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Publicada em 26 de Março de 2025 às 17:59

Distribuidoras de energia projetam investimento de R$ 145 bilhões até 2028

Madureira ressalta necessidade de fortalecer redes contra eventos climáticos

Madureira ressalta necessidade de fortalecer redes contra eventos climáticos

Mauricio Maia/Diculgação/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Depois de terem aportado cerca de R$ 31 bilhões no ano passado, as distribuidoras de energia do País preveem desembolsar mais R$ 145 bilhões até 2028 para a expansão, manutenção e modernização das redes elétricas. O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Aurélio Madureira, ressalta que, além do aprimoramento da operação, os desembolsos tendem a aumentar para elevar a resiliência do setor quanto aos eventos climáticos extremos que têm ficado cada vez mais recorrentes. Esse esforço, comenta o dirigente, estará em foco na 25ª edição do Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica (SENDI), que será realizado de 26 a 30 de maio na Expominas, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Jornal do Comércio (JC) - A projeção de investimentos de R$ 145 bilhões por parte das distribuidoras até 2028 é devido aos constantes fenômenos climáticos que vêm afetando as redes elétricas?
Depois de terem aportado cerca de R$ 31 bilhões no ano passado, as distribuidoras de energia do País preveem desembolsar mais R$ 145 bilhões até 2028 para a expansão, manutenção e modernização das redes elétricas. O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Aurélio Madureira, ressalta que, além do aprimoramento da operação, os desembolsos tendem a aumentar para elevar a resiliência do setor quanto aos eventos climáticos extremos que têm ficado cada vez mais recorrentes. Esse esforço, comenta o dirigente, estará em foco na 25ª edição do Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica (SENDI), que será realizado de 26 a 30 de maio na Expominas, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Jornal do Comércio (JC) - A projeção de investimentos de R$ 145 bilhões por parte das distribuidoras até 2028 é devido aos constantes fenômenos climáticos que vêm afetando as redes elétricas?
Marcos Aurélio Madureira - Não é só. A gente tem investido na modernização e na melhoria da qualidade, independentemente dessa questão. Mas, esse tema, sem dúvida nenhuma irá exigir maiores investimentos. Por exemplo, se discute muito que para aumentar a resiliência de rede seria preciso construir redes subterrâneas, que são muito mais caras que a rede área. É cerca de oito a dez vezes o preço de uma rede comum. O trabalho para reduzir o tempo de religamento exige maiores investimentos.

JC - Quais são os eventos climáticos que prejudicam a atividade de distribuição?
Madureira - Nós temos vários tipos. No Norte, a gente tem secas que trazem problemas sérios no fornecimento de energia. Pega um estado como o do Amazonas, em que se transporta equipamentos pelas vias aquáticas, com o período prolongado de seca há dificuldades de acessar algumas regiões. Tem lugar que fica meses sem a possibilidade de chegar com barcos para transportar equipamentos de maior porte. No Nordeste, começa a se deparar com queimadas, que também trazem problemas para a rede. No Sudeste e Sul há a questão das tempestades, com muita intensidade de chuvas e ventos.

JC - A frequência de tempestades e outros acontecimentos preocupa?
Madureira - Temos a cada dia um volume maior, uma maior frequência de eventos e com mais intensidade. No Sul, em especial no Rio Grande do Sul, a média tem sido quase que um ciclone por mês. Ciclones que têm trazido problemas sérios para a infraestrutura como um todo, mas em especial para a rede elétrica, para a distribuição de energia. Eu diria que é um desafio que enfrentaremos daqui para frente.
JC - O que pode ser feito para que as concessionárias de energia brasileiras melhorem suas respostas em momentos críticos?

Madureira - Para isso, a gente tem que ver o que tem ocorrido em outros países, que já têm tido esses eventos com maior frequência e há mais tempo. Por exemplo, nos Estados Unidos, no estado da Flórida, que já convive com furacões há algum tempo, eles foram se adequando, se adaptando. Por volta do ano de 2005, eles conseguiam para determinadas categorias de furacões, os maiores, levar 20 dias para ligar o último consumidor depois de desligado. Eles aumentaram a capacidade deles de se adequarem a essas questões e hoje eles conseguem, com furacões de intensidade até maior, ter o último consumidor reconectado em oito dias.

JC - Como as empresas estrangeiras conseguiram melhorar?
Madureira - Com evolução, não só de rede, muito de automação, que é o que as empresas têm feito. Tem que colocar equipamentos que permitam religar o mais rápido possível aqueles consumidores que têm condições de serem religados. Aí é preciso investimentos em equipamentos, automação e novas redes.


JC - Quais as medidas para que árvores e redes elétricas convivam harmonicamente?
Madureira - É um problema que precisa ser tratado adequadamente. Temos as redes que chamamos de isoladas ou protegidas. A isolada, como o próprio nome diz, é um cabo isolado e a protegida é um cabo semi-isolado que permite uma convivência maior com a arborização, permite que a rede possa tocar na árvore sem problema ou que um galho caia em cima da rede e fique pendurado. Mas, quando se tem uma árvore de dimensão muito grande e ela cai sobre a rede, aí não tem jeito. Não é o vento que derruba a rede, é a árvore. Precisamos cuidar da infraestrutura urbana para evitar esse tipo de problema.

JC - Qual a posição da Abradee sobre subsídios no setor elétrico?
Madureira - A Abradee tem se dedicado, há algum tempo, a combater os subsídios que pesam na conta de energia elétrica para os consumidores. Esse tem sido um desafio, que vai continuar, até quando a gente conseguir fazer com que as pessoas compreendam que não podem jogar a rentabilidade maior de determinado segmento na conta dos demais consumidores.

JC - Dentro desses subsídios, está a questão da geração distribuída (em que o consumidor produz sua própria energia, normalmente através de painéis solares)?

Madureira - A geração distribuída, no ano passado, já custou na ordem de mais de R$ 11 bilhões aos consumidores. Nós precisamos parar com isso, porque o consumidor (de geração distribuída) não paga pelo sistema de distribuição e nem pelo de transmissão e se ele não paga, outro paga por ele. Eu comparo com um ônibus, se uma pessoa não vai pagar, o custo não diminui, ele termina sendo rateado pelos demais.

JC - Atualmente, no Congresso Nacional, está sendo avaliada a queda ou não dos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a emendas que garantem a contratação de determinadas fontes de energia dentro do Projeto de Lei (PL) 576. Qual a sua avaliação sobre o tema?

Madureira - Se forem confirmadas essas emendas, será um ônus de R$ 19 bilhões por ano na conta dos consumidores até 2050, o que dá um aumento na ordem de 9% do custo de energia. Estamos juntos com outras associações, não só do setor elétrico, mas de consumidores e indústrias, fazendo uma campanha muito grande para que os vetos sejam mantidos.

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