O aumento do prêmio de risco embutido nos diversos ativos domésticos parece ser incompatível com a performance da economia. Afinal de contas, a inflação está relativamente bem-comportada, o crescimento, pujante, e há uma tendência de desaceleração dos gastos neste final de ano. Trata-se de um quadro que parece incompatível com dólar perto de R$ 5,80 e taxa de juros futura indicando Selic perto de 13,5% para o fim do ciclo de aperto monetário.
É difícil afirmar que a desconfiança dos investidores quanto à sustentabilidade do atual cenário seja exagerada. Afinal, toda alocação financeira é feita esperando um retorno financeiro positivo. Se os preços estão refletindo um pessimismo maior, é simplesmente o resultado do equilíbrio entre compradores e vendedores. Dito isso, há uma série de fatores que justificam o aumento dos prêmios de risco.
No front doméstico, o governo ainda não convenceu o mercado de que conseguirá diminuir o ritmo de crescimento da dívida sem desindexar os gastos sociais e previdenciários do salário mínimo e sem mudar os mínimos constitucionais para educação e saúde. Ao mesmo tempo, o uso cada vez mais corriqueiro de instrumentos fora do Orçamento para estimular o crédito alimenta as expectativas de que, quando a atividade econômica finalmente desacelerar, a expansão parafiscal virá com força.
Tudo indica que a equipe econômica percebeu que chegou a hora de entregar medidas significativas para recuperar a confiança. Porém, o desafio é grande. Primeiro, será necessária a chancela do presidente, que naturalmente se preocupa com sua popularidade. Além disso, a missão de cortar gastos após uma agenda de aumento das impostos parece exigir demais de um Congresso que está a dois anos do final de seu mandato.
O mercado espera mudanças estruturais em despesas como BPC (Benefício de Prestação Continuada), abono salarial e seguro-desemprego, capazes de sustentar o arcabouço nos anos à frente.
São medidas impopulares, mas não há meio-termo quando o problema é uma crise de confiança. Necessitamos de um choque de credibilidade para que haja uma mudança nas expectativas sobre a estabilização da dívida. Até agora, a equipe econômica comprou tempo com aumento de impostos, contingenciamentos, pente-fino e deslocamento de receitas e despesas ao longo do ano.
Se a questão fiscal não for endereçada com urgência, o Banco Central enfrentará um teste de credibilidade ainda neste ano. Sem âncora fiscal, o câmbio tende a ficar mais depreciado, as expectativas de inflação, mais desancoradas, e o mercado vai precificar uma aceleração no ritmo de alta de juros e uma Selic terminal ainda maior.
No front externo, há incertezas quanto ao rumo da política econômica nos EUA, riscos geopolíticos e dúvidas sobre a capacidade de a economia chinesa conseguir escapar do cenário de japonização (baixo crescimento com deflação).
A timidez, neste momento, traz o risco de uma nova rodada de deterioração dos ativos, certamente incompatível com a continuidade do atual crescimento e inflação controlada.