O mercado automobilístico gaúcho esteve aquecido de janeiro a março de 2025. Afinal, os emplacamentos realizados no Rio Grande do Sul tiveram o melhor desempenho trimestral desde 2019. Os dados levantados pelo Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Rio Grande do Sul (Sincodiv/Fenabrave-RS) foram apresentados à imprensa nesta terça-feira (08).
As vendas de veículos de grande porte impulsionam o crescimento: os caminhões tiveram uma alta expressiva de 23,58% em relação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, os comerciais leves aumentaram 15,91%. Os ônibus, por sua vez, representaram o maior acréscimo percentual, chegando a 80,98%. Neste caso, no entanto, a ampliação se dá pelos baixos números absolutos da frota: há, hoje, 333 unidades no Rio Grande do Sul.
Em relação aos carros de passeio, há uma divergência entre carros e motocicletas: enquanto estes estagnaram com um pequeno incremento de 0,24%, aqueles ampliaram em 5,92%. A rejeição às motocicletas é o fator que, conforme expõe o Sincodiv/Fenabrave-RS, derruba o Estado no ranking nacional de emplacamentos. Desde 2021, o Rio Grande do Sul ocupava a 7ª posição e, agora, caiu para a 9ª colocação.
Entre os motivos para a antipatia dos gaúchos pelas motos, o presidente do Sincodiv/Fenabrave Jefferson Fürstenau destaca que o clima gélido do Estado não é fator determinante. De acordo com ele, as motivações têm relação com o alto custo para a obtenção da carteira de habilitação nacional na categoria A se comparado com o valor dos veículos de duas rodas. Além disso, reclama da falta de faixas exclusivas nos pedágios locais para as motocicletas.
Apesar disso, não descarta um erro dos próprios empresários: “parte dessa má venda do Rio Grande do Sul (de veículos) em duas rodas é do empresariado daqui que está acomodado. Também somos um estado muito bairrista e relativamente fechado”, avalia o líder patronal.
Setor não teme política econômica de Milei, mas veem incerteza na de Trump
Enquanto o presidente argentino Javier Milei ameaça deixar a Mercosul e o líder da Casa Branca Donald Trump impõe tarifas recíprocas a diversos paíse, incluindo o Brasil, o Sincodiv/Fenabrave-RS avalia com cautela as políticas econômicas de ambos. Ao mesmo tempo em que não acreditam em um impacto direto no setor automotivo gaúcho caso Milei tire a ideia do papel, os líderes patronais enxergam incertezas derivadas do tarifaço americano.
No caso de Milei, acreditam, inclusive, que o presidente não siga adiante com as medidas. Principalmente, considerando as relações comerciais do país com o Brasil: “acho muito difícil a Argentina ignorar o maior consumidor de automóveis deles. Eu me isolo, não vou comprar mais, mas também vou ter que desativar as fábricas, porque não tem um mercado que demande a produção da Argentina”, avalia o vice-presidente do Sincovid/Fenabrave-RS, José Luís Moreira.
“Se a Argentina sair do Mercosul, pode até resolver outras questões, mas, para automóveis, vai criar um grande problema. Principalmente, para montadoras que deixaram de produzir no Brasil e produzem na Argentina para abastecer o mercado brasileiro. Até porque o Brasil é o maior mercado automotivo da América Latina”, acrescenta Fürstenau.
Já no caso americano, avaliam que ainda não é possível avaliar quais serão os impactos no setor. “Como o Brasil acaba sendo muito mais um consumidor de componente para fazer a montagem final, talvez a gente se beneficie, desde que o dólar permita, que o dólar realmente é a moeda de referência, se ela perde o controle, como nos últimos dias a gente está vendo grandes oscilações, talvez a disponibilidade de componentes favoreça a nossa indústria. A barreira maior está ocorrendo para entrar nos Estados Unidos. Mas, por outro lado, tem todo o desfecho econômico, esse é incerto e duvidoso”, pontua Moreira.