A Klooks, fundada em Porto Alegre em 2012, tornou-se referência internacional ao fornecer a maior base de dados de demonstrações financeiras de empresas de capital fechado.
Após enfrentar obstáculos na automatização da coleta de informações e redefinir seu modelo de negócio no início da sua jornada, a empresa fechou contratos com líderes globais como Standard & Poor's, Moody's, Bloomberg e London Stock Exchange Group (LSEG). Em entrevista ao podcast Better Future, o CEO Alexandre Abu-Jamra, compartilha a jornada da empresa até a consolidação no mercado internacional.
Mercado Digital - A Klooks é uma grande referência em dados financeiros e hoje atende clientes globais. Como foi chegar até aqui?
Abu-Jamra - Começamos a operação em 2012. Eu trabalhava em um escritório de consultoria, de fusões e aquisições, e tinha uma equipe de estagiários que ficava no Diário Oficial, buscando balanços e demonstrações financeiras das empresas. Quando eu saí de lá, comecei a dar consultoria, e me juntei com outros sócios para resolver isso de forma mais automatizada. A gente desenvolveu os robôs que navegam na web para encontrar demonstrações financeiras.
Hoje, são robôs mais sofisticados, a gente chama de robôs perdigueiros. Vai lá o perdigueiro, fareja o balanço de uma empresa, joga para dentro da nossa base e aí a gente coloca em uma esteira automatizada de organização da informação, com revisão humana no final. Em linhas gerais, foi assim que surgiu a Klooks. A gente formou a maior base de dados de demonstrações financeiras de capital fechado, que revendemos para a maior parte das plataformas internacionais de dados como é o caso da plataforma da LSEG, dona da Bolsa de Londres, Frankfurt, Toronto e outras. Além deles, fornecemos para S&P, Moody's, Bloomberg.
Mercado Digital - A tecnologia de inteligência de dados não era a que temos hoje. Foi muito complexo chegar a esse modelo?
Abu-Jamra - Deu tudo errado, na verdade. A gente começou com a ideia de fazer os melhores robôs do mundo, juntar uma super base de dados e fazer dinheiro da noite para o dia. E aí que, primeiro, pensamos em automatizar tudo, mas não conseguimos nos primeiros anos extrair informação dos PDFs e até hoje isso é uma fronteira tecnológica; ninguém conseguiu fazer isso de forma 100% automática, com qualidade. E aí que a gente não conseguiu vender nem um parafuso. Formamos a base de dados e investimos uma grana federal e tempo. Batemos 500 portas e vendemos para quatro clientes. Ao nos darmos conta que não iríamos vender um parafuso por um bom tempo, decidimos repensar o modelo. Desistimos de vender a nossa plataforma para escritórios de consultoria e resolvemos vender nossos dados no atacado. Foi quando tudo começou a se estruturar como um negócio mesmo. Acabou dando certo. Era o caminho com menos riscos, uma venda mais direta. O primeiro grande cliente que conquistamos foi Standard and Poor's (S&P).
Mercado Digital - O que é possível antever para as empresas a partir desses dados que vocês coletam?
Abu-Jamra - Nossa base de dados é totalmente financeira. Eu vou conseguir dizer: aquela empresa tem R$ 10 milhões em imóveis, tem em estoque R$ 5 milhões, no caixa tem R$ 40 milhões e acabou de lucrar R$ 5 milhões no ano passado e distribuiu R$ 2 milhões em dividendos. Essas informações acabam servindo para diferentes casos de usos, tanto para prospecção por parte das empresas de consultoria ou de investimentos, o mercado financeiro, de forma geral. Por exemplo, um agente autônomo de investimentos e quer encontrar empresas que tenham bastante dinheiro em caixa para conseguir vender serviço. Na nossa plataforma, ele consegue saber quem está com caixa e quem não está, quanto está investindo e onde está fazendo esses investimentos. Na empresa de consultoria, podem chegar no cliente e dizer, cara estou vendo que a margem Ebitda está abaixo da média do mercado, porque eu vi na Klooks que a margem do setor é de 20% e a sua é sua está 10%. Tem esse âmbito de prospecção, que é bem forte.
Mercado Digital - Uma das negociações mais recentes de vocês foi com a Bolsa de Londres? Quanto tempo foi de conversa até o sim final?
Abu-Jamra - Para fechar com a Bolsa de Londres, visitei eles pela primeira vez em 2019 e fechei o contrato agora. Chegar neles e obter o interesse é relativamente fácil quanto você tem uma solução que eles realmente precisam. É juntar a fome com a vontade de comer. Eu contatei a Bolsa de Londres via LinkedIn e fui atrás. Fiz contato, marcamos e ficamos nos falando por 5 anos até fechar. Mas o nosso primeiro cliente foi mais surpreendente. Em 2014, a gente fechou a S&P e estávamos naquela fase em que nada dava certo. Passamos um ano e meio, um pouco mais, batendo cabeça, até que resolvemos ligar para esses caras. Quando eu trabalhava na consultoria, usava a Capital IQ Pro, que era a ferramenta da S&P. Só que ela não tinha informações de empresas brasileiras. Aí, saí da consultoria já com essa visão "será que, se algum dia, eu ligar para a Capital IQ os caras vão querer comprar meus dados?". É aquela coisa meio sonho. Mas um dia eu peguei o telefone e liguei, pedi para falar com um diretor, que localizei no LinkedIn, expliquei que fornecia dados de empresas de capital fechado, que vi que eles não tinham informações de empresas brasileiras e que eu tinha. Ele tinha muito interesse, só que era no momento estavam voltados para dados da Ásia. Surpreendentemente, seis meses depois, recebo ligação desse diretor dizendo que estavam no momento de fazer o negócio.