De Delft, Holanda
Uma nova fase da elaboração do Plano Urbanístico Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, será apresentada no dia 26 de março. Na ocasião, será feita a divulgação do plano de trabalho da iniciativa.
Uma nova fase da elaboração do Plano Urbanístico Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, será apresentada no dia 26 de março. Na ocasião, será feita a divulgação do plano de trabalho da iniciativa.
A professora Associada de Projeto Urbano e Teoria Crítica, da Faculdade de Arquitetura de Ambiente Construído da Delft University of Tecnology, Taneha Bacchin, comenta que esse documento contém o detalhamento dos processos da execução do projeto, que levará um total de 18 meses para ser finalizado.
Os estudos serão desenvolvidos pela universidade holandesa, com recursos na ordem de US$ 1,2 milhão provenientes da cooperação entre prefeitura da capital gaúcha e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Taneha explica que o objetivo do projeto é o desenvolvimento do plano socioambiental das ilhas de Porto Alegre.
Essa ação, segundo a professora, será feita por meio de uma abordagem com a comunidade local e através de oficinas envolvendo população, técnicos, cientistas, entre outros agentes. Taneha informa que a medida parte de um zoneamento das áreas de risco e a partir disso o objetivo é indicar o "como e onde viver". A avaliação irá abranger questões de habitação e de planejamento de infraestrutura, levando em conta que eventos climáticos severos possam acontecer novamente na região.
O desenvolvimento do plano socioambiental das ilhas de Porto Alegre prevê o zoneamento das áreas de alto risco e de menor perigo, cuja exposição dos moradores poderá ser mitigada a partir de soluções de infraestrutura.
As cheias do ano passado afetaram 6.411 pessoas e 1.688 famílias localizadas na região dos arquipélagos.
A professora enfatiza que a educação ambiental e a conscientização para entender como ocupar os espaços, preservando a vida, é algo essencial. Nessa segunda-feira (24), uma das agendas da missão gaúcha na Holanda, para acompanhar soluções para amenizar impactos de eventuais novas enchentes, foi visitar a universidade de Delft, na cidade de mesmo nome.
A instituição foi fundada em 1842 e atualmente possui oito faculdades e aproximadamente 26,4 mil estudantes. O departamento de engenharia hidráulica da universidade é uma referência nas pesquisas sobre o tema.
O complexo possui um laboratório que permite, em uma menor escala, simular e analisar as condições de rios, como suas movimentações e disposição de sedimentos. O professor e hidrólogo Frans Klijn comenta que essas informações podem ser inseridas em um modelo matemático e alimentar computadores para se entender melhor eventuais riscos de inundações.
O reitor da Faculdade de Engenharia Civil e Geociências (CEG) da Universidade de Tecnologia de Delft,
Stefan Aarninkhof, destaca que, entre os focos dos assuntos de interesse da instituição, estão as mudanças climáticas, qualidade da água, transição energética, biodiversidade, urbanização e mobilidade.
Stefan Aarninkhof, destaca que, entre os focos dos assuntos de interesse da instituição, estão as mudanças climáticas, qualidade da água, transição energética, biodiversidade, urbanização e mobilidade.
Aarninkhof frisa que as enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado foram um evento de enormes proporções. "É crucial prestarmos atenção e acharmos soluções para nos prepararmos para fatos como esse", sustenta o reitor. Ele defende que é preciso entender o mundo e fazer as intervenções necessárias para melhorá-lo.
"Não tirarei ninguém na marra", diz Melo sobre moradores das ilhas
Conforme o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, a intenção é que não sejam adotadas medidas drásticas caso o plano urbanístico do bairro Arquipélago recomende deslocamentos de famílias de algumas áreas. "Não tirarei ninguém na marra, mas vou tentar ficar rouco de tanto convencer as pessoas que em determinado lugar não pode morar", afirma Melo.
Ele salienta que as ilhas são um caso diferente do dique do Sarandi, onde 57 famílias precisam sair da localidade para as obras de elevação da estrutura continuarem. O prazo de negociação acaba dia 28 de fevereiro e o prefeito admite que, se o impasse se prolongar, poderá recorrer a ações legais para resolver a questão.
Já na situação do bairro Arquipélago o problema não é tão iminente e haverá mais tempo para convencer os residentes, projeta Melo.
Por sua vez, o secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade da Capital, Germano Bremm, recorda que a enchente afetou cerca de 30% do território de Porto Alegre e mais de 160 mil pessoas, mas impactou especialmente o território das ilhas. Melo e Bremm integram a missão gaúcha na Holanda que observa soluções contra cheias. "A gente veio buscar a experiência holandesa justamente pelo conhecimento (deles) na gestão de águas para pensarmos que tipo de ocupação teremos naquele território (ilhas)", assinala o secretário. Ele frisa que a meta é aprender a conviver com a subida das águas e adianta que, depois de realizar o desenho do planejamento urbanístico das prioridades no bairro Arquipélago, a ideia é estruturar um termo de referência para serem contratados projetos de intervenções.
O secretário recorda que na região há a confluência do Jacuí e de outros rios do entorno e talvez possa ser pensada uma alternativa como, por exemplo, a implementação de um canal no local para dar maior vazão à água e diminuir possíveis elevações. Contudo, Bremm salienta que sempre é um desafio a realização de novas obras e não há uma solução mágica. Ele considera que, para poder financiar essas iniciativas, é possível buscar apoio nos governos estadual e federal.