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Publicada em 18 de Setembro de 2024 às 20:32

Reconstrução do RS mobiliza empresários, entidades, cidadãos e o poder público

Tragédia resgatou as características de um povo guerreiro, aguerrido e bravo

Tragédia resgatou as características de um povo guerreiro, aguerrido e bravo

TÂNIA MEINERZ/JC
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Loraine Luz
Loraine Luz
Desde maio, não é preciso recorrer aos livros de História - especialmente ao capítulo da Revolução Farroupilha (1835- 1845) - para entender por que motivo virtudes como coragem, valentia, bravura, força, resiliência e resistência estão associadas ao povo gaúcho.
Basta acompanhar as notícias, percorrer ruas, estradas ou cidades inteiras em reconstrução ou perguntar a qualquer brasileiro que assistiu aos desdobramentos de um dos maiores desastres socioambientais do País.
Há quatro meses, a enchente sem precedentes fez com que versos como "sirvam nossas façanhas de modelo à toda Terra", do hino do Estado, e "não tá morto quem peleia", canção de Os Farrapos, rompessem os limites líricos e se enchessem de um sentido renovado, quase palpável, como mantras de encorajamento e esperança.
"Sem dúvida, a tragédia resgatou as características de um povo guerreiro, aguerrido e bravo, que estavam meio latentes", comenta Luiz Henrique Hartmann, vice-presidente do Sindiatacadistas do Rio Grande do Sul. Não há um único segmento básico da economia gaúcha livre dos impactos do desastre.
Cientes do papel de protagonistas nas ações de um Estado que precisava renascer, as entidades representativas de setores importantes não tinham outra escolha que não a de colocar em prática, antes mesmo de ser ouvido, o chamamento que o secretário da Reconstrução do RS, Pedro Capeluppi, repete a cada oportunidade: "a gente precisa da sociedade e das lideranças discutindo as ações que vão ser empreendidas daqui pra frente. A reconstrução não é um papel só do governo do Estado, dos municípios e do governo federal, mas de toda a sociedade. Precisamos estar todos engajados e trabalhando em conjunto para atingir objetivos que são comuns". Antes de parecer um recrutamento, a colocação atesta a complexidade da empreitada.
Enquanto alternam-se as urgências e variam as frentes de batalha na reconstrução, conforme a realidade local de cada segmento econômico, restou apenas uma certeza a todos: a índole diligente e trabalhadora do gaúcho faria a diferença. "Houve empresas que perderam mais de 100 veículos. E outra que perdeu metade de sua frota. São perdas significativas, pesadas. Mas elas seguem firmes no mercado", destaca Francisco Cardoso, presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Rio Grande do Sul (Fetransul).
"O gaúcho ama sua terra e cultura, tem autoestima elevada, isso sabemos. E as tragédias unem as pessoas em solidariedade. Temos confiança em nossa recuperação, por certo", acredita o dirigente.
Para Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do Estado, a capacidade de se recompor é surpreendente porque passa pela mão do empreendedor gaúcho. "É uma questão de atitude de um povo que foi forjado com muita resiliência ao longo da sua história, sempre com muito foco, energia para o trabalho e para construir os seus sonhos. O comércio foi reabrindo, alguns inicialmente apenas por telefone, vendendo seus produtos, outros depois abriram com poucos produtos", exemplifica.
Como presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo teve conhecimento de dezenas de histórias inspiradoras, como supermercados emprestando equipes e equipamentos para o recomeço de antigos concorrentes, além da solidariedade de fornecedores, que garantiram bonificações e extensões de prazos. "O povo gaúcho certamente mostrou seu brio e sua força, seu espírito solidário", resume.
A união e o apoio mútuo explicam a capacidade de resistir e superar os problemas, como pontua Leandro Gindri de Lima, diretor-executivo da Central Sicredi Sul/Sudeste: "vimos, na prática, os princípios do cooperativismo em ação para salvar vidas e ajudar quem mais precisava. O povo gaúcho, historicamente protagonista de suas ações, se mostrou, mais uma vez, solidário e capaz de enfrentar adversidades. Sabemos que o processo de recuperação é longo e demandará o esforço coletivo".
A solidariedade ignorou fronteiras. Brasileiros de diferentes pontos do País têm crédito na injeção de ânimo que a onda de doações promoveu. "Além de reafirmarmos nossa identidade de coragem e valentia, recebemos a comprovação de como somos admirados pelos brasileiros de outros estados", lembra o presidente da Agas.
À frente do Sindiatacadistas, Hartmann também faz referência à importância da ajuda de governos de outros estados e de voluntários, incluindo os que vivem no exterior.
Para Cardoso, da Fetransul, o respaldo sem fronteiras teve mais um componente: "Observei um despertar de consciência sobre nossa contribuição para o sistema federativo do País. Historicamente, contribuímos com muito mais do que retorna para cá. Há uma compreensão de que somos credores de ajuda, por conta de nossa trajetória socioeconômica".
Testemunha da experiência voluntária ativa no varejo, durante este capítulo triste para os gaúchos, Pioner acredita que as pessoas saíram transformadas. "É impossível não mudar se você tiver contato com alguém que perdeu tudo", justifica, fazendo um apelo a quem não viu sua cidade tão afetada ou não se envolveu de alguma forma com a reconstrução: "Espero que possam se envolver agora, que possam ir até esses locais e conversar com quem passou por tudo isso. Que não percam a oportunidade de serem tocados pela empatia e percebam que, quando não temos mais ninguém, descobrimos que temos uns aos outros. Isto é sobre a importância daquele que eu nunca conheci ser vital na minha vida".
 

Para Agas, setor supermercadista está se reconstruindo no Rio Grande do Sul

Entidade deflagrou a campanha Ajuda Sul, mapeando empresas atingidas, conta Longo

Entidade deflagrou a campanha Ajuda Sul, mapeando empresas atingidas, conta Longo

/EVANDRO OLIVEIRA/JC
O setor de supermercados do Rio Grande do Sul superou a crise das enchentes não sem traumas, já que 15% das lojas afetadas pelas cheias não deverão reabrir suas portas, mas com o exemplo da capacidade regenerativa dos gaúchos.
Fundamentais no abastecimento de itens básicos à população, esses estabelecimentos funcionam como termômetro do nível de tensão da sociedade.
A regularização das atividades rapidamente, mesmo diante de muitos gargalos logísticos e estradas fechadas, foi fundamental. Para Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), a Expoagas 2024 marcou a virada de chave para a superação não apenas de supermercados, como de produtores, distribuidores e indústrias ligadas ao varejo. "Com crescimento de 8% nas negociações deste evento, o setor mostrou que está se reconstruindo", afirma, em referência à feira realizada em agosto, mais de 100 dias após o maior desastre climático da história do Estado.
Segundo a entidade, 331 supermercados foram afetados diretamente pela enchente de maio. Para o enfrentamento da crise, a Agas deflagrou a campanha Ajuda Sul, a partir do mapeamento de 661 empresas de diferentes segmentos atingidas pelas cheias.
Associando-se a outras instituições e empresas do setor supermercadista, a entidade esteve envolvida com ações como a fabricação e entrega de 20 casas na região de Arroio do Meio, a aquisição de um drone pelo qual o Corpo de Bombeiros salvou vidas, a doação de mais de 20 mil embalagens para marmitas, 14 mil cestas básicas, 7 mil kits de limpeza e 6 mil cobertores, além de ações pontuais em regiões mais afetadas.

Como forma de apoiar o consumidor e o comércio, a Agas também está promovendo a distribuição de
R$ 1,5 milhão em vale-compras para supermercados sortearem ou distribuírem a clientes.

Segundo Longo, a entidade também se movimenta, junto ao governo, para apoiar empresas que não conseguiram acessar recursos de reconstrução. E ainda há problemas a serem superados. "Os principais são logísticos, com estradas prejudicadas, pontes ainda não reconstruídas", relembra. "O Trensurb parcialmente inoperante e o aeroporto da Capital sem utilização, também. Precisamos reconstruir a malha logística para a reconstrução", conclui.

Fetransul vê um extenso caminho pela frente

Francisco Cardoso cita o Fetransul Solidariedade, grupo que ajudou autoridades

Francisco Cardoso cita o Fetransul Solidariedade, grupo que ajudou autoridades

/TÂNIA MEINERZ/JC
Os níveis de resiliência exigidos estão entre os mais altos para os gaúchos que atuam no segmento de logística e transporte de cargas. Não se reconstrói uma ponte rapidamente, reconhece Francisco Cardoso, presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Rio Grande do Sul (Fetransul). "Sabemos que a recomposição plena da infraestrutura rodoviária obedece a um ritmo diferente, mesmo na condição emergencial. Temos um extenso caminho pela frente", sentencia.
O dirigente afirma que a resiliência também se impõe frente a uma realidade de escassez de crédito para investir na recuperação. "Os fartos recursos anunciados pelo governo federal não ficaram disponíveis para a maioria dos setores, inclusive o nosso. Exigências desmedidas às circunstâncias dificultaram o acesso ao crédito. A restrição à chamada 'mancha de inundação' igualmente desconsiderou a dinamicidade de nossa atividade econômica", observa.
A saída encontrada pelo setor foi se adequar aos ritmos diferentes impostos a cada situação particular, reagindo à medida que os fatos iam se revelando. A expectativa é de que a recomposição plena se dê a médio prazo. Na atualidade, empresas que sofreram perdas materiais estão reconstruindo, renovando, negociando indenizações com as seguradoras. Algumas estavam melhor preparadas do que outras. "Mas não temos conhecimento de organizações que tenham falido ou desistido de continuar", observa.
Um número considerável de transportadoras perdeu veículos e teve seus terminais alagados durante o ápice do desastre climático. Uma das primeiras iniciativas da federação foi criar um grupo, o Fetransul Solidariedade, reunindo as principais lideranças do setor e grandes empresários. Ali eram trocadas informações e combinadas ações de apoio às comunidades. Ao tomarem conhecimento dessa organização, as autoridades passaram a demandar abastecimento de roupas, alimentos, colchões, água etc, inclusive vindos de fora do Estado.
"Realizamos cerca de 3 mil carregamentos de cargas para cidades inundadas. Muitas foram trazidas de outros estados. Tivemos oferta de abastecimento de água mineral até do Piauí. Foi uma imensa logística, toda ela feita em nome da solidariedade", recorda Cardoso.
A entidade, por meio de uma equipe em home office, também centralizou informações sobre bloqueios de rodovias, servindo de referência para a imprensa informar sobre a ameaça de falta de abastecimento. "Uns 45 dias após o início da enchente, saímos da etapa da solidariedade no abastecimento das comunidades e passamos a nos engajar em ações públicas com as demais entidades empresariais, com o meio político e os governos federal e estadual. Passamos a integrar comitês públicos de reconstrução. Continuaremos nesta linha para dar voz ao setor perante as autoridades", afirma o dirigente.

Cada história de retomada no Estado é única no dia a dia da cooperativa Sicredi

Leandro Gindri de Lima e Márcio Port, do Sicredi, estiveram no JC

Leandro Gindri de Lima e Márcio Port, do Sicredi, estiveram no JC

/EVANDRO OLIVEIRA/JC
Poucos segmentos da economia puderam testemunhar tão de perto como a Sicredi pôde a variedade de facetas de uma das virtudes mais associadas ao povo gaúcho: a coragem - no caso, para recomeçar. "Cada história de retomada é única e tem seu peso e valor. Temos muitos relatos de superação, tanto de empresas como de pessoas", afirma Leandro Gindri de Lima, diretor-executivo da Central Sicredi Sul/Sudeste.
A cooperativa Sicredi está presente em 97% do Estado, com mais de 680 agências. Do total de associados nas localidades atingidas, cerca de 1,5 milhão são pessoas físicas, 230 mil são associados pessoas jurídica e 270 mil são produtores rurais do Rio Grande do Sul.
Com relação às linhas de crédito emergenciais do governo federal, a instituição, como entidade repassadora, já liberou mais de R$ 1,5 bilhão para associados. "Buscamos apoiar da forma mais ampla possível e não somente fazer os recursos financeiros emergenciais chegarem aos associados", observa o diretor-executivo da instituição.
Próprio ou em parcerias, 16 centros de arrecadação e distribuição de donativos foram instalados em mais de 10 cidades para auxiliar colaboradores e suas famílias, associados e comunidades. As ações conseguiram juntar quase 700 toneladas de doações.
O Sicredi também arrecadou recursos por meio de campanha nacional, que somaram mais de R$ 20 milhões, destinados à compra de recursos e mantimentos. É da essência do cooperativismo que suas organizações surjam para melhorar as condições de vida de uma comunidade, especialmente em momentos críticos.
Só que, neste caso, o próprio Sicredi estava entre os atingidos. Durante as cheias, 89 agências acabaram diretamente impactadas e, enquanto se reconstruíam, mantiveram o atendimento aos associados, atuaram no apoio aos resgates, na arrecadação e na entrega de donativos.

Consumo do varejo local vira bandeira

Pioner destaca que dinheiro precisa gerar riquezas nas cidades gaúchas

Pioner destaca que dinheiro precisa gerar riquezas nas cidades gaúchas

/EVANDRO OLIVEIRA/JC
Estão nas regiões devastadas pelas chuvas de final de abril e de maio alguns dos maiores exemplos da resistência do povo gaúcho, como na cidade de Sinimbu, na região dos vales do Rio Pardinho. A lembrança é trazida pelo presidente da Federação Varejista do Estado, Ivonei Pioner, que recentemente visitou o local. As águas destruíram 100% do negócio de uma família, que tinha duas lojas e precisou recomeçar do zero. Hoje, ter conseguido reabrir uma delas é uma vitória.
"A cidade ficou incomunicável, e as pessoas, sem comida. Essa empresa usou os poucos recursos que ainda tinha para conseguir alimento para todos. A família proprietária tinha uma casa num lugar um pouco mais alto e chegou a abrigar algumas pessoas durante as cheias", explica Pioner.
Segundo ele, o caso ilustra como a capacidade de reação foi além dos limites do negócio. "Mostra o entendimento das pessoas enquanto parte de uma cidade, e a força e coragem de começar de novo sem esquecer de ajudar os demais. É exemplo para todos."
Mais de quatro meses depois do início da tragédia, a federação contabiliza ainda 3 mil empreendimentos de portas fechadas. Segundo o dirigente, não se trata de apenas reconstruir, mas de revisar a localização dos pontos comerciais. "Há lugares sem condições de receber famílias e empreendimentos", destaca.
As áreas de risco precisam ser identificadas para impedir novos negócios ali. A Federação está envolvida, ainda, com a entrega de novo mobiliário e a aquisição de computadores para estabelecimentos que perderam tudo. "Também é interessante aproveitarmos para repensar nosso negócio, porque muitas vezes essa é a chance que está sendo posta para nos reinventarmos", alerta.
Desde os primeiros momentos do desastre, a entidade se comprometeu com diferentes campanhas. O Reergue RS coletou donativos às famílias atingidas, além de recursos e contribuições via Pix para auxiliar o comércio através das CDLs. Já o Movimento pelo RS é uma parceria firmada com a Stock Car para arrecadar doações em todas as etapas do campeonato, além de arrecadações em dinheiro.
Outro aporte financeiro, por meio de movimentos da CNDL e do SPC Brasil, com o Sicredi dobrando valor, também é citado por Pioner. Além disso, permanece em foco a importância de incentivar o consumo de produtos gaúchos. "Quando a Federação precisa adquirir algo para uma cidade que está ajudando, compramos do comércio local. Nosso dinheiro precisa gerar riqueza nas nossas cidades, então, seguimos empenhados nessa promoção para que as pessoas comprem do varejo local, de empresas gaúchas, fazendo girar a economia na cidade, porque isso vai dar perpetuidade aos negócios", conclui.

Com esforço e união, Sindiatacadistas relata recomposição acima da expectativa

Hartmann comenta que setor teve de fazer série de alterações em rotinas de trabalho

Hartmann comenta que setor teve de fazer série de alterações em rotinas de trabalho

/MARCO QUINTANA/JC
Sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra. Este verso do Hino Rio-grandense ilustra com propriedade cenas testemunhadas no universo atacadista do Estado. "O que mais impressionou foi o esforço e a união do empresário e suas equipes de colaboradores, buscando colocar o negócio novamente em operação, envolvendo desde a mobilização para a limpeza", afirma Luiz Henrique Hartmann, vice-presidente do Sindiatacadistas RS.
Segundo o dirigente, sem esse engajamento espontâneo, nada seria possível, porque até um mês após o ápice do desastre vários atacadistas enfrentavam problemas sérios, mesmo com a baixa das águas, como falta de internet e de energia elétrica, impedindo a emissão de notas fiscais. "A capacidade de recomposição do segmento está acima da expectativa, mas foi difícil, e ainda temos associados que estão sofrendo consequências bastante significativas", observa.
O dirigente se refere, especialmente, às dificuldades de logística e à necessidade de recursos financeiros a custos baixos e prazos estendidos para que a capacidade de operação retorne aos seus patamares. "As linhas de financiamento oferecidas pelo governo, na prática, nem sempre chegam a quem necessita de fato", afirma. Por isso, é prioridade na entidade buscar junto ao BNDES e agentes financiadores melhores condições. Em julho, o presidente da entidade, Zildo De Marchi, projetou que de 40% a 50% das empresas tiveram algum prejuízo, direto ou indireto.
Outro ponto-chave, as relações de trabalho precisavam de todo um reordenamento. As sete entidades sindicais empresariais do comércio atacadista se anteciparam ao governo federal e adotaram regras que buscassem atender as diversas situações enfrentadas por empregados e empresários por meio de acordo com sindicatos laborais.

'Quem viveu esta tragédia sabe o quão desafiador foi', afirma o CEO da Lojas Renner

Fabio Faccio lembra que Renner assumiu protagonismo em ações emergenciais

Fabio Faccio lembra que Renner assumiu protagonismo em ações emergenciais

/RENNER/DIVULGAÇÃO/JC
Que seria preciso força para reconstruir o Estado, qualquer um poderia supor ao perceber as dimensões da catástrofe climática. Mas o gaúcho deu provas de sua reação enérgica antes mesmo dessa etapa de reparação. O vigor do povo começou com uma onda de solidariedade tão intensa quanto o próprio desastre, servindo de inspiração e motivação. Uma das empresas do Estado mais atentas a essa contrapartida empática e sensível a esse contágio do bem foi a Renner.
"Agimos com rapidez para antecipar movimentos que dessem segurança e tranquilidade às pessoas afetadas e criassem condições para que as demais, se assim desejassem, pudessem se engajar de alguma forma. Um exemplo disso foram aqueles que perderam praticamente tudo e, ainda assim, encontraram forças e dedicaram seu tempo para ajudar o próximo", observa o CEO da Lojas Renner, Fabio Faccio. "Foi lindo ver a solidariedade se fortalecendo no momento mais crítico, e isso resgata a esperança na humanidade. Foi inspirador e emocionante. Quando você vê isso, encontra ainda mais estímulo para continuar", completa Faccio.
Do ponto de vista de operação, a empresa foi pouco impactada. Não teve prejuízo material e manteve o abastecimento de lojas porque não há centros de distribuição no Estado. Como marca local, identificada com o Rio Grande do Sul, logo a Renner assumiu um protagonismo em ações emergenciais, viabilizando resgates de vítimas, fazendo doações, promovendo voluntariado e dando assistência via Instituto Lojas Renner.
"Precisávamos fazer tudo o que estava ao nosso alcance para apoiar aqueles que haviam sido mais diretamente afetados, nos nossos times e fornecedores, além da população em geral", argumenta o CEO da Renner.

Piratini aposta no Plano Rio Grande para reconstrução

 Eixo emergencial: há pelo menos 53 projetos de curto prazo exibidos na plataforma do plano.
 No início de setembro, quatro meses depois da calamidade, foi liberado o segundo lote de restituição do Devolve ICMS Linha Branca. O programa reembolsa o valor do imposto pago pelos cidadãos na compra de geladeiras, fogões e lava-roupas. Esta segunda rodada contempla 18,1 mil beneficiados.
 O Estado ampliou, em agosto, sua participação no programa do governo federal Minha Casa Minha Vida, liberando R$ 12 milhões para a construção de 600 moradias para agricultores atingidos pelas enchentes de setembro de 2023 no Vale do Taquari.
 Até agosto, R$ 14,7 milhões foram destinados à recuperação da Rodoviária de Porto Alegre. Uma reforma elétrica, além da pintura e de reparos nas áreas de embarque e desembarque interestadual e intermunicipal ainda dependem da contratação de empresa executora.

 O Estado realizou, no início de setembro, o pagamento do segundo lote do Aluguel Social e da Estadia Solidária, no valor de R$ 1.250.400. Os recursos foram repassados aos fundos de assistência social de 17 municípios. São 521 famílias beneficiadas com
R$ 2.400, que correspondem a R$ 400 pelo período de seis meses.

 No início de setembro, foi contratada a empresa Água e Solo Estudos e Projetos para execução de serviços técnicos na rede de monitoramento hidrometeorológico. O contrato, no valor de
R$ 1,2 milhão e com duração de 16 meses, inclui diagnóstico, recuperação e manutenção das estações de monitoramento danificadas por eventos extremos como a enchente de maio.

 O quarto pagamento emergencial a escolas estaduais gravemente afetadas pela enchente, no valor de R$ 4,7 milhões, foi repassado no início de setembro a 83 instituições. Desde junho, mais de R$ 55 milhões foram investidos em recursos adicionais para que as escolas atingidas pudessem realizar pequenos reparos e adquirir materiais e mobiliário.
 Estado e Banrisul anunciaram em julho uma linha de crédito especial, com juros subsidiados, para apoiar a retomada de MEIs, microempresas e negócios de pequeno porte afetados pelas enchentes. O chamado Pronampe Gaúcho disponibiliza R$ 250 milhões em financiamentos, dos quais 40% (R$ 100 milhões) serão subvencionados pelo Estado. Também em julho, o anúncio do MEI RS Calamidades destinaria até R$ 96 milhões para cerca de 22 mil para microempreendedores individuais não beneficiados previamente por outro programa do governo estadual.
 Eixo reconstrução: há pelo menos 15 projetos listados na plataforma identificados como de médio prazo.
 O programa Porta de Entrada foi anunciado no início de setembro e possibilita que famílias com renda de até cinco salários mínimos possam receber auxílio para o pagamento da entrada na compra de um imóvel. Serão investidos R$ 70 milhões. Para outubro está previsto o Feirão da Habitação, com o objetivo de viabilizar a compra de 3.500 imóveis através do programa.
 O governo oficializou no início de setembro que Imóveis públicos estaduais serão utilizados para reduzir o déficit de habitação. O Programa de Gestão de Imóveis Públicos para Habitação e Interesse Social tem três eixos de atuação: retrofit em imóveis públicos, permuta por área construída e destinação de receitas de alienações.
 Identificado como projeto estruturante em andamento, o PPP (Parceria Público-Privada) Escolar prevê a requalificação da infraestrutura escolar de 99 escolas. No início de agosto, uma audiência pública apresentou o funcionamento da PPP a professores, diretores de escola, representantes de entidades sindicais e estudantes. Após a catástrofe de maio, das 2.338 escolas, 21 foram classificadas com alto grau de impacto, sendo necessária a sua reconstrução. Também foi aprovada a construção de duas novas escolas em Capão da Canoa e Porto Alegre.
 Outro projeto classificado como estruturante diz respeito à reconstrução de pontes em rodovias estaduais severamente atingidas pela calamidade. Entre as ações mais recentes, datadas de agosto, está a ordem de início da construção de uma nova ponte na VRS-843, em Feliz, com previsão de conclusão para o segundo semestre do ano que vem. Outras sete estruturas de responsabilidade do Daer e uma da EGR estão em obras.
 O projeto A Casa é Sua - Calamidades, voltado para o Vale do Taquari, prevê a construção de 2.500 unidades habitacionais definitivas para as famílias que perderam residências no ciclone de setembro de 2023. Mas o que há de recente para a região, até agora, é a entrega de 28 moradias temporárias em Cruzeiro do Sul, no início de setembro. No final de agosto, o governador entregou 30 unidades do mesmo tipo para famílias de Encantado. No início de setembro, foi assinado o decreto que autoriza desapropriações em Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul e Roca Sales, visando à implementação de loteamentos habitacionais de interesse social destinados às vítimas da calamidade pública.
 Eixo Rio Grande do Sul do futuro: há quase 40 ideias listadas na plataforma identificadas como de longo prazo. Eis alguns desses projetos:
 Em planejamento, por exemplo, estão: universalização de água e esgoto; revisão dos planos municipais de drenagem urbana por meio de incentivos e apoio técnico; levantamento Batimétrico na Região Hidrográfica da Bacia do Guaíba, Litorâneas e Bacia do Uruguai; Sistema de proteção de cheias (para Taquari-Antas, Caí, Guaíba, Arroio Feijó, Jacuí); Centro de Referência Internacional em Estudos Climáticos (CRIAC).
 Entres os apontados como "em andamento" com notícia mais recente está o que diz respeito ao desassoreamento de rios. No final de julho, o governo lançou o primeiro edital do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA) e o Programa de Desassoreamento, além do chamamento de 56 novos servidores da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
 Também em andamento, mas sem apresentar detalhamentos, estão projetos como: "Incentivos à retomada", "Reconversão econômica", Estudos de clusters, Revisão dos Planos Diretores (Muçum, Roca Sales, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Colinas, Encantado e Estrela), Atração e manutenção de talentos, Sistema de proteção de cheias - Gravataí, Sistema de proteção de cheias - Sinos.
 Entre os projetos com status "não iniciados", estão: estudo de backup do serviço elétrico (estruturação de uma rede resiliente de backup em momentos de crise) e seguros para empreendimentos em áreas de risco.
 Desde meados de agosto, está acessível uma área no Portal da Transparência do Estado dedicada ao detalhamento dos gastos do Rio Grande do Sul com a reconstrução após a calamidade pública decorrente da enchente de maio. Os dados totais de saldos e despesas já pagas pelos órgãos também são desdobrados conforme temas de interesse - como as despesas do Volta por Cima e do Fundo Estadual de Defesa Civil (Fundec), além dos recursos do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs). Confira em https://www.transparencia.rs.gov.br/despesas/calamidade-publica/ 

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