Porto Alegre, sex, 14/03/25

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 13 de Março de 2025 às 21:22

Cafeterias de Porto Alegre reajustam preços em meio à alta do café

Instabilidade do clima afetou produção e valor final do café

Instabilidade do clima afetou produção e valor final do café

PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Compartilhe:
Miguel Campana
Miguel Campana Repórter
A alta no preço do café observada nos supermercados também está afetando o comércio das cafeterias de Porto Alegre. Diante deste cenário, visando evitar o acúmulo de prejuízo, alguns estabelecimentos estão precisando reajustar o valor dos produtos oferecidos aos clientes.
A alta no preço do café observada nos supermercados também está afetando o comércio das cafeterias de Porto Alegre. Diante deste cenário, visando evitar o acúmulo de prejuízo, alguns estabelecimentos estão precisando reajustar o valor dos produtos oferecidos aos clientes.
Segundo o proprietário da cafeteria Baden, Guert Schinke, o repasse do aumento no preço do café era inevitável. “Não temos margem para absorver tudo. Ainda não sabemos se o reajuste será suficiente, porque é preciso ver como será o movimento do mercado”, comenta. No estabelecimento, uma xícara de café expresso, por exemplo, subiu R$1,00, chegando a R$9,00.
Para se precaver em meio às oscilações do preço do café, a Baden comprou, entre o final de 2024 e o início de 2025, o estoque para este ano inteiro. Schinke acredita que a tendência é que o preço deste produto permaneça alto nos próximos meses, e que não voltará tão cedo ao patamar pré-pandemia.
Para driblar variação do preço do produto, Baden garantiu o estoque para o ano inteiro | THAYNÁ WEISSBACH/JC
Para driblar variação do preço do produto, Baden garantiu o estoque para o ano inteiro THAYNÁ WEISSBACH/JC
O estabelecimento Café do Mercado, por sua vez, também precisará reajustar o valor dos seus produtos. “O repasse é motivado não só pelo aumento do custo do café, mas dos outros insumos. O leite e o chocolate também estão mais caros”, explica o diretor da cafeteria, Clóvis Althaus Júnior. De acordo com ele, toda a linha de clássicos, que engloba o expresso, o cappuccino e o moca, sofrerá um reajuste de 15% a 20%.
Na Origem Coffee, até o momento, a alta no preço do grão de café foi absorvida. No entanto, segundo o gerente operacional da cafeteria, Rafael Vargas, existe a possibilidade de haver um reajuste nos próximos meses. “O nosso objetivo é segurar os preços, como fizemos até agora, mas pode ser que em algum momento nós tenhamos que fazer alguma mudança nos valores”, comenta.
Diminuição da oferta foi influenciada por questões climáticas
Na contramão de grande parte dos itens da cesta básica, o café foi o produto com a maior alta de preço nos dois primeiros meses deste ano (29,34%). No acumulado dos últimos 12 meses, o aumento foi de 78,58%, conforme pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Para a economista-chefe do Dieese/RS, Daniela Sandi, a alta no preço do café pode ser explicada, entre outros fatores, pela questão climática. “A instabilidade do clima afetou boa parte das produções no ano passado, como os períodos de seca no Brasil e no Vietnã, que são os maiores produtores de café no mundo”, explica.
Em 2023, a produção de café no País chegou a 55,07 milhões de sacas, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Em 2024, houve redução de 0,5% na produção (54,79 milhões), embora este tenha sido um ano de bienalidade positiva.
Daniela acredita que seria possível ter maior controle sobre o preço do café com os estoques reguladores, muito comuns nas grandes economias mundiais. “Países como a China e os Estados Unidos mantêm seus estoques de alimentos justamente como forma de proteger tanto o consumidor quanto o produtor. No Brasil, nós não temos mais esse instrumento de auxílio em meio às oscilações do café”, comenta. A economista alerta, no entanto, que a adoção da estratégia dos estoques reguladores leva tempo, ou seja, não serviria para resolver problemas no curto prazo.
Outro importante fator na alta do preço do café foi a elevação do dólar. A moeda estadunidense ultrapassou a faixa de R$6,00 no final de novembro passado, após anúncio do Ministério da Fazenda sobre o pacote de corte de gastos públicos. “O aumento do dólar faz ser mais atrativo exportar do que vender internamente. Quando vende para dentro do País, é por um preço acima do que é competitivo no mercado externo”, explica o professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Raphael Martins.
De acordo com ele, a demanda internacional também tem crescido exponencialmente, com destaque para a China. “Nos últimos 10 anos, o consumo chinês de café basicamente aumentou mais de 10 vezes. É um produto que já está presente no ocidente há séculos, mas sua introdução no mercado asiático é relativamente recente”, comenta.
Para o professor da Ufrgs, em meio à continuidade da seca e à previsão do relatório Focus de que a cotação do dólar estará em R$6,00 ao final de 2025, é difícil estimar uma perspectiva de baixa no preço do grão de café.

Notícias relacionadas

Comentários

0 comentários