O Estaleiro Rio Grande, da Ecovix, não quer parar na construção de quatro embarcações da classe Handy, que operam com a movimentação de derivados de petróleo e têm capacidades de 15 a 18 mil toneladas de porte bruto (TPB), encomendados pela Transpetro (subsidiária da Petrobras). O contrato para a realização dessas encomendas deverá ser assinado ainda neste mês e uma nova concorrência, para oito navios gaseiros, também deverá ser aberta. Essa é outra disputa que desperta o interesse do complexo gaúcho.
O acionista da holding Nova Participações (controladora da Ecovix), José Antunes Sobrinho, afirma que o estaleiro rio-grandino tem condições técnicas para concorrer na próxima licitação da Transpetro. “Estamos com esse contrato entrando (dos quatro navios), que é importante, mas vamos analisar os gaseiros, vamos considerar sim”, revela o empresário.
A assinatura do acordo da encomenda já conquistada deve ocorrer em Rio Grande, no dia 24 de fevereiro, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Inicialmente, a previsão era de que o evento ocorresse uma semana antes, contudo por readequação da agenda presidencial a solenidade foi remarcada. Na mesma data, deve ser confirmada a licitação dos oito gaseiros dos tipos pressurizados e semi-refrigerados, que terão capacidade variando de 7 mil toneladas a 14 mil toneladas de porte bruto.
Sobre a atual demanda, logo após o contrato ser firmado, Sobrinho antecipa que o pessoal de engenharia começará a ser mobilizado para detalhar o projeto. Ele estima que, antes do final do ano, já deverão ter pelo menos cerca de 1 mil pessoas trabalhando nas embarcações. Nessa iniciativa, a Ecovix contará com a parceria do Estaleiro Mac Laren, que fará alguns dos serviços na estrutura que possui em Niterói (RJ). O consórcio apresentou o preço final de US$ 69,5 milhões para fazer os navios.
O integrante da Nova Participações assinala que uma eventual parceria para a concorrência dos gaseiros, seja com o Estaleiro Mac Laren ou com outra empresa, é uma hipótese aberta, se for necessário um movimento nesse sentido. Além de estar envolvido com a construção dos navios da Transpetro, o Estaleiro Rio Grande é responsável pelo desmantelamento da plataforma de petróleo P-32, da Petrobras.
Essa estrutura chegou ao Estado em dezembro de 2023, após ser arrematada pela Gerdau para aproveitar a sucata metálica como matéria-prima para produção de aço. No entanto, depois de atracada no complexo naval da Metade Sul, foi constatada a presença de diesel marítimo e água oleosa dentro da plataforma que precisam ser retirados. A situação criou um impasse sobre quem arcaria com o custo dessa operação, interrompendo os trabalhos.
Sobrinho informa que Gerdau e Petrobras estão tratando da questão e o empresário calcula que antes do final do primeiro trimestre o assunto possa ser solucionado. Ele acrescenta que, assim que o óleo for retirado, o desmanche da plataforma pode ser concluído em cerca de seis meses.
O empresário enfatiza que o estaleiro tem capacidade para conduzir, paralelamente, o desmantelamento da P-32 e a construção dos navios da Transpetro. Uma demora na liberação da plataforma pode é atrapalhar alguns trabalhos de reparos em embarcações que o complexo pratica. Além dos serviços na P-32, na sequência o estaleiro atuará no desmonte da P-33.
Já o presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Naval Brasileira, deputado federal Alexandre Lindenmeyer (PT-RS), defende que é possível manter uma demanda contínua para a indústria naval nacional. Ele sustenta que é preciso que essa seja uma política de Estado e não de partido, dando segurança de continuidade ao setor.
Lindenmeyer lembra que os quatro navios handy levarão cerca de três anos e meio para serem finalizados em Rio Grande. O deputado considera que a região possui mão de obra qualificada para atuar na demanda das embarcações. Outra possível encomenda para os estaleiros brasileiros, aponta o parlamentar, é a montagem de módulos para plataformas de petróleo. “Acredito que vem mais coisa boa aí, mas só a assinatura do contrato (dos quatro navios) já representa muito”, conclui o presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Naval Brasileira.
Nova encomenda deve ser feita em junho
Futuramente, o presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Naval Brasileira, deputado federal Alexandre Lindenmeyer (PT-RS), adianta que a tendência é que novas licitações da Petrobras sejam abertas. Nesse contexto, a Transpetro já informou que, em junho de 2025, a companhia prevê a divulgação de outro processo para a aquisição de quatro embarcações de médio porte (MR1).
Sobre a vinda de Lula a Rio Grande, a prefeita do município, Darlene Pereira (PT), considera o ato um marco concreto da retomada do polo naval gaúcho. “É o pontapé inicial”, reforça a prefeita. Ela revela que também aproveitará a visita do presidente e da sua comitiva para tratar de outros temas como a questão da ligação a seco entre Rio Grande e São José do Norte (municípios separados pela Lagoa dos Patos), as obras do lote 4 (trecho da BR-392 que ainda aguarda por duplicação) e os pedágios que são cobrados na região.