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Publicada em 17 de Outubro de 2024 às 11:59

Brasil pode perder liderança em exportações de tabaco, prevê executivo de marca internacional

Tommaso Di Giovanni, vice-presidente internacional de Comunicação da Philip Morris Internacional

Tommaso Di Giovanni, vice-presidente internacional de Comunicação da Philip Morris Internacional

PMI/Divulgação/JC
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Mauro Belo Schneider
Mauro Belo Schneider Editor-executivo
Enquanto o mercado de cigarros passa por transformações pelo mundo, com a inclusão de novos produtos, o Brasil mantém uma regulamentação que permite apenas a venda do formato tradicional. O Japão, por exemplo, já completou 10 anos da liberação do tabaco aquecido, que utiliza um dispositivo para acendimento sem combustão.A Philip Morris, que fabrica dispositivos eletrônicos e tem planta na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, lidera um movimento para que mais países avancem na pauta. O objetivo, segundo executivos da empresa, é que uma regulamentação governamental diminua o contrabando e coloque no comércio opções mais seguras.Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, realizada durante o evento Technovation, na Suíça, Tommaso Di Giovanni, vice-presidente internacional de Comunicação da Philip Morris Internacional, avalia que o Brasil pode perder investimentos e o posto de maior exportador mundial se não alterar a legislação restritiva.O Brasil é líder mundial em exportações de tabaco há 30 anos, seguido por Índia e China. Em 2023, o País exportou 512 mil toneladas de tabaco para 107 países, gerando divisas de US$ 2,73 bilhões. Além disso, é o segundo em produção mundial, ficando apenas atrás da China.Jornal do Comércio – Qual é o impacto para o Brasil ao não seguir as mudanças defendidas pela industria do tabaco?
Enquanto o mercado de cigarros passa por transformações pelo mundo, com a inclusão de novos produtos, o Brasil mantém uma regulamentação que permite apenas a venda do formato tradicional. O Japão, por exemplo, já completou 10 anos da liberação do tabaco aquecido, que utiliza um dispositivo para acendimento sem combustão.

A Philip Morris, que fabrica dispositivos eletrônicos e tem planta na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, lidera um movimento para que mais países avancem na pauta. O objetivo, segundo executivos da empresa, é que uma regulamentação governamental diminua o contrabando e coloque no comércio opções mais seguras.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, realizada durante o evento Technovation, na Suíça, Tommaso Di Giovanni, vice-presidente internacional de Comunicação da Philip Morris Internacional, avalia que o Brasil pode perder investimentos e o posto de maior exportador mundial se não alterar a legislação restritiva.

O Brasil é líder mundial em exportações de tabaco há 30 anos, seguido por Índia e China. Em 2023, o País exportou 512 mil toneladas de tabaco para 107 países, gerando divisas de US$ 2,73 bilhões. Além disso, é o segundo em produção mundial, ficando apenas atrás da China.

Jornal do Comércio – Qual é o impacto para o Brasil ao não seguir as mudanças defendidas pela industria do tabaco?
Tommaso Di Giovanni - Em termos gerais, o Brasil está perdendo de ponta a ponta, não só na saúde, na redução de danos, mas economicamente. Isso diminui o interesse pelo mercado brasileiro, em investimentos que poderiam ser feitos. Claro que quando a gente decide sobre investimentos, o quadro regulatório, a situação do mercado é um fator que a gente considera. Então, claramente, para nós, o Brasil está perdendo duas coisas: importância e possibilidade de continuar sendo líder da indústria. O Brasil sempre foi referência no cultivo do tabaco. Se o Brasil não seguir essa evolução, mas ficar com essa ideia proibitiva, é óbvio que vai perder a possibilidade de manter essa liderança no mercado. Isso é uma pena e deveria ser quantificado de um ponto de vista econômico.

JC - Como estão as conversas para regulamentar os dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil (DEFs), tema em discussão no Congresso Nacional?
Giovanni – A gente sempre tenta conversar com os governos, com as agências de regulamentação do setor, como a Anvisa, porque a gente acha que a conversa é importante. Nós temos um conhecimento, uma experiência, nessa área, e é importante que isso seja ouvido pelos gestores públicos. A gente até participou de uma consulta pública da Anvisa, então claramente teve algum tipo de conversa. Acho que ainda está meio fechado nesse sentido no Brasil.

JC - Como é o mercado de consumidores dos produtos sem fumaça no Brasil?
Giovanni - É incrível: tem 4 milhões de usuários de produtos sem fumaça. A maioria é cigarro eletrônico, só que esse produto é ilícito, contrabandeado no Brasil. Isso cria vários problemas. O primeiro problema é para o consumidor, porque ele não sabe, não conhece a qualidade do produto. O segundo problema é para o governo, porque perde a arrecadação.

JC – Qual seria o tamanho da arrecadação com a regulamentação dos dispositivos eletrônicos no País
Giovanni – Setenta por cento do que seria o orçamento do Minha Casa Minha Vida. As empresas também perdem volumes por causa do comércio ilícito. Outro problema é que o consumo de cigarro baixou até dois ou três anos atrás e depois parou. Então, você tem um crescimento no comércio ilícito desse produto sem fumaça, e as vendas de cigarro lícitas continuam mais ou menos iguais. Na totalidade, as pessoas estão consumindo mais nicotina, o que não faz muito sentido de um ponto de vista da saúde pública. Está virando urgente o Brasil mudar as leis e liberar esses produtos com cuidado, claro, porque algumas preocupações são sérias, tipo a preocupação sobre menores. Quem não fuma, não deveria começar. Isso está tudo certo.

JC – O que emperra essa aprovação?
Giovanni – Acho que tem uma ideologia envolvida, que é uma ideologia proibitista. A ideia que a gente pode se livrar totalmente da nicotina e do tabaco não existe no mundo real. As pessoas vão continuar consumindo, o que fará surgir produtos ilegais. Isso que a história nos ensina. A proibição não funciona com o ser humano, que é pragmático.

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