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Publicada em 19 de Dezembro de 2024 às 18:31

Pesquisas buscam amenizar impacto ambiental de usinas a carvão

Zeólita sintética pode ser produzida a partir de cinzas e aproveitada na agricultura

Zeólita sintética pode ser produzida a partir de cinzas e aproveitada na agricultura

Lucas Jorge/ABCS/Divulgação/JC
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Jefferson Klein, de Criciúma
Jefferson Klein, de Criciúma
A indústria carbonífera aposta na tecnologia para reduzir os reflexos da sua atividade no meio ambiente e com isso manter a operação das termelétricas brasileiras a carvão. Na Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina (SATC), em Criciúma, duas plantas-piloto atuam em estudos para desenvolver a captura e o armazenamento de CO2 e também a produção de zeólita sintética (material obtido da cinza gerada pela queima do carvão), que pode ser usada como fixador de nutrientes no solo para o setor agrícola.
As duas pesquisas somam investimentos de mais de R$ 24 milhões e contam com apoio da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e de empresas como a Eneva e a Diamante Geração de Energia. No começo do próximo ano, a perspectiva é que, com o avanço dos trabalhos, o percentual de absorção do CO2 do trabalho realizado na SATC cresça de 70% para 90%.
O diretor executivo da SATC e presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), Fernando Zancan, frisa que para reduzir as emissões da produção termelétrica a carvão, é preciso investir em tecnologia. “Descarbonizar não é acabar com o (combustível) fóssil, é acabar com as emissões”, enfatiza o dirigente.
O setor carbonífero vive um momento crítico quanto à continuidade das termelétricas a carvão, já que dois dos principais complexos desse segmento, Jorge Lacerda, em Santa Catarina, e Candiota 3, no Rio Grande do Sul, estão com seus contratos de energia prestes a serem encerrados. Para Zancan, fechar as térmicas de maneira abrupta não é uma medida que condiz com o conceito de transição energética justa.
No caso de Jorge Lacerda, há duas leis tratando da questão da prorrogação do contrato da usina, uma estadual (18.330/22) e uma federal (14.299/22), instituídas em janeiro de 2022, mas até agora não foi assinado o acordo que estende a venda de energia da planta. O representante da ABCS espera que o assunto seja resolvido mais rapidamente pelo Projeto de Lei (PL) 576, que foi recentemente aprovado no Senado e, apesar de tratar da geração de energia offshore (no mar), incluiu subsídios para as usinas a carvão da região Sul do País (incluído Jorge Lacerda e Candiota 3).
Mesmo com o otimismo de Zancan, há a perspectiva que o artigo que contempla o carvão seja vetado pela presidência da República. O dirigente afirma que se isso acontecer, a tendência é que o veto caia quando voltar ao Senado. No entanto, ele adverte que o tempo que levará essa eventual situação para ser resolvida será muito prejudicial para a cadeia carbonífera.
O integrante da ABCS assinala que, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o fim das atividades ligadas à extração de carvão no Brasil significaria a extinção de 36,2 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Ele acrescenta que as usinas alimentadas com carvão nacional representam uma potência de 1.445 MW, o que representa 0,8% da capacidade instalada de geração de energia elétrica no País. Segundo Zancan, a operação dessas termelétricas representa 0,3% das emissões brasileiras de CO2.
Somente o complexo de Jorge Lacerda, emprega 360 funcionários diretos e mais 400 terceirizados, de acordo com o presidente da Diamante Geração de Energia (empresa responsável pela usina), Pedro Akos Litsek. Ele recorda que, em 2025, a planta completará 60 anos de operação (de sua primeira máquina). Hoje, a termelétrica possui sete turbinas (ou seja, sete unidades) e uma capacidade instalada de 740 MW, suficiente para atender a cerca de 20% do consumo de eletricidade catarinense.
O contrato de fornecimento de carvão para alimentar a térmica é da ordem de 2,4 milhões de toneladas ao ano. Entre as futuras opções que são avaliadas para reduzir as emissões da usina estão a utilização de pequenos reatores modulares nucleares e a queima do carvão juntamente com biomassa (matéria orgânica).

Parque termelétrico está emitindo mais por energia gerada, aponta estudo do Iema

O parque termelétrico que injeta eletricidade no Sistema Interligado Nacional emitiu 4,8% a mais por gigawatt-hora (GWh) produzido em 2023, em comparação ao ano anterior, indica o “4º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas”, lançado nesta quinta-feira (19), pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). Foram emitidas 671 toneladas de gás carbônico por gigawatt-hora gerado (tCO2e/GWh). Em 2022, o número era de 641 tCO2e/GWh.
Conforme nota divulgada pela entidade, esse aumento aconteceu porque as usinas a carvão operaram por mais tempo, enquanto outras, mais eficientes, foram menos acionadas. "Devido aos maiores níveis de água de reservatórios para geração hidrelétrica e da ascensão de fontes renováveis, 2023 foi um ano de baixo acionamento de termelétricas. Mas, em períodos de estiagem, como ocorreu este ano de 2024, a geração dessa modalidade aumenta e, como consequência, as emissões são maiores também”, explica a coordenadora do estudo e pesquisadora do Iema, Raissa Gomes.
A geração inventariada de eletricidade fóssil injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN), que já apresentava queda entre 2021 e 2022, manteve essa tendência em 2023. Houve uma redução de 13% na produção, que passou de 31,1 TWh, em 2022, para 26,9 TWh, em 2023, representando uma diminuição absoluta de 4,1 TWh. Este declínio foi impulsionado, principalmente, por uma queda de 20% na operação das usinas a gás natural, enquanto a geração das usinas a carvão mineral registrou um aumento de 11%.
Ao todo, as 67 termelétricas analisadas geraram 17,9 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), 96% proveniente de quase metade delas. Do total das termelétricas analisadas, apenas dez emitiram 71% dos gases, sendo metade delas a carvão mineral e a outra, a gás.
As cinco termelétricas que mais geraram energia elétrica em 2023, respectivamente, foram: Mauá 3 (Manaus, AM), com 10% da participação total; Parnaíba 2 (Santo Antônio dos Lopes, MA), com 9%; Jorge Lacerda 4 (Capivari de Baixo, SC), com 9% da participação total; Termorio (Duque de Caxias, RJ), com 8% da participação total; Candiota 3 (Candiota, RS), com 7% da participação total.

Já as seis usinas mais emissoras de gases de efeito estufa (GEE) foram: Candiota 3 (Candiota, RS), com 13% de participação total; Jorge Lacerda 4 (Capivari de Baixo, RS), com 12%; Pampa Sul (Candiota, RS), 10%; Mauá 3 (Manaus, AM), 6%; Termorio (Duque de Caxias, SE), 6%; e Jorge Lacerda 3 (Capivari de Baixo, RS), também 6%.
A usina Candiota 3 está em primeiro lugar no ranking de emissões – respondendo por 13% do total em 2023 –, mas se encontra apenas como a quinta em termos de geração elétrica, sendo responsável por 7% da energia elétrica produzida. Parnaíba 2 (a gás natural), por exemplo, é a segunda térmica fóssil que mais produziu energia elétrica em 2023, mas é a sétima maior emissora.
Esses dados, segundo o Iema, apontam a ineficiência de usinas que empregam o carvão mineral como combustível – em 2023 essa categoria de usinas teve média de eficiência de apenas 33%. A Região Sul, sede de grandes usinas a carvão mineral, é a maior emissora com 45% das emissões inventariadas (oito milhões de toneladas de CO2e).

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