Com uma história marcada por pioneirismos, a Be8, companhia gaúcha de produção de biodiesel, celebra neste mês seus 20 anos de existência. Fundada em Passo Fundo pelo empresário Erasmo Carlos Battistella, originalmente foi batizada como BSBIOS. No entanto, não foi apenas o nome que mudou ao longo do tempo: hoje, em um reposicionamento, a marca pretende se tornar referência em soluções para transição energética.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Battistella avalia as mudanças observadas no setor de energias sustentáveis ao longo das últimas duas décadas e apresenta os projetos da Be8 para os próximos anos. Além disso, avalia o cenário econômico mundial e reflete sobre as adaptações necessárias para os desafios contemporâneos.
Jornal do Comércio - Como avalia que o Brasil evoluiu em termos de transição energética desde a fundação da Be8 em 2005?
Erasmo Battistella - A transição energética cresceu nesses 20 anos. Quando começamos, ela era embrionária e, hoje, o mercado de energias renováveis está maior, através do biodiesel, do etanol e das energias hídrica, fotovoltaica e eólica. A qualidade da transição energética também mudou no mundo. Hoje, as pessoas têm mais compreensão de que precisamos avançar nisso o mais rápido possível.
JC - A Be8 foi pioneira na exportação de biodiesel para diversas partes do mundo. Ao que atribui isso?
Battistella - Desde que formamos a empresa, sempre tivemos a visão de que devemos estar preparados como companhia para vender para todos os mercados que possam utilizar nossos produtos. Acho que essa é a visão que temos como empresa em relação ao mercado que queremos explorar. Em 2012, já éramos certificados para exportar para a Europa. No ano passado, nos certificamos para exportar aos Estados Unidos, foram quase três anos no processo para obter a licença. Neste mês de abril, depois de quatro anos de trabalho, recebemos a certificação do estado da Califórnia.
JC - O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode impactar nas exportações?
Battistella - Uma certeza eu tenho: o mundo mudou e não será mais o mesmo com essa escalada tarifária a nível global. Mas ainda é muito cedo para dizer o que isso vai trazer efetivamente aqui para o Brasil, porque ainda não temos uma definição clara de como vai ficar essa questão. Nós estamos vivendo dias que certamente vão entrar na história da economia global.
JC - E como se preparar para esse novo cenário?
Battistella - Precisamos ter calma, cautela e aguardar para efetivamente entender o cenário. A partir disso, podemos nos reposicionar, tanto a companhia quanto o próprio País. Tenho defendido que o Brasil deve manter a calma e sempre estar disposto a sentar em uma mesa para negociar e criar pontes ao invés de muros.
JC - A partir de 2026, deve estar em funcionamento a primeira usina de produção de etanol da Be8. Além disso, quais são os planos para os próximos anos?
Battistella - É sempre uma visão muito ampla, porque o mundo está muito dinâmico e muda muito rápido. Mas o nosso foco é acelerar projetos já em andamento. Até o final do ano que vem, queremos colocar para operar esse grande investimento na usina de etanol. Mas também estamos agilizando nosso projeto para a produção de SAF (combustível sustentável de aviação) no Paraguai. Esses são nossos grandes projetos de curto prazo. Já a médio prazo, o que estamos fazendo é justamente uma migração de uma empresa que nasceu e cresceu com a produção de biodiesel para se tornar uma plataforma de soluções para transição energética, trabalhando com diferentes produtos e em diferentes regiões geográficas, ampliando nossa participação em outras regiões do Brasil.
Empresa foi homenageada pela Assembleia Legislativa
O deputado estadual Vilmar Zanchin (MDB) utilizou o grande expediente da Assembleia Legislativa desta quarta-feira (09) para homenagear a Be8 pelas suas duas décadas de atuação. Com a presença de Battistella na mesa, o reconhecimento foi acompanhado por políticos locais de Passo Fundo e representantes da imprensa gaúcha, incluindo o diretor-presidente do Jornal do Comércio, Giovanni Jarros Tumelero.
Durante seu discurso, Zanchin relembrou a trajetória de Battistella e agradeceu o empresário pela contribuição da Be8 na transição energética do Brasil e no crescimento socioeconômico da região Norte do Rio Grande do Sul. "A Be8 se tornou um motor de desenvolvimento para nossa economia, especialmente para o interior do estado. Além dos empregos diretos e indiretos, a atividade empresarial estimula a agricultura local e fortalece a cadeia produtiva regional”, pontuou.
Além disso, considerou que a empresa auxiliou a colocar o País como um dos maiores exportadores de biocombustível do mundo: "O trabalho e o arrojo na forma de empreender de Erasmo destacou que o Brasil deve estar mais focado em industrializar seus recursos naturais — investindo na transformação dos produtos, ao invés de apenas exportá-los na forma bruta”.
O empresário, por sua vez, agradeceu ao Legislativo e ao deputado pelo reconhecimento. “Muito nos honra estar aqui na casa do povo gaúcho recebendo essa homenagem e tendo reconhecimento pelo trabalho realizado ao longo dos últimos 20 anos”, pontuou Battistella.