O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta quinta-feira (3) que o Brasil vai tomar "todas as medidas cabíveis" para defender o País após o presidente dos EUA, Donald Trump, impor uma taxação de 10% nas exportações brasileiras que entram nos EUA. Segundo ele, a atuação terá como referência a lei da reciprocidade econômica aprovada também na quarta-feira pelo Congresso e as diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em discurso no evento de dois anos de governo, Lula afirmou que o País não tolera ameaças à democracia e não bate continência para nenhuma outra bandeira "que não seja a verde a amarela".
"É um país que fala igual para igual e respeita todos os países dos mais pobres aos mais ricos, mas que exige reciprocidade no tratamento. Defendemos o multilateralismo e o livre comércio e responderemos a qualquer tentativa de impor protecionismo que não cabe mais hoje no mundo", declarou Lula. E acrescentou: "Diante da decisão dos EUA de impor sobretaxa, tomaremos todas as medidas cabíveis para defender nossas empresas e trabalhadores brasileiros."
O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, afirmou esperar uma solução em relação ao tarifaço. "Espero que haja uma solução, porque a medida de Trump afeta o mundo. Imagino que possa ter reação de países que foram taxados com tarifas maiores. Não tem muito o que ser feito a não ser aguardar, especialmente no caso brasileiro", disse Viana, em coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira. "Agora, é preciso aguardar", pontuou.
Viana defendeu a busca por entendimento com os Estados Unidos e a separação de negócios e política. "Não devemos desistir dos EUA, que são a maior economia do mundo. Temos que buscar o entendimento", defendeu Viana. "O Brasil lamenta o que está ocorrendo, mas fez o dever de casa para situações como essas, que espero que não se materializem. Torço para Trump rever, se não tudo, mas parte das medidas, por elas serem inexequíveis", acrescentou.
Sobre produtos brasileiros, os Estados Unidos irão adotar uma sobretaxa de 10% a partir de 5 de abril. De acordo com Viana, os 10% serão adicionais às alíquotas de importação vigentes. Ele citou o café, principal produto exportado do Brasil para os Estados Unidos, e também sujeito às tarifas. "O maior produtor de café é o Brasil. O segundo é o Vietnã, taxado com alíquota mais alta (46%)", apontou Viana.
Para o presidente da Apex Brasil, a posição do presidente Lula e do Itamaraty em manter cautela em relação ao pacote de Trump é a "mais correta". "O presidente Lula já disse que se tiver que ligar para Trump, se for necessário, ele liga. O presidente Lula é da pacificação, da mediação e deve escolher esse caminho. O governo Lula tem sido muito cauteloso desde o começo, colocando o MDIC para conversar com os EUA e com o posicionamento do Itamaraty sempre ponderado", observou. Na avaliação de Viana, a aprovação do projeto de lei da reciprocidade pelo Congresso Nacional já dá um sinal para os Estados Unidos de que o País tem alternativas para uma eventual resposta.
Centrais sindicais e patronais afirmam que sobretaxas vão impactar produção e emprego
O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pode impactar em 10% o preço das exportações brasileiras ao país da América do Norte provocou reação de entidades de trabalhadores e patronais brasileiras.
As entidades Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Pública Central do Servidor divulgaram nota na qual dizem que a sobretaxa imposta aos produtos exportados pelo Brasil terá impactos negativos sobre a produção e o emprego, e elogiam a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional e que, após sancionada, permitirá ao governo brasileiro reagir à medida dos Estados Unidos.
Em outro trecho da nota, as entidades apontam que "em vez de conter a decadência do império norte-americano, como promete o chefe da Casa Branca, o protecionismo agravará os problemas que afetam a economia mundial, desencadeando uma guerra comercial que pode resultar em uma nova depressão e alimentando o nacionalismo xenófobo"
As centrais sindicais defendem que o país se "proteja" e se "prepare" para responder à iniciativa unilateral de Trump. "Nesse sentido, em nome da classe trabalhadora brasileira, as centrais sindicais manifestam apoio à Lei da Reciprocidade, aprovada por unanimidade no Senado, que autoriza o governo federal a retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos brasileiros", afirma a nota. Por fim, as centrais destacam também que apoiam o fortalecimento da indústria nacional, o incentivo à produtividade e a geração de empregos de qualidade. Além disso, defendem ainda o fortalecimento do BRICS e os tratados internacionais vigentes.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) disse que a nova tarifa adotada pelos EUA não é positiva ao Brasil, mas "precisa ser analisada com mais profundidade". "O impacto dependerá de como nossos concorrentes diretos foram tarifados. Se enfrentarem taxas ainda mais altas, pode haver uma vantagem competitiva para o Brasil, já que o custo adicional será repassado ao consumidor americano", afirma Flávio Roscoe, presidente da FIEMG.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, afirmou que "o governo americano deveria negociar, conversar, dialogar antes de tomar decisões como essa, porque acaba atrapalhando todo o comércio já estruturado."
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também soltou uma manifestação defendendo a necessidade de diálogo para preservar uma relação bilateral histórica e complementar entre o Brasil e Estados Unidos. Já a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio), afirmou que a decisão dos Estados Unidos pode se tornar uma oportunidade ao comércio exterior do Brasil. A entidade também aposta no aproveitamento da conjuntura para "fechar acordos bilaterais, diminuir tarifas e facilitar mecanismos aduaneiros".
Canadenses e mexicanos reagem às medidas

Claudia diz que México vai buscar diversificar relações comerciais
Alfredo ESTRELLA/AFP/JCO primeiro-ministro canadense, Mark Carney, afirmou que Donald Trump preservou "vários elementos importantes" do relacionamento comercial entre o Canadá e os Estados Unidos.
"No entanto, as tarifas sobre o fentanil ainda permanecem, assim como as tarifas para aço e alumínio. A partir desta noite, as tarifas sobre automóveis entrarão em vigor, e os EUA sinalizaram que haverá tarifas adicionais em setores chamados estratégicos, como farmacêuticos, madeira e semicondutores." O político ainda diz que considera as medidas negativas tanto para a economia do Canadá quanto para a dos EUA. "Vamos combater essas tarifas com contramedidas. Vamos proteger nossos trabalhadores e construir a economia mais forte do G7. Em uma crise, é importante unir-se e é essencial agir com propósito e força", afirmou na quarta, após os anúncios.
O México, por sua vez, afirmou que buscará diversificar suas relações comerciais com outros países além dos Estados Unidos, segunda a presidente mexicana Claudia Sheinbaum durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
"O México vai assinar e vai manter um acordo de trocas comerciais com a União Europeia", declarou Sheinbaum, sem dar mais detalhes. Ainda segundo a líder mexicana, o país segue em negociações com os Estados Unidos em relação às tarifas sobre a indústria automotiva, aço e alumínio.