas.
O primeiro passo foi a recuperação do maquinário, realizada com investimentos próprios, conforme explica o diretor da empresa, Ricardo Fontana: “A gente teve um investimento bastante alto nisso. Não tivemos substituição dos equipamentos, mas, sim a recuperação dos que estavam na unidade produtiva atual, colocando eles para funcionar novamente”.
Em seguida, iniciaram as obras para a transferência de parte da estrutura produtiva para um novo local. Entre o final de maio e o início de junho, as obras da nova estrutura fabril situada no município de Teutônia deverão ser finalizadas, concluindo os investimentos já anunciados.
Outro exemplo foi a Oderich, localizada no Vale do Caí, que estimou o investimento de R$ 120 milhões na recuperação pós-enchentes. A unidade fabril localizada em São Sebastião do Caí foi atingida pelas enchentes de 2023 e 2024, assim como por um incêndio. "Foi uma tarefa difícil de cumprir e tivemos de buscar os valores em banco em função do tamanho da empresa", afirmou o presidente do Conselho de Administração da Conservas Oderich, Marcos Oderich, durante uma
reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul realizada em março passado.