O tarifaço recentemente anunciado pelos Estados Unidos, especificamente, para a China, vem causando sentimentos distintos na indústria calçadista nacional. São três prismas. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a alta tarifa imposta deve fazer com que os compradores norte-americanos busquem alternativas de fornecimento fora da China, abrindo uma janela de oportunidade para o calçado brasileiro - e também para os concorrentes asiáticos que ficaram fora da escalada de tarifas proposta, como Vietnã e Indonésia. Por outro lado, o maior mercado do planeta deve frear seu crescimento devido à alta da inflação e à desaceleração econômica. O terceiro prisma é o que mais preocupa: a desova da produção chinesa no mercado doméstico brasileiro, gerando concorrência desleal com as produtoras brasileiras.
Conforme dados elaborados pela Abicalçados, somente no mês de março, as importações de calçados aumentaram 47,7%, em relação ao período correspondente de 2024, o que significa a entrada de mais de 5 milhões de produtos no Brasil. A principal origem foi, justamente, a China (sobretaxada em 125% pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump), de onde foram importados 2,55 milhões de pares, 51,7% mais do que em março de 2024. "Essa invasão ocorre antes mesmo da entrada em voga da nova tarifa. A previsão é de que aumente ainda mais nos próximos meses", alerta o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira.
Produzindo cerca de 60% do calçado consumido no mundo, a China é, de longe, a maior fabricante de calçados do planeta. "O certo é que a China não ficará sem escoar essa produção e precisará direcioná-la para outros mercados, entre eles países importadores do nosso calçado e no nosso próprio mercado doméstico", comenta Ferreira.
No trimestre, as importações também cresceram. No período, entraram no Brasil 12,9 milhões de pares por US$ 142,33 milhões, incrementos tanto em volume (+25,1%) quanto em receita (+13,4%) em relação ao mesmo intervalo de 2024. Nesse mesmo período, as importações de calçados da China somaram 5,2 milhões de pares, 18% mais do que no intervalo correspondente de 2024.