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Publicada em 20 de Março de 2025 às 15:43

Quase metade das demissões do RS em janeiro foi a pedido do trabalhador

Mercado está aquecido e o trabalhador com maior poder de barganha, diz assessor da FGTAS

Mercado está aquecido e o trabalhador com maior poder de barganha, diz assessor da FGTAS

YekoPhotoStudio/Rakoolstudio/FreePik/JC
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Amanda Flora
Amanda Flora
Os dados de janeiro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostraram que 46,3% dos desligamentos ocorridos no Rio Grande do Sul foram a pedido do trabalhador. O resultado do primeiro mês do ano contrasta com o acumulado do ano anterior, que foi de 40,9% em pedidos de demissão, representando um aumento de 5,4% no primeiro mês do ano.O segundo motivo mais comum observado nos desligamentos no estado foi a demissão sem justa causa, com 36,2%. Os dados foram fornecidos pelo Caged e compilados pela Fundação do Trabalho e Ação Social (Fgtas), através da Seção de Informação e Pesquisa. Segundo a Fgtas, esses dados parciais do ano mostram que o mercado está aquecido e que o trabalhador está com maior poder de barganha. “Como existem mais admissões em relação às demissões, o trabalhador acaba optando por vagas que oferecem uma melhor remuneração ou melhores condições de trabalho. O desemprego estar em baixa também acaba gerando uma maior demanda por mão de obra”, afirma o economista e assessor da Fgtas, Christian Kuhn.
Os dados de janeiro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostraram que 46,3% dos desligamentos ocorridos no Rio Grande do Sul foram a pedido do trabalhador. O resultado do primeiro mês do ano contrasta com o acumulado do ano anterior, que foi de 40,9% em pedidos de demissão, representando um aumento de 5,4% no primeiro mês do ano.

O segundo motivo mais comum observado nos desligamentos no estado foi a demissão sem justa causa, com 36,2%. Os dados foram fornecidos pelo Caged e compilados pela Fundação do Trabalho e Ação Social (Fgtas), através da Seção de Informação e Pesquisa.

Segundo a Fgtas, esses dados parciais do ano mostram que o mercado está aquecido e que o trabalhador está com maior poder de barganha. “Como existem mais admissões em relação às demissões, o trabalhador acaba optando por vagas que oferecem uma melhor remuneração ou melhores condições de trabalho. O desemprego estar em baixa também acaba gerando uma maior demanda por mão de obra”, afirma o economista e assessor da Fgtas, Christian Kuhn.
“Eu me senti muito bem depois que pedi demissão. No início foi um misto, porque, ao mesmo tempo que dá uma sensação de estar deixando uma carreira para trás, vem um alívio, porque eu também tinha a noção que ia parar de ser explorada”, afirma uma estudante de Relações Públicas, que preferiu não se identificar, e que faz parte do grupo de trabalhadores gaúchos que deixaram os empregos por vontade própria em janeiro. 
Ela optou pelo desligamento da empresa calçadista onde trabalhava por três motivos: ter mais tempo para se dedicar à faculdade, o salário baixo, junto à falta de benefícios, e a cultura organizacional da empresa, que, segundo a universitária, “era muito fabril” e sem perspectiva de instaurar modelo híbrido de trabalho.
A psicóloga e pesquisadora do tema na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (Ufcspa), Caroline Tomazi, diz que essas são causas comuns para pedidos de demissão vindo dos empregados. “Vivemos um contexto econômico de bastante pressão financeira. As pessoas estão acumulando jornadas. Hoje tem a pessoa em trabalho formal, que faz um frila para complementar renda, por exemplo. Isso gera uma sobrecarga grande de horas de trabalho”, afirma ela.

Segundo Kuhn, da Fgtas, a entidade não tem um dado preciso sobre as causas da insatisfação do trabalhador com a atividade laboral. Mas ele não descarta que isso colabore com os resultados de janeiro, principalmente diante da oferta de mais vagas e a possibilidade de optar pela melhor opção.

Causa de desligamentos Jan/2025

O total de 130.340 desligamentos ocorridos em janeiro deste ano foram divididos em oito causas:

1° - Demissão a pedido do trabalhador - 46,3%
2° - Demissão sem justa causa - 36,2%
3° - Demissão por término de contrato - 14%
4° - Demissão com justa causa - 1,6%
5° - Acordo entre as partes - 1,1%
6° - Morte - 0,3%
7° - Aposentadoria - 0,02%
8° - Culpa recíproca - 0,003%

Fonte: Caged

Jovens priorizam vagas em empresas adeptas a políticas de saúde mental

Os jovens entre 19 e 29 anos lideraram o perfil dos pedidos de demissão ocorridos em 2024, chegando a 45%. Para a pesquisadora Caroline Tomazi, essa é uma característica da geração em priorizar ambientes de trabalho mais saudáveis. “O jovem sabe que trocar de empresa não manchará seu currículo. Ele entende que a saúde mental é importante, e hoje o trabalho é muito mais do que simplesmente trabalhar”, afirma.

Esse dado demonstra um desafio para as empresas em reter jovens talentos. A estudante de Relações Públicas que pediu demissão da fábrica calçadista, por exemplo, afirma que sentiu um desgaste emocional muito grande após três anos trabalhando na empresa. “Eu priorizo pela qualidade de vida, então, um modelo de trabalho híbrido, que não necessite estar na empresa todos os dias para mim é essencial”, afirma ela, que não quis se identificar.

Segundo Tomazi, é possível as empresas diminuírem as taxas de demissão a pedido, mediante a instituição de políticas de segurança trabalhista, como planos de carreira, políticas de saúde mental e adoção de flexibilidade. “Hoje o trabalhador não vive mais para trabalhar, ele trabalha para poder viver e ter outras esferas da vida funcionando, então, ele deixa de ocupar esse papel de ‘vestir a camisa da empresa’”, finaliza a pesquisadora.

Causa de desligamentos em 2024 no RS por faixa etária:



Total de desligamentos: 1.475.850 

Homens: 51% 
Mulheres: 49%

1ª faixa: entre 19 e 29 anos - 45%
2ª faixa: entre 30 e 39 anos - 25%
3ª faixa: entre 40 e 49 anos - 16%
4ª faixa: entre 50 e 64 anos - 8%
5ª faixa: 18 anos - 6%

Fonte: Caged

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