Depois de ter firmado em abril um memorando de entendimento com o governo do Estado para implantar uma fábrica de torres eólicas de concreto no Rio Grande do Sul, a empresa europeia Nordex espera confirmar no próximo ano o lugar em que instalará a unidade. O gerente de vendas da companhia, Robertison Brito, comenta que o cronograma está aberto, mas reforça que o trabalho está focado em definir a questão em 2025.
A “batida de martelo”, detalha o dirigente, acontecerá quando a empresa fechar o contrato de fornecimento de equipamentos para um parque eólico gaúcho. “A gente entende que 2025 vai ser um ano bem interessante para o mercado eólico no Rio Grande do Sul, porque o Nordeste está sofrendo com margem (de escoamento de energia) e nós temos aqui (no Sul) bons projetos”, assinala Brito.
Após fechar um acordo para atender à demanda por equipamentos eólicos, a escolha da cidade que sediará a fábrica de torres dependerá de fatores logísticos (proximidade com o parque que receberá os equipamentos), tributários e de uma área adequada para a implantação da infraestrutura necessária. As regiões atualmente avaliadas para receber esse investimento são os entornos de Uruguaiana, Bagé, Osório e Santa Vitória Palmar. O aporte no complexo é projetado entre R$ 30 milhões a R$ 50 milhões. Uma vez firmado o contrato de fornecimento das torres, a perspectiva é que em 18 meses comece a produção das estruturas.
Assim como as torres, a Nordex também fornece para as usinas componentes como as pás eólicas, o rotor, as naceles (cabine que abriga partes do aerogerador) e o drivetrain (que converte a energia cinética em elétrica). Esses equipamentos poderão ser trazidos de fora do Estado pela empresa.
Brito participou nesta quarta-feira (11) do “Encontro de Investidores do Setor de Energia Eólica no Rio Grande do Sul”. O evento foi promovido pelo Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e governo gaúcho, na sede da Fiergs, em Porto Alegre.
Brito participou nesta quarta-feira (11) do “Encontro de Investidores do Setor de Energia Eólica no Rio Grande do Sul”. O evento foi promovido pelo Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e governo gaúcho, na sede da Fiergs, em Porto Alegre.
A presidente do Sindienergia-RS, Daniela Cardeal, comenta que a iniciativa serviu para mostrar as oportunidades de investimentos no Estado. Um dos pontos positivos do Rio Grande do Sul para receber novos parques eólicos, indica a dirigente, é ter disponibilidade de conexão com o sistema interligado nacional para escoar a energia gerada.
Durante a reunião, também foi firmado protocolo de intenções entre governo gaúcho, Porto RS e o sindicato quanto a um projeto-piloto de transição energética sustentável. “Estamos sugerindo ações sustentáveis para os portos, começando pelo de Rio Grande”, explica Daniela. A ideia, entre outras medidas, é fazer medições de ventos e estudos ambientais para observar a possibilidade de instalação de parques eólicos em terra ou na água na região.
O presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, complementa que o porto quer desenvolver mais atividades sustentáveis. “Além da preparação para ser a plataforma para exportação da energia verde (que pode ocorrer com o hidrogênio verde), queremos ter uma operação fundamentada nesse conceito”, diz Klinger.
Também presente na Fiergs, o governador Eduardo Leite fez menção ao projeto de lei (PL) 576/2021, conhecido como o marco regulatório para a exploração de energia elétrica offshore (no mar), que na terça-feira (10) foi aprovado na Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado. Nesta quarta-feira, o texto estava para ser analisado pelo Plenário da Casa, mas até o fechamento dessa matéria não havia uma definição quanto a sua aprovação.
“Embora haja críticas a pontos que foram colocados, os famosos ‘jabutis’, no texto, o que nos interessa é que evolua a regulamentação do uso do espaço para a energia renovável”, salienta o governador. Ele recorda que o Rio Grande do Sul é o estado com maior número de projetos com licenciamentos ambientais de geração eólica offshore tramitando dentro do Ibama.
No total, são 27 empreendimentos gaúchos que se encontram sob análise do órgão ambiental e que somam uma capacidade instalada de 69.629 MW, o que representa mais de 17 vezes a demanda média de energia do Estado. A cada MW instalado em usinas eólicas offshore é calculado um investimento de cerca de R$ 15 milhões.
Leite acrescenta que novos investimentos em energia renovável são uma necessidade global e catástrofes climáticas, como a enfrentada recentemente pelo Rio Grande do Sul, aumentam a relevância da transição energética. Já para o presidente da Fiergs, Claudio Bier, a energia renovável, além de uma ação ligada à sustentabilidade, serve como um apoio para a reconstrução da economia local. "O Rio Grande do Sul continua avançando no crescimento promissor do setor da geração eólica", celebra o presidente da Fiergs.
Atlas hidroenergético gaúcho será apresentado no começo do próximo ano
Depois de realizar os mapas eólicos, solar e de biomassa (matéria-orgânica), o governo gaúcho está finalizando o seu atlas hidroenergético. Conforme a secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, o lançamento desse estudo deverá ocorrer nos primeiros meses de 2025.
“Esperamos com isso ter subsídio para que a gente possa revisitar a nossa matriz hídrica”, enfatiza a secretária. Hoje, a hidroeletricidade é responsável por cerca de 40% da capacidade de geração de energia do Rio Grande do Sul. O presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Renato Chagas, ressalta também que a ferramenta dará mais fundamentação para liberar ou não licenciamentos ambientais nessa área.
Já no campo eólico, em que o Estado possui um mapeamento estabelecido do seu potencial (mais de 100 mil MW no onshore - em terra -, com ventos acima de 7 metros por segundo a 100 metros de altura), o diretor do Sindienergia-RS Guilherme Sari cita como diferencial do Rio Grande do Sul a segurança jurídica para realizar investimentos.
O presidente da Frente Parlamentar PróEnergias Renováveis na Assembleia Legislativa, deputado Frederico Antunes (PP), acrescenta como atrativo a mão de obra qualificada. “A indústria de energia no Rio Grande do Sul é consolidada, porém com grande futuro”, prevê.
Por sua vez, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, enfatiza que o governo gaúcho tem trabalhado na simplificação, desburocratização e facilitação de negócios no Estado. Ele argumenta que a estruturação da Agência de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Invest RS) auxiliará nesse processo.
O presidente da Invest RS, Rafael Prikladnicki, destaca que nesta quarta-feira a agência completou uma semana de operação presencial. “Estamos, literalmente, em processo de estruturação”, diz. Prikladnicki adianta que uma prioridade da instituição será a transição energética.
Quanto às condições de acesso a recursos, o presidente do Brde, Ranolfo Vieira, informa que o banco liberou financiamentos na ordem de R$ 898,5 milhões para empreendimentos de geração e transmissão de energia limpa e renovável no ano passado. Contudo, ele admite que o Rio Grande do Sul, como outros estados da região Sul, enfrenta uma disputa desequilibrada com o Nordeste brasileiro, que pode contar com aportes do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE).