Aprender com as ações tomadas na Holanda quanto à resiliência climática, gestão de água e proteção de enchentes é o foco da missão gaúcha que viaja nesta semana para o país europeu. O grupo contará com integrantes do governo gaúcho e da prefeitura de Porto Alegre, entre os quais o governador Eduardo Leite e o prefeito Sebastião Melo.
A agenda oficial de atividades na Holanda iniciará na sexta-feira (21), quando está marcado um encontro com o embaixador do Brasil nos Países Baixos, Fernando Simas Magalhães, na cidade de Haia. O último dia de reuniões está previsto para o dia 26. Antes de se juntar à comitiva, Leite participará em Estocolmo, na Suécia, do evento Techarena, que reúne lideranças de mais de 120 países para discutir inovação e desenvolvimento sustentável.
Sobre a missão à Holanda, o governador informa que se trata de um convite feito pelo governo daquela nação e que tem boas expectativas quanto aos frutos da iniciativa. “A gente olha para a Holanda como uma boa referência de sistemas de proteção e de contenção de cheias”, enfatiza Leite. Ele complementa que será um momento de interação com especialistas, com representantes acadêmicos e integrantes do governo holandês para trazer o conhecimento sobre o assunto e aplicá-lo no Rio Grande do Sul.
Já o prefeito de Porto Alegre recorda que a aproximação com as instituições holandesas para tratar de temas como sustentabilidade e gestão de águas já ocorria antes das enchentes. Melo ressalta que as cheias aceleraram esse processo de troca de experiências, que culminou na missão à Europa. “Essa é uma visita de campo, que significa ir lá na ponta e ver um país que tem todo um histórico de drenagem urbana”, assinala.
Pelo poder municipal, acompanham o prefeito na viagem o secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Bruno Vanuzzi, e o diretor de Drenagem do Dmae, Alex Zanoteli. “A visita é uma oportunidade para aprendermos com uma experiência de mais de 1 mil anos nessa área”, reforça Bremm.
O secretário recorda que holandeses e gaúchos já possuem parcerias, como é o caso do termo de cooperação para desenvolver o Plano Urbanístico Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável do bairro Arquipélago, na Capital. O projeto prevê ações como reassentamento, regularização fundiária, adaptações nas moradias e obras necessárias para minimizar os impactos das cheias nas ilhas.
Além disso, estão previstos estudos hidrológicos, geológicos, sociais, econômicos, ambientais, análise de risco e vulnerabilidades climáticas, entre outros, para a criação de um plano de intervenções em mobilidade, saneamento, resíduos sólidos, equipamentos públicos, áreas verdes, sistema de contenção, mitigação e monitoramento permanente do território. Essa iniciativa conta com o apoio da Universidade de Tecnologia de Delft, uma das instituições que devem ser visitadas pela missão gaúcha.
O chefe do Netherlands Business Support Office (NBSO) em Porto Alegre, Caspar van Rijnbach, adianta que serão observadas experiências de contenção de cheias e gestão de águas em cerca de dez cidades holandesas. O dirigente, que será anfitrião da delegação, reforça que a intenção do país europeu é aumentar a cooperação com o Rio Grande do Sul e a Capital.
Ele recorda que em agosto do ano passado foi realizada, em Porto Alegre, a Conferência de Cocriação e Compartilhamento de Conhecimento Brasil – Países Baixos para debater opções para o enfrentamento das enchentes. “Temos desafios de certa forma similares quanto à resiliência climática, gestão de água e proteção de enchentes e acreditamos que ambas as partes poderão aprender bastante uma com outra”, conclui.
Enfrentamento de fenômenos climáticos foi aprimorado com o tempo pelos holandeses
“A gente foi aprendendo apanhando, não é que a Holanda acertou desde o início, tiveram várias enchentes”, frisa o chefe do Netherlands Business Support Office (NBSO) em Porto Alegre, Caspar van Rijnbach. O dirigente destaca que o país, há séculos, começou a tomar ações como desvio de rios, esvaziamento de alguns lagos e aplicação de barreiras de contenção para fazer a gestão da água. Essas medidas decorrem, principalmente, pelos riscos apresentados pelo mar e pelos vários rios que fluem pela nação.
Essa situação está tão enraizada na história holandesa, que o país conta com o Museu das Inundações, localizado na província da Zelândia e dedicado à memória da grande enchente de 1953. O espaço aponta os impactos sociais do acontecimento e as lições aprendidas para o desenvolvimento de políticas de prevenção. Rijnbach informa que, na ocasião, morreram quase 2 mil pessoas. Esse será um dos pontos visitados pela missão gaúcha.
Também haverá encontros com a Unie van Waterschappen, autoridades de gestão de água nos Países Baixos, responsáveis pelo controle de inundações, qualidade da água e abastecimento sustentável, e com o Dutch Risk Reduction, grupo de especialistas enviados a regiões afetadas por desastres hídricos para oferecer consultoria e assistência técnica. Outro compromisso será com o Partners for Water, programa governamental que financia e promove a inovação em gestão hídrica dentro e fora dos Países Baixos, e com o Netherlands Water Partnership (NWP), rede público-privada que conecta empresas, universidades e o governo para soluções avançadas em segurança hídrica e infraestrutura.
Ainda na agenda, está uma reunião com representantes do Water Envoy, iniciativa do governo holandês que fomenta colaborações internacionais em gestão da água e adaptação climática, e do Rotterdam Resilient City, programa que torna Rotterdam um modelo global de resiliência urbana, com projetos que combinam soluções de infraestrutura verde, gestão inteligente da água e proteção contra enchentes.
A missão acompanhará ainda testes para inovações em defesas temporárias contra enchentes, usadas para avaliar soluções aplicáveis a áreas urbanas vulneráveis e o funcionamento do Motor de Areia, solução inovadora de engenharia costeira que utiliza a dinâmica natural para proteger o litoral. Criada como um experimento para reforço de dunas e praias, reduz riscos de erosão e inundações costeiras.
Por sua vez, o Room for the River (Espaço para o Rio), outra pauta da missão, é um programa implementado de 2006 a 2015 que adapta as cidades às inundações, criando mais espaço para os rios através da realocação de diques, aprofundamento de canais e transformação de áreas ribeirinhas. Também está no roteiro a Barreira Maeslant, uma das maiores barreiras móveis contra inundações do mundo. A estrutura protege Rotterdam e arredores contra tempestades marítimas e é um exemplo de defesa adaptável.
Será possível observar ainda o Delta Works, conjunto de obras hidráulicas que inclui diques, barreiras móveis e comportas para proteção contra o mar e o Centro de Pesquisa da Universidade de Delft, que desenvolve soluções inovadoras para a gestão da água e infraestrutura resiliente.
Outra visita será na Wageningen University, líder global em pesquisa sobre gestão de recursos hídricos, abordando segurança hídrica, qualidade da água e estratégias sustentáveis. E na Deltares, instituição de pesquisa aplicada que estuda modelos hidrodinâmicos e promove soluções para a gestão de inundações, erosão costeira e qualidade da água.
Por fim, estão previstos encontros com integrantes da Arcadis, empresa de engenharia e consultoria especializada em infraestrutura resiliente, planejamento urbano e gestão de recursos hídricos e da EcoShape – Building with Nature, iniciativa que desenvolve soluções baseadas na natureza para fortalecer áreas costeiras e fluviais contra inundações.