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Publicada em 29 de Outubro de 2024 às 17:12

Leite não considera sensato desligamento imediato da usina Candiota 3

Térmica tem contrato de venda de energia encerrando em dezembro

Térmica tem contrato de venda de energia encerrando em dezembro

ARQUIVO ELETROBRAS CGTEE/DIVULGAÇÃO/JC
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Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Com o fim do prazo de validade do acordo de comercialização de energia da termelétrica a carvão Candiota 3 se aproximando, a data estipulada é 31 de dezembro, há a perspectiva que a usina gaúcha situada no município de mesmo nome deixe de operar em breve. No entanto, para o governador Eduardo Leite o desligamento do empreendimento, de forma abrupta, “parece não ser razoável”. Ele defende que é necessário conduzir uma transição que, conforme o governador, não é simplesmente girar uma chave, mas um processo que não pode ser feito de uma hora para a outra.
Com o fim do prazo de validade do acordo de comercialização de energia da termelétrica a carvão Candiota 3 se aproximando, a data estipulada é 31 de dezembro, há a perspectiva que a usina gaúcha situada no município de mesmo nome deixe de operar em breve. No entanto, para o governador Eduardo Leite o desligamento do empreendimento, de forma abrupta, “parece não ser razoável”. Ele defende que é necessário conduzir uma transição que, conforme o governador, não é simplesmente girar uma chave, mas um processo que não pode ser feito de uma hora para a outra.
Leite ressalta que é importante encaminhar para a comunidade local uma solução justa. Ele complementa que historicamente, por gerações, a região de Candiota tem toda a sua vocação econômica, e até componentes culturais e sociais, relacionada com a cadeia carbonífera. O governador reitera que se trata de uma ação complexa, porém não se pode deixar uma população inteira desassistida economicamente.
Segundo Leite, é preciso orientar o desenvolvimento econômico para novas frentes, a partir de energias renováveis e outras oportunidades econômicas. “O que nós entendemos é que essa exploração do carvão terá que continuar existindo, mas sendo encaminhada uma alternativa para aquela comunidade para que a gente possa cumprir os compromissos (assumidos pelo Rio Grande do Sul) que temos, até 2030, de redução pela metade das emissões de efeito estufa e de mitigação completa até 2050”, diz o governador.
Dos 2.533 trabalhadores formais registrados na cidade de Candiota em 2019, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 445 atuavam na geração de energia elétrica (17,6% do total), 257 na extração do carvão (10,1%) e 30 no beneficiamento do mineral (1,2%). Os valores médios pagos para essas funções eram na época do levantamento, respectivamente, R$ 4.414,43, R$ 4.683,92 e R$ 6.823,34 – já a média salarial do conjunto de atividades do município foi de R$ 3.200,29. Além desses, há os postos indiretos desencadeados pela atividade carbonífera.
O presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Heverton Lacerda, destaca que tem plena consciência de que um desligamento abrupto da térmica pode causar problemas sociais para a região, “em especial para as famílias de trabalhadores que estão atreladas ao setor de produção poluente de energia”. O dirigente sustenta que elas não têm culpa e não devem absorver as consequências negativas de uma mudança necessária e inevitável.
No entanto, o representante da Agapan questiona o que o governo Eduardo Leite está fazendo, já em segunda gestão, para “proporcionar a mudança necessária e urgente sem onerar as famílias gaúchas atualmente dependentes daquela atividade poluidora”. Lacerda enfatiza que o cenário de crise climática já é anunciado há décadas. Na segunda-feira (28), o governo gaúcho assinou o acerto para a construção do Plano de Transição Energética Justa com o consórcio WayCarbon e Centro Brasil no Clima, estudo que levará 12 meses para ser finalizado.

Apesar da preocupação das lideranças locais com o desdobramento do futuro de Candiota 3, o destino da termelétrica, provavelmente, passará por decisão que virá além da divisa do Rio Grande do Sul. A lei 14.299/2022, publicada há cerca de dois anos no Diário Oficial da União, foi o mecanismo que garantiu a comercialização da energia gerada pelo complexo termelétrico a carvão Jorge Lacerda, situado no município catarinense de Capivari de Baixo, até 2040. No entanto, a usina gaúcha ainda não conta com uma ferramenta como essa.
O presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), Fernando Zancan, espera que o Projeto de Lei (PL) 576/2021 possa confirmar a continuidade da operação de Candiota 3, pelo menos até 2050. O texto, que tramita no Senado, tem como teor principal a geração de energia a partir de fontes de instalação offshore (no mar), como a eólica, contudo o artigo 23 do documento estabelece a prorrogação até 2050 dos contratos de térmicas a carvão que terminam até 2028.
O integrante da ABCS tem confiança que a nova legislação irá contemplar a prorrogação do funcionamento de Candiota 3. “Eu não tenho dúvidas que vai passar”, afirma Zancan. A usina da Metade Sul tem capacidade instalada para gerar 350 MW (um pouco menos do que 10% da demanda média de energia elétrica do Rio Grande do Sul) e apresenta um consumo aproximado de carvão na ordem de 2 milhões de toneladas ao ano.

Termelétrica Pampa Sul pretende desenvolver pesquisa para geração com biomassa e carvão

Devido à necessidade de se adaptar a um mundo que precisa reduzir suas emissões de gases de efeito estufa para atenuar os reflexos das mudanças climáticas, estão sendo buscadas opções para novos usos do carvão. Uma dessas alternativas poderá ser avaliada no município de Candiota, na termelétrica Pampa Sul, e se trata da queima do mineral misturado com biomassa (matéria orgânica) para a geração de energia.
O presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), Fernando Zancan, detalha que a matéria-prima que deverá ser aproveitada nesse procedimento é a madeira. Ele explica que o processo tem um impacto menor, pois no momento do crescimento das árvores que fornecerão a madeira há a absorção de gás carbônico.
O dirigente espera que o projeto do uso de carvão com biomassa e captura de CO2 seja aprovado em dezembro, dentro das iniciativas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ele informa que o projeto deve levar dois anos para ser desenvolvido e tem um custo estimado em aproximadamente R$ 6 milhões. Assim como a própria Pampa Sul, a iniciativa conta com a participação da Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina (SATC) e do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
Outra possibilidade de mudança na matriz energética que o Rio Grande do Sul vem trabalhando é a perspectiva de produção de hidrogênio verde através de fontes renováveis. Nesta segunda-feira (28), a Mingyang do Brasil, que tem matriz chinesa, assinou com o governo do Estado memorando de entendimento (MoU) para desenvolver ações nessa área.
O gerente de desenvolvimento de negócios da empresa, Daniel Lamassa, reforça que a companhia vem avaliando algumas possibilidades de investimentos no Rio Grande do Sul como, por exemplo, a instalação de uma fábrica de eletrolisadores (a eletrólise separa o hidrogênio do oxigênio, através da eletricidade). “A gente sabe do potencial do Estado, principalmente, por conta da Yara que é uma consumidora gigantesca de amônia (que pode ser obtida a partir do processo de hidrogênio verde)”, frisa o dirigente.
O memorando da Mingyang do Brasil foi firmado no mesmo dia em que o governo gaúcho celebrou o contrato de elaboração do Plano de Transição Energética Justa com o consórcio WayCarbon e o Centro Brasil no Clima. A gerente de riscos climáticos e adaptação da WayCarbon, Melina Amoni, adianta que serão 14 “produtos” entregues, começando por um planejamento de trabalho. Também serão verificadas outras iniciativas de transição energética que estão sendo desenvolvidas no mundo e feitos diagnósticos para apontar os agentes interessados nesse tema.
“É um plano que tem que ser bastante participativo, então a gente vai escutar a sociedade e os setores privado e público, para levantar informações que favoreçam a transição para uma economia de baixo carbono, mas especialmente pensando em não impactar a questão social”, salienta Melina. Outro ponto que será abordado é qual será o investimento necessário para que a transição seja econômica e socialmente viável para, posteriormente, indicar as medidas que devem ser implementadas para reduzir as emissões.

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