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Publicada em 19 de Novembro de 2024 às 17:53

Governo prepara pacote ferroviário com novas regulações e 'trecho esquecido' da Norte-Sul

Governo quer montar leilões que preveem um aporte público para viabilizar obras

Governo quer montar leilões que preveem um aporte público para viabilizar obras

PPI.Gov.Br/ Divulgação/jc
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Folhapress
Ministério dos Transportes vai anunciar um pacote ferroviário com medidas que preveem alterações regulatórias sobre o direito de passagem sobre os trilhos, a permissão que uma concessionária dá para que outras empresas possam trafegar em sua malha ferroviária, mediante compensação.
Ministério dos Transportes vai anunciar um pacote ferroviário com medidas que preveem alterações regulatórias sobre o direito de passagem sobre os trilhos, a permissão que uma concessionária dá para que outras empresas possam trafegar em sua malha ferroviária, mediante compensação.
O plano, que inclui a oferta de novos trechos e está em gestação desde o início de 2024, deve ser conhecido até o fim do ano.
Na esfera legal, conforme informações obtidas pela reportagem, o pacote incluirá normas que vão mexer diretamente com a questão do direito de passagem em ferrovias já existentes e concedidas a empresas. A regulação vai definir como atuará a figura do chamado agente de transporte ferroviário de cargas, seja em trechos atuais ou novos.
Esse tipo de agente atuará de forma independente, realizando o transporte ferroviário de cargas ou passageiros, desvinculado da exploração da infraestrutura ferroviária. É ele quem atuará no que tem sido chamado dentro do Ministério dos Transportes de "slot de trilhos".
Na prática, o objetivo dessa mudança é quebrar o monopólio operacional de ferrovias que hoje estão nas mãos de concessionárias que transportam apenas as suas próprias cargas, como minério de ferro, de modo a permitir o acesso de cargas de terceiros.
Trata-se de um tema sensível para as atuais concessionárias, que estão passando por um processo de renovação de suas concessões, por mais 30 anos, o que inclui compromissos de mais investimentos bilionários nos traçados que administram.
O pacote ferroviário, previsto para ser anunciado pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, também deve conter a retomada de obras que já fizeram parte dos planos federais uma década atrás, mas acabaram caindo no esquecimento do planejamento logístico.
É o caso do tramo norte da Ferrovia Norte-Sul. O plano é retomar os estudos, para licenciar e oferecer, em leilão, o trecho de 477 quilômetros de extensão entre Açailândia, no Maranhão, onde hoje acaba a ferrovia, até a cidade de Barcarena, no porto de Vila de Conde, litoral do Pará.
Na estrutura atual, a Norte-Sul tem o seu terminal de Açailândia ligado apenas ao Porto de São Luís, no Maranhão, por meio da Estrada de Ferro Carajás, controlada pela Vale. Ao abrir uma nova rota rumo Norte, o novo eixo permitiria não apenas a entrega de minério de ferro, como mais uma alternativa para o escoamento da produção de açúcar, milho, etanol e soja.
Esse trecho chegou a ser parte dos antigos PACs (Programas de Aceleração do Crescimento) lançados pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas nunca foram para frente. A promessa, agora, é recolocar a obra entre as prioridades.
Como informou a Folha de S.Paulo, em outubro, o governo federal também está próximo de dar início à retomada gradual de 11,1 mil quilômetros de trilhos abandonados da malha ferroviária nacional. Hoje, o equivalente a 36% das ferrovias do país virou sucata, e as atuais concessionárias terão de indenizar os cofres públicos para que possam renovar seus contratos com a União.
Dinheiro público
Para viabilizar as obras - seja de novos trechos da Norte-Sul, da Ferrovia do Centro-Oeste (Fico) em Mato Grosso, da Ferrovia de Integração Oeste-Leste na Bahia, ou da Ferrogrão entre Mato Grosso e Pará - o governo quer montar leilões que preveem um aporte público nas obras, em parceria com empresas que assumirem os novos trechos.
Segundo uma fonte que atua diretamente na elaboração dessas propostas, a ideia não é fazer uma "parceria público-privada" no sentido clássico desses modelos, porque o governo não será sócio da concessionária. O plano é incluir em cada leilão uma "fatia" de financiamento público para bancar o projeto. A companhia que oferecer a proposta e tenha a menor dependência desse recurso público vence o leilão. Com os cofres limitados, o governo vê, na repactuação dos atuais acordos de concessão, sua principal fonte para viabilizar os novos investimentos. É o que está sendo costurado neste momento, por exemplo, entre o Ministério dos Transportes e a Vale.
Nesta terça-feira (19), está prevista uma reunião para fazer os ajustes finais em uma proposta com a empresa. Renan Filho já sinalizou que a repactuação negociada com a empresa, envolvendo a renovação de suas concessões da Estrada de Ferro Carajás e da Ferrovia Vitória-Minas, envolve repasses superiores a R$ 10 bilhões, dinheiro previsto para ser reinjetado no setor ferroviário.
Paralelamente, será feito um pente-fino nas autorizações ferroviárias anunciadas durante a gestão do então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, hoje governador de São Paulo. Três anos depois de lançado o programa "Pró-Trilhos", a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) recebeu mais de cem requerimentos de empresas para construção de ferrovias por meio de autorizações, ou seja, sem a necessidade de o governo fazer leilão de trechos para atrair interessados. Falava-se em até R$ 258 bilhões em investimentos potenciais.
Na prática, porém, quase nada saiu do papel. O único projeto mais avançado nesta modalidade é o da Rumo, que constrói uma ferrovia no Mato Grosso. Muitos trechos requeridos, segundo informações atuais do Ministério dos Transportes, também se referem a duplicações de traçados, com mais de uma empresa solicitante. A pasta está definindo critérios junto à ANTT, para apontar quais os critérios efetivos para escolha, em cada caso.

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