A forma como estão sendo realizados os investimentos no setor privado e no mercado financeiro está profundamente relacionado a temas como meio ambiente, segurança alimentar, transição energética e aos recursos naturais. A análise foi feita pelo ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e CEO da YvY Capital, Gustavo Montezano, que nesta sexta-feira (4) participou do painel "Além do Verde: O Pilar Econômico da Sustentabilidade", durante o 38º Fórum da Liberdade realizado no Centro de Eventos na Pucrs. "O mercado financeiro, como qualquer outro mercado, passa por vários ciclos de evolução e modificação", destaca.
Segundo Montezano, há 20 anos a única preocupação dos bancos quando da construção de indústria de etanol ou de geração de energia era se tinha licença ambiental. "Ninguém perguntava se a comunidade era favorável ao complexo industrial e ninguém questionava se o impacto ambiental e climático era positivo ou negativo", diz. Hoje, o CEO da YvY comenta que se o investidor não fizer a revisão adequada dessas variáveis ambientais ele corre o risco de perder dinheiro. "A planta de uma indústria pode ser parada pela sociedade, pode ser atingida por uma enchente ou ter questões de passivos ambientais. São questões relevantes que fazem parte do dia a dia do mundo financeiro o que não ocorria há 20 anos atrás", acrescenta.
Montezano fundou a YvY Capital, empresa que realiza a gestão de investimentos em transição ambiental e climática. "Não há como falar em aquecimento global ou melhoria de poluição se as pessoas estão com fome", comenta. Para ele, qualquer política ambiental climática tem que focar na dignidade, ou seja, pensar nas pessoas. "O agronegócio é o coração de qualquer tópico relacionado ao meio ambiente porque teremos no mundo mais 2 bilhões de pessoas até 2050 e elas precisam se alimentar. E esse alimento uma parte vai sair do Brasil", afirma. De acordo com Montezano, o agronegócio trabalha com recursos naturais como solo, água, clima e estações do ano. "Quando falamos de biodiversidade, biomassa e preservação quem mais conhece o assunto em qualquer setor econômico no mundo é o agronegócio. Portanto, o agro é a solução e não o problema", acrescenta.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, afirma que não há a menor dúvida da importância da sustentabilidade do ponto de vista ambiental. "As mudanças climáticas são uma realidade e é preciso tomar uma série de medidas mitigadoras", destaca. Segundo Luz, são justamente os países mais ricos aqueles mais preocupados com as questões ambientais enquanto os pobres são os menos preocupados com o meio ambiente. "O Brasil é um País pobre e não adianta ficar a gente ficar se enganando. Precisamos de desenvolvimento econômico e podemos fazer isso com respeito ao meio ambiente. E o agronegócio respeita o meio ambiente", comenta.
Com relação às áreas preservadas, o economista diz que nenhum país no mundo tem algo parecido com o Brasil. "As leis ambientais no País são as mais restritivas do mundo. Mesmo assim, os produtores respeitam o meio ambiente", explica. Antônio da Luz diz que no mundo a irrigação é vista como algo positivo para o meio ambiente.
No painel do agronegócio, o ex-piloto da Fórmula 1 Mario Haberfeld, CEO da Onçafari, disse que o projeto de desenvolvimento do ecoturismo teve inicio em 2011 no Pantanal. Segundo Haberfeld, o trabalho diário de monitoramento das onças pintadas permite a equipe coletar dados nunca antes observados em vida livre. "Os dados são importantes para melhor entendermos a relação entre as espécies e traçarmos melhores estratégias para a conservação da biodiversidade", destaca. O ex-piloto da Fórmula 1 diz que além do Pantanal o trabalho foi expandido para outros três biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.