Com a catástrofe climática que assolou o Rio Grande do Sul recentemente, as vias fluviais do Estado sofreram assoreamento com o deslocamento de sedimentos e outros materiais. Devido a essa situação, empresas como a Braskem e a Navegação Guarita utilizaram recursos próprios para fazerem dragagens pontuais. O investimento privado para realizar essas iniciativas, em vez de público, é visto pelo diretor-presidente da Associação Hidrovias do Rio Grande do Sul (Hidrovias RS – entidade que representa empresas que utilizam o transporte hidroviário), Wilen Manteli, como um absurdo.
A empresa de celulose CMPC foi outra companhia que resolveu bancar por si só uma dragagem. Mas, como a obra, estimada em cerca de R$ 10 milhões, é no acesso ao seu terminal em Guaíba, o montante precisaria ser desembolsado pela empresa. Porém, no caso da Braskem e da Navegação Guarita, que estão fazendo o desassoreamento do Canal do Furadinho, no Rio Jacuí, essa ação, normalmente, seria de competência da empresa pública Portos RS (vinculada ao governo gaúcho e responsável por administrar o sistema hidroportuário no Rio Grande do Sul).
Manteli salienta que a Braskem decidiu pagar pelo serviço para não aumentar os prejuízos que o assoreamento causou, dificultando a chegada de embarcações no Terminal Santa Clara, situado no Polo Petroquímico de Triunfo. Ele comenta que um navio, há pouco tempo, encalhou três vezes no trajeto entre o complexo e o Porto do Rio Grande. As companhias envolvidas não divulgaram quanto estão gastando nesse trabalho.
Por sua vez, o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, salienta que a decisão da Braskem e da Navegação Guarita foi por efetuar o desassoreamento em um pequeno trecho da hidrovia, para agilizar o processo, antes que uma dragagem de maior porte seja viabilizada com recursos do governo federal. Ele destaca que, diferentemente da Portos RS que precisaria lançar um edital no mercado para contratar uma empresa para fazer o serviço, a iniciativa privada pode escolher quem fará a dragagem, sem tanta burocracia.
Quanto às dragagens rotineiras da hidrovia gaúcha, que precisam ser feitas regularmente, Manteli defende que é necessário ter verbas no orçamento do Estado destinadas a essa finalidade, previstas anualmente. “Precisamos desobstruir todo os caminhos que levam ao porto rio-grandino que é a nossa porta para o comércio internacional”, assinala o diretor-presidente da Hidrovias RS.
Já Klinger comenta que as dragagens usuais da hidrovia gaúcha são, atualmente, arcadas com tarifas cobradas das embarcações que fazem a navegação interior. Ele argumenta que se esse ônus for incluído simplesmente no orçamento do Estado, significaria um incentivo do governo. “Se a gente cada vez colocar mais despesas na conta geral do Estado, será preciso aumentar a arrecadação para poder bancar isso”, frisa o presidente da Portos RS. O dirigente informa que de 1º de julho a 31 de dezembro deste ano os navios estarão isentos dessa cobrança, porque estão sendo aguardados recursos do governo federal para realizar a dragagem geral da hidrovia do Rio Grande do Sul.