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Publicada em 24 de Outubro de 2024 às 17:23

'RS tem enormes oportunidades no agro e nas energias limpas'

Astor Schmitt aponta que 'sequestro de carbono valerá mais do que petróleo'

Astor Schmitt aponta que 'sequestro de carbono valerá mais do que petróleo'

TÂNIA MEINERZ/JC
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Caren Mello
Caren Mello
O Rio Grande do Sul no cenário global e na história e os desafios para que o estado volte aos patamares de desenvolvimento de cinco décadas foi o tema do empresário Astor Milton Schmitt, durante reunião-almoço da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha no RS (AHK Porto Alegre). “O Rio Grande do Sul é um dos estados que mais investe em tecnologia e inovação, que são alavancas para o desenvolvimento”, destacou, em palestra para empresários gaúchos.
O Rio Grande do Sul no cenário global e na história e os desafios para que o estado volte aos patamares de desenvolvimento de cinco décadas foi o tema do empresário Astor Milton Schmitt, durante reunião-almoço da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha no RS (AHK Porto Alegre). “O Rio Grande do Sul é um dos estados que mais investe em tecnologia e inovação, que são alavancas para o desenvolvimento”, destacou, em palestra para empresários gaúchos.
Schmitt vem atuando em associações, mercado de capitais e governança corporativa em grandes empresas, como diretor corporativo e conselheiro na Randoncorp, além da Marcopolo. Durante o evento, o presidente de honra da AHK, Everton Oppermann destacou a expertise do convidado na Serra gaúcha, tendo passado por diferentes instituições na região de Caxias do Sul. “Nós o desafiamos a falar sobre um tema muito caro para a AHK, Desafios e Reconstrução do RS”, destacou. Ao Jornal do Comércio, o empresário avaliou o panorama e quais as possibilidades de reposicionarmos no cenário nacional

Jornal do Comércio – O senhor é um ativista pelo desenvolvimento da Serra. Como a região recebeu as notícias de inícios das obras do Porto Meridional, em Arroio do Sal, e do aeroporto de Vila Oliva, em Caxias?
Astor Schmitt – Evidentemente, de forma muito positiva. São inciativas que geram muita expectativa na nossa comunidade. É uma expectativa regional. No Rio Grande do Sul, a indústria de transformação está 70% localizada em um raio de menos de 200 quilômetros, na Região Metropolitano, Serra, Vales dos Sinos e Taquari. O porto e o aeroporto são extremamente importantes para nós.
JC – Os investimentos nos aeroportos de Torres e Canela também impactarão?
Schmitt - Sem dúvida, eles contribuem e contribuirão. Mas, dada a expressão econômica da da Serra, o potencial e a dimensão de Vila oliva é diferenciada. Nossa expectativa é de que seja um equipamento que absorva passageiros, cargas e tráfego internacional, como uma alternativa ampla ao Salgado Filho que nos deixou a amarga lição do isolamento com a tragédia da enchente. Nós, entusiasticamente, defendemos Vila Oliva, mas não desconhecemos a importância estratégica para a região das Hortênsias, mesmo que seja uma operação ainda menor, e para o Litoral Norte, que carece desse tipo de equipamento, principalmente se considerarmos o turismo.
JC – Como o senhor avalia o momento do Rio Grande do Sul?
Schmitt - Qual era a cara do Estado nos anos 70 ou 80, e como estamos hoje? Fomos o celeiro do Brasil, a indústria do charque alimentava o país, tivemos uma corrente de imigração muito bem-sucedida. Tínhamos uma infraestrutura diferenciada, com uma das melhores redes de rodovias do país e uma rede ferroviária altamente capilarizada, com 8 mil quilômetros. Saíram daqui ministros e presidentes. O que restou? Hoje o Estado tem uma receita consolidada de R$ 45 bi, uma dívida de R$ 100 bi e R$ 30 bi em precatórios. Temos 21% de idosos, perante uma média nacional de 16%. Temos um alto grau de evasão de capital humano. Entre os anos de 2000 a 2022, perdemos 700 mil trabalhadores, enquanto que Santa Catarina recebeu 1 milhão. É humilhante. O RS tem os custos de logística mais elevados do país pela nossa falta de infraestrutura, carências de estradas, ferrovias, portos. Santa Catarina tem 440 quilômetros de costa e tem 6 portos e um em construção, nós apenas um em 600 quilômetros.
JC – Quais os desafios para o Estado se desenvolver?
Schmitt – A indústria é o grande multiplicador de riqueza. A cada real investido, há um retorno de até 2,70. Temos grandes oportunidades que o cenário mundial nos propõe, principalmente em função das mudanças climáticas. Temos imensas oportunidades no agro, em um mundo que vive o problema da segurança alimentar. Temos fontes inesgotáveis na área de energias limpas e renováveis. O sequestro de carbono será, no futuro, muito mais bem pago que o petróleo. A despeito de todos os seus problemas, o Rio Grande do Sul, certamente puxado pela iniciativa privada, é um estado que investe muito em inovação e pesquisa. Participamos com 6,5% no PIB brasileiro e o RS consome algo como 23,5% dos recursos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministério da Ciência e Tecnologia). Isso significa que apostamos em uma área que gera desenvolvimento. São grandes oportunidades para as quais temos que abrir os olhos.
JC – Há cerca de um ano, o senhor disse temer que Caxias se transformasse em uma nova Detroit. Esse perigo está afastado?
Schmitt - No momento, Caxias vai bem, muito bem. Até setembro deste ano cresceu 7,5%, duas vezes mais que o Brasil. Na geração de emprego, no pós pandemia, gerou mais de 25 mil empregos formais. Mas, se lançarmos um olhar para a área estratégica e estrutural, percebemos que as grandes empresas caxienses têm investido em outros estados e em outros países. É geração de riqueza que muda de endereço. Temos dificuldade de atrair investimentos relevantes, como foi o caso de Guaíba, com a CMPC, e Gravataí, com a GM. Santa Catarina atrai e consegue processos de desenvolvimento bem mais acelerados porque tem estrutura. O imenso e inaceitável custo logístico afasta investimentos. São preocupações de longo prazo que devemos ter. Quando usei a referência a Detroit, quis dizer que aquilo era o centro da cadeia automotiva mundial, nos anos 80, mas sofreu com a concorrência japonesa e a não renovação de investimentos. Uma cidade que tinha 2,5 milhões de moradores está com 600 mil. É, provavelmente, o maior cemitério de galpões industriais no mundo. Por isso temos a obrigação de lançar um olhar para mais adiante porque o desmonte de uma comunidade econômica importante não ocorre em curto prazo. Pode levar de uma geração ou mais.

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