Considerado como uma das maiores apostas quanto aos combustíveis que serão utilizados futuramente no planeta, o hidrogênio também desperta muito interesse no Rio Grande do Sul. Dentro desse cenário e para habilitar o desenvolvimento de pesquisas e serviços em diferentes áreas de negócios dessa cadeia, o Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), em parceria com a Petronas Brasil, pretende lançar até o final do ano um laboratório de tecnologias de hidrogênio.
O diretor e pesquisador do IPR, Felipe Dalla Vecchia, detalha que a ação envolve a reforma de uma área do Instituto de cerca de 250 metros quadrados. O objetivo é trabalhar com toda a cadeia de hidrogênio, desenvolvendo processos e produtos. O espaço ficará junto ao recentemente inaugurado laboratório de tecnologias de baixo carbono, no complexo da Pucrs, em Porto Alegre.
Uma das atividades da nova unidade será prestar serviço na área de certificação de qualidade para garantir que o combustível atenda aos requisitos para exportação e uso como um produto. “Isso contribuirá para suportar o desenvolvimento de novas tecnologias no Estado e no País, com a possibilidade de ser um elemento de apoio para essa nova industrialização”, diz Vecchia.
O professor ressalta que são poucos aparelhos dessa natureza operando no mundo atualmente. A estrutura gaúcha deve passar pelo seu processo de acreditação (reconhecimento de competência) em 2026, com a expectativa de que até o final do próximo ano o laboratório esteja habilitado a prestar o serviço de verificação da qualidade do hidrogênio. Deverão atuar no complexo profissionais dos campos da engenharia, química, biologia, entre outras áreas tecnológicas.
O laboratório na Pucrs irá trabalhar com hidrogênio proveniente de diversas fontes, sejam fósseis ou renováveis. O elemento é considerado uma importante fonte energética, mas, como ele não ocorre isolado na natureza, um dos processos para sua obtenção é a eletrólise da água (separando o hidrogênio do oxigênio, através da eletricidade). Ao se obter o hidrogênio puro, é possível aproveitá-lo para ações como armazenar e gerar energia por meio de células de combustível (em veículos de pequeno, médio e grande porte, como automóveis e caminhões), assim como pode servir de insumo para a produção siderúrgica, química, petroquímica, agrícola, alimentícia e de bebidas e para aquecimento de edificações.
Quando forem usadas fontes renováveis, como a solar e a eólica, maior será a contribuição do processo para o cenário ambiental e o hidrogênio pode ser classificado como “verde”. O hidrogênio também pode ser alcançado por outras origens, como o gás natural, contudo, nesse caso, ele é considerado como “cinza”. Nesta terça-feira (25), a Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul promoveu no Tecnopuc, na capital gaúcha, um encontro para discutir vários aspectos do segmento do hidrogênio verde.
O diretor executivo da Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul, Dietmar Sukop, considera estratégica a aliança entre os alemães e os brasileiros. “Isso porque a Alemanha não tem capacidade para produzir hidrogênio suficiente para o próprio uso, então vai ser preciso importar”, aponta o dirigente. Ele antecipa que mercados como o do Brasil serão fundamentais para suprir essa demanda da Europa.
Governo do Estado encaminhará para a Assembleia Legislativa política relativa ao novo combustível
A meta do governo estadual, de acordo com a secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, é enviar ainda neste ano para a Assembleia Legislativa a proposta de uma política quanto ao desenvolvimento do setor de hidrogênio verde no Rio Grande do Sul. A iniciativa busca definir marcos para o segmento e abordar questões sobre a possibilidade de aceleração de licenciamentos e disponibilidade de programas específicos de incentivos fiscais.
“Assim como a conexão de tudo isso com o Plano Rio Grande e com o projeto de descarbonização do Estado”, complementa Marjorie. A secretária frisa que o Rio Grande do Sul tem um enorme potencial para a geração de energia renovável (mais de 80% da matriz elétrica gaúcha é constituída de fontes limpas), o que beneficia a produção de hidrogênio verde. Ela recorda que a energia representa aproximadamente 70% do custo de implantação de projetos desse combustível.
Para o sócio-diretor da Noale Energia, Frederico Boschin, a estipulação de uma política sobre o hidrogênio verde é algo importante. Ele argumenta que, por se tratar de um novo vetor energético global, todas as ações incipientes dessa nova tecnologia precisam partir de um impulso governamental. “É fundamental proporcionar bons ambientes de negócios, de atração de investimentos, de regulação e incentivos de tributação, além de estimular a formação de mão de obra”, aponta o representante da Noale Energia.
Boschin comenta que uma das dificuldades para o desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde é o custo do transporte do combustível. Devido a essa questão, um facilitador é a construção de plantas de hidrogênio verde próximas a portos, para exportar o produto, ou do seu local de uso, como é o caso do meio rural e a amônia verde (insumo da cadeia dos fertilizantes agrícolas originado do hidrogênio).
Atualmente, dois projetos de produção de amônia verde estão tramitando na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para obter o licenciamento prévio ambiental. Tratam-se de unidades que a empresa Begreen pretende construir em Passo Fundo e Tio Hugo. O diretor de operações da companhia, Luiz Paulo Hauth, acrescenta que, além dessas duas fábricas, há outro empreendimento da mesma natureza a ser realizado em Condor. O processo de licenciamento dessa estrutura deve ingressar na Fepam ainda neste primeiro semestre.
Hauth informa que, depois de resolvidas as questões de licenciamento e financiamento, em 20 meses será possível operar as plantas de amônia verde. No momento, o investimento para erguer as três unidades é estimado entre R$ 160 milhões a R$ 165 milhões. O integrante da Begreen explica que o fator cambial está impactando a projeção de aporte. As três plantas somadas terão uma capacidade de produção de cerca de 8 mil toneladas de amônia verde anidra por ano.