Três cooperativas de energia do Rio Grande do Sul (Certaja, Certel e Coprel) vão participar de um projeto autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para analisar o comportamento do consumidor de baixa tensão (que abrange os clientes residenciais) com a perspectiva da ampliação do mercado livre de energia. Esse ambiente de contratação prevê que os consumidores possam escolher a origem da geração que será adquirida para atender à sua demanda.
Atualmente, essa opção no Brasil é limitada a grandes consumidores (como indústrias, shopping centers, entre outros). No entanto, a expectativa é que nos próximos anos essa situação seja estendida a todos os consumidores, inclusive aos residenciais. Assim, em vez de aceitar o “pacote fechado” oferecido pela sua concessionária, em que na conta de luz já está embutido o custo da geração, esse consumidor poderá adquirir separadamente a energia, muitas vezes em condições mais competitivas e de fontes renováveis, e pagando à distribuidora apenas o serviço de “fio”, ou seja, de entrega dessa energia.
A ação que será conduzida nas três cooperativas gaúchas, além da catarinense Cerbranorte, é considerada como um Sandbox Tarifário (projetos para experimentação de novas modalidades tarifárias ou formas de faturamento). O projeto com a Certaja (que tem sede em Taquari), a Certel (Teutônia) e a Coprel (Ibirubá) vai começar a etapa de experimentação com os consumidores a partir deste mês de novembro e a previsão de conclusão é em dezembro de 2025, com a participação de 3,15 mil unidades consumidoras.
A adesão será mediante autorização dos consumidores para participar da iniciativa. Serão ofertadas modalidades tarifárias diferentes para cada grupo de controle. De acordo com a Aneel, o objetivo é analisar a reação dos usuários na livre contratação, além da sensibilidade pela fonte de energia (eles poderão escolher se querem de origem eólica, solar etc), preço, escolha da comercializadora (para fazer a migração de ambientes de contratação saindo do cativo e indo para o livre), entre outros.
O facilitador de Energia da Coprel, Herton Azzolin, informa que na cooperativa ibirubense, que atende a 72 municípios e possui mais de 55 mil associados, serão cerca de 1,5 mil cooperantes envolvidos na pesquisa. “A meta é medir o retorno desses consumidores para entender o nível de engajamento deles, como será a resposta deles frente a um novo assunto e como vamos ter que se comunicar com esse consumidor para ele entender os componentes de uma fatura de energia, por exemplo”, comenta.
Conforme o integrante da Coprel, o estudo servirá para a cooperativa ir se adiantando para se adaptar ao novo cenário que se aproxima. “A ideia é testar e ir se preparando para estar com uma modelagem adequada”, ressalta. Azzolin estima que essa abertura total do mercado livre possa acontecer por volta de 2027 e 2028 e deverá ocorrer uma curva de aprendizado para a baixa tensão. Ele lembra ainda que a migração será opcional e não obrigatória.
Para Azzolin, a ação que será desenvolvida agora nas cooperativas poderá servir de modelo para ser empregado em outras partes do Brasil como subsídio de dados. O projeto, que terá um custo de aproximadamente R$ 520 mil, será financiado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), com contrapartida das permissionárias por meio da Confederação Nacional das Cooperativas de Infraestrutura (Infracoop).