Nos próximos três anos, o Estaleiro Rio Grande volta a movimentar o polo naval gaúcho, a partir da construção de quatro navios da classe Handy de 15 a 18 mil toneladas de porte bruto, em parceria com o estaleiro Mac Laren, de Niterói (RJ). A confirmação foi feita pela Transpetro (a maior subsidiária da Petrobras) nesta segunda-feira (23), após a empresa concluir, na última sexta-feira (20), a etapa de negociação comercial com o consórcio Ecovix/Mac Laren, que apresentou preço final de US$ 69,5 milhões por embarcação. A assinatura do contrato está prevista para o início de 2025.
Segundo o empresário e engenheiro civil José Antunes Sobrinho, acionista do grupo Ecovix, responsável pelo Estaleiro Rio Grande, a previsão é de que, em seguida, ocorram as contratações, para que, ainda no primeiro trimestre do ano que vem, seja possível iniciar a parte de engenharia. "A ideia é começar o mais rápido possível, pois o prazo para a conclusão é de três anos", informa. De acordo com o engenheiro, o cronograma do projeto dependerá de um ajuste contratual. Antunes adianta, no entanto, que haverá "uma pequena variação de tempo" entre a execução de cada navio. "Não vai ser sequencial; eles se sobrepõem, com diferença de cerca de seis meses entre as entregas. Mas esse assunto ainda deverá ser ajustado", pondera.
O acionista do grupo Ecovix afirma ainda que o estaleiro está pronto para iniciar os trabalhos. "Este é um marco para a Ecovix e para o Estaleiro Rio Grande, que é o mais equipado do Brasil", destaca o empresário. Segundo ele, esta é a encomenda mais importante que o local recebe depois de finalizar a construção de (cinco) cascos de plataformas para a Petrobras. "É uma vitória deste polo naval, que passou por um período de crise, ficando ocioso por sete anos. No entanto, o estaleiro ficou muito bem conservado nesse período e vai precisar de mínimas adaptações (pequenos ajustes de maquinários) para a construção dos navios", sinaliza.
Antunes adianta que as encomendas da Transpetro irão viabilizar a geração de pelo menos 1 mil empregos diretos. "A região tem mão de obra qualificada para fazer isso", avalia. De acordo com o engenheiro, o acordo prevê que a construção dos navios será feita em Rio Grande, enquanto o acabamento acontecerá em Niterói, no estaleiro Mac Laren.
De acordo com nota da Transpetro, a conclusão dessa fase do processo licitatório acontece seis meses após o lançamento da licitação e passou pelas análises técnicas e de governança do Sistema Petrobras. Também marca uma etapa relevante do início das primeiras contratações do Programa de Renovação e Ampliação da Frota do Sistema Petrobras (TP 25) e garante o aumento do transporte de derivados na costa brasileira. Segundo a empresa, os novos navios devem ampliar a capacidade da subsidiária de atendimento à Petrobras, permitindo a redução da sua exposição ao afretamento desse tipo de unidade, que têm baixa liquidez no mercado.
O presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, destaca ainda o impacto do TP 25 para a empresa. "Estamos muito satisfeitos com a conclusão dessa etapa. É um marco para a nossa gestão retomar a aquisição de navios no Brasil após dez anos sem contratar embarcações para ampliar a frota." De acordo com o gestor, com o TP 25, a Transpetro irá ampliar sua capacidade logística em pelo menos 25%. "Essa é mais uma das medidas que estamos adotando para retomar o caminho do crescimento da companhia", afirma Bacci. Em 2025, a empresa ainda deve lançar um novo edital para aquisição de oito navios gaseiros com capacidade variando de 7 mil toneladas a 14 mil toneladas de porte bruto.
Lançado pela Transpetro em julho deste ano, o Programa de Renovação e Ampliação da Frota prevê a aquisição de 25 navios de cabotagem e vai atender prioritariamente às demandas de transporte de produtos da Petrobras. Além dos Handy e dos gaseiros, a companhia vai adquirir embarcações de médio porte, estando 16 desses navios já previstos no Plano Estratégico da Petrobras.
"Esse programa da Transpetro é essencial para o Sistema Petrobras e um grande reforço para a nossa capacidade logística, garantindo o aumento do transporte de derivados na costa brasileira e reduzindo nossa exposição às oscilações dos custos de afretamento, principalmente desse tipo de unidade, que têm baixa liquidez no mercado", ressalta, por sua vez, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
"Esse programa da Transpetro é essencial para o Sistema Petrobras e um grande reforço para a nossa capacidade logística, garantindo o aumento do transporte de derivados na costa brasileira e reduzindo nossa exposição às oscilações dos custos de afretamento, principalmente desse tipo de unidade, que têm baixa liquidez no mercado", ressalta, por sua vez, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
De acordo com a Transpetro, os Handy vão contemplar soluções que garantem maior eficiência energética e menor emissão de gases que provocam o efeito estufa. Além de receber um pacote de equipamentos sustentáveis, as embarcações podem operar com bunker ou biocombustíveis. Como resultado, estima-se reduzir em 30% as emissões em relação aos atuais navios da frota, atendendo às determinações da Organização Marítima Mundial (IMO).Em junho de 2025, a companhia prevê a divulgação de outro processo licitatório para a aquisição de quatro embarcações de médio porte (MR1).
Retomada da indústria naval gera esperança para geração de empregos e renda
Também o deputado federal e líder da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Naval Brasileira, Alexandre Lindenmeyer (PT-RS), celebrou a notícia. "Esta retomada tem uma importância extraordinária, gerando emprego e renda para Rio Grande e região, onde há mão de obra muito qualificada e as pessoas estão precisando de emprego", sinaliza. Lindenmeyer ainda avalia que o estaleiro gaúcho "tem uma capacidade instalada muito considerável para introdução de 80 mil toneladas de aço ano, oficinas de excelência de ponta e o maior dique seco do Brasil, em termos de estrutura".
"A vocação do Estaleiro Rio Grande é a construção naval; com a construção destes quatro navios, temos a certeza de que outros contratos virão", emenda o deputado. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte (Stimmerg), Benito Gonçalves, observa que a notícia do acordo comercial é um "acalento" para a Metade Sul do País, que estava "esquecida" pelo setor. "Foi uma negociação 'suada', haja vista que houve um desconto grande, mas acreditamos que, a partir dela, possa ocorrer a abertura de novas possibilidades e uma nova visão para a Região Sul", avalia.
Gonçalves aposta, que, a medida que os trabalhos sejam executados nos próximos três anos, seja possível que a construção dos navios possibilite a geração de 1,5 mil empregos diretos. "Nesse momento, não temos outra coisa a fazer, a não ser comemorar e ficar na expectativas de que venham outros projetos grandes", pontua o sindicalista.
Em 2015, durante o auge do Polo Naval, o município de Rio Grande concentrava cerca de 7,2 mil dos 8,5 mil postos de emprego do segmento no Rio Grande do Sul. O encerramento das atividades do polo, entre 2017 e 2018, trouxe um impacto significativo para a economia local.
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